Criatividade: Inspiração ou técnica? Ou os dois?
A fórmula da criatividade sugere que você aprenda a gostar de problemas e a conviver com eles. Assim Problema é igual a Solução mais Criatividade que é igual a Novo Problema(Pr=S+Cr=NPr). Aí você pergunta: A criatividade não existe para solucionar problemas? Sim, existe para isso. Mas nada definitivamente. Por isso, para quem ganha a vida fabricando idéias, o problema é a razão de tudo o que é criativo.
Preparação, incubação, iluminação, verificação e implantação são fases mais do que conhecidas no processo criativo e mostram que a criatividade é mais técnica e pressão do que inspiração. Muitos acreditam que olhar para a lua, ver estrelas, desviar-se do problema, buscar a inspiração é trazer a solução do problema por osmose. É quase isso. Antes de chegar à fase da busca da inspiração, você já observou o problema, preparou-se para conhecê-lo, jogou-o para dentro do cérebro e desligou. Nesse momento, a maioria das pessoa já saiu do problema e deixou o cérebro trabalhando. É aí que as estrelas, a lua, uma cervejinha e tudo que possa desviar a atenção do problema principal são importantes. O problema está incubado e a inspiração busca a iluminação, a boa idéia. Ravel e Debussy odiavam trocar idéias sobre música: em geral suas discussões eram sobre gravatas. Aliás, as verdadeiras boas idéias são as mais simples. Não as simples idéias, mas as idéias mais simples de fazer.
Oscar Niemeyer explicou a criação de Brasília num folheto de vinte páginas. O complexo não é criativo e o pronto está acabado. Quando perguntaram a Faulkner como ele escrevia, o homem esclareceu: “Da direita para a esquerda”. Aquilo que está acabado está morto e definitivamente enterrado. Willian Bernbach, da DDB, uma das agências mais criativas do mundo, dizia que “uma girafa era um cavalo saído de uma reunião de brainstorm”. Para ele, equipe alguma jamais criou coisa alguma. Equipes são muito boas para executar. Ainda segundo ele: “Nunca se gerou uma única idéia, senão em um único cérebro”. É por isso que você sempre terá um novo problema pela frente e que um dia irá precisar de criatividade ou de pessoas criativas para melhorá-lo.
A história confirma que os não especialistas são aqueles que possuem a maior dose de criatividade. Os criativos são inteligentes, complicados, eventualmente neuróticos, todos portadores de ótima veia de humor, capazes de suportar pressões, inconformistas e autoconfiantes.
Alex Osborne, aparentemente o sujeito que mais pesquisou e escreveu sobre criatividade, lembra que muitas das grandes idéias novas partiram de pessoas que não possuíam conhecimento especializado do problema em causa. Por exemplo: Morse, pintor profissional de retratos, inventou o Telégrafo. Fulton, também artista, imaginou o barco a vapor. Um mestre-escola, Eli Whitney, criou o descaroçador de algodão.
Alguns dizem que criatividade é dom. E é. Mas nada impede que as pessoas possam aplicar a fórmula e encontrar soluções brilhantes. Todos somos criativos, e a criatividade não está limitada apenas às agências de propaganda. Este é um dos lugares onde ela é mais difundida. Outros acreditam que os criativos são seres supremos que dificilmente servem para alguma coisa que não seja criar. Ledo engano. Pasteur formou-se com nota medíocre em Química; Einstein foi reprovado na Academia Politécnica; Darwin não conseguiu entrar na Faculdade de Medicina de Cambridge e Thomas Edson “era um garoto confuso da cabeça, que não conseguia aprender”. Esta frase foi dita por ninguém menos que o reverendo Engle, professor da única sala de aula da cidadezinha de Milan, no estado americano de Ohio. Beethoven também foi enquadrado dessa forma. Segundo seu professor de música “ele não tinha futuro como compositor”. Outro professor, Erasmos Wilson da Universidade de Oxford, disse certa vez que quando a exposição de Paris fechasse, “ninguém mais iria ouvir falar de energia elétrica”. Felizmente ninguém acreditou nisso. Gênios ? Não. A prosperidade os esconde e a adversidade os revela. É a pressão, o ingrediente absolutamente necessário para aflorar a criatividade. O problema gera a solução, a criatividade gera uma nova forma de fazer. É a transformação do problema em um novo problema. Sempre nessa ordem.
O verdadeiro homem criativo produz soluções magníficas, geralmente sob encomenda e debaixo de toda sorte de exigências, da contingência da pressão e dos prazos(que o digam os jornalistas e os profissionais de comunicação). “Minhas invenções”, dizia Thomas Edison, “são fruto de 1% de inspiração e 99% de transpiração”. Sarasate, compositor, disse certa vez indignado: “Durante 27 anos pratiquei 14 horas por dia e agora eles me chamam de gênio”. Um dos casos mais típicos de criatividade sob pressão aconteceu com Arquimedes. Incubido pelo Rei de Siracusa, Hierão, de comprovar a composição de ouro de uma coroa, Arquimedes pensou durante meses em busca da solução, e eis que, finalmente viu durante o banho a água da banheira transbordar com o volume de seu corpo. Incontinenti, saltou da banheira e correu nu pela casa, gritando “Eureka, eureka”, que no seu idioma quer dizer – descobri.
Costumo dizer que gostar de resolver problemas é a base da verdadeira criatividade. Um vendedor americano, cujo primeiro nome era King, desejava ardentemente assegurar o futuro da sua família. Seu patrão lhe dissera, mais de uma vez, que ele deveria vender uma coisa que as pessoas usassem e jogassem fora. Um dia, enquanto se barbeava com a navalha de aço e pensava nas palavras do patrão, prestando subitamente atenção ao desempenho da navalha, virou-se para a esposa e disse: “Consegui, mulher! Nosso futuro está assegurado”! Este homem chamava-se King Gillete.
Na música, a regra não escapava a exceção. Bach nunca escreveu para exprimir-se, ao contrário, só compunha por encomenda, para fins litúrgicos, para a corte e o ensino. Haendel, homem do grande mundo aristocrático, empresário sempre envolvido em arriscadas operações financeiras, quando estava com seu último tostão, isolou-se em seu estúdio por 21 dias, saindo de lá com a partitura completa do “Messiah” – o famoso Messias de Haendel. Era capaz, sempre, de compor na hora certa, talvez principalmente quando esta hora fosse a última antes da bancarrota financeira. Incidentalmente, o “Messias” deu-lhe imenso lucro, possibilitando-lhe ajudar várias instituições caritativas e eclesiásticas, além dele próprio.
Haydn, aos 27 anos, aceitou o cargo de Diretor da Capela do Palácio do Príncipe Nicolau Esterhasy, conseguiu com isso segurança econômica, passando então a produzir sem parar obras e mais obras, mais de oitocentas, entre as quais 127 sinfonias para entidades musicais em Paris e Londres. O Príncipe obrigava Haydn a compor num ritmo furioso, para “quebrar as pernas do tempo”, como ele mesmo dizia. Nicolau, o Príncipe, tocava barítono muito bem, isso fez com que Haydn escrevesse duzentas peças só para esse instrumento.
O magnífico Wolfgang Amadeus Mozart, assim como Bach e Haydn, compunha sem rasuras. Tudo era criado instantaneamente, sem correções, graças a uma inesgotável criatividade. Tamanha rapidez permitiu a Mozart compor a abertura de “Dom Giovanni” algumas horas antes da estréia da ópera, a ponto dos músicos da orquestra receberem as cópias ainda em tinta fresca. Mozart compunha com vários tinteiros coloridos. Ora mergulhava num , ora em outro. Quando a folha de papel se enchia, ele a jogava debochadamente no chão para que o criado a apanhasse. Sem nenhum esforço, escreveu cinco sinfonias geniais, totalmente diferentes entre si, num intervalo de poucas semanas. Beethoven, outro gênio criativo, apaixonou-se por Napoleão e compôs a Terceira Sinfonia, Heróica. Imaginou ouvir o destino bater à sua porta e compôs a Quinta Sinfonia. Inspirou-se nos regatos, na tempestade de verão e no canto dos pássaros e compôs a Sexta. Estas duas últimas quase surdo.
Ser criativo não é tão complicado assim. Primeiro é necessário desgarrar-se de teses e convenções, depois aprender a perguntar, questionar, enfim exercitar sua criticidade. Acreditar sempre que pode fazer melhor do que faz hoje. Se o dom não permite ser um Mozart ou Thomas Edison, não se acanhe. A informação e a observação são as principais ferramentas do homem criativo, seja ele artista, empresário, técnico ou especialista. Leia jornal todo dia, assista tv, leia revista, escute música, vá ao cinema e ao teatro. Viaje sempre que possível(quanto mais longe melhor). Tenha hobbies e outros interesses, quaisquer que sejam, sempre fora da sua área de trabalho. Pergunte a respeito de tudo e acima de tudo: fale o menos possível no seu trabalho, mas não perca os problemas de vista. Nos tempos modernos, você valerá mais pelo que pode fazer do que apenas pelo que sabe.