Diário do Nordeste: Ceará tem a 5ª maior frota de motos
Esses dados são referentes a junho de 2012. Em primeiro lugar, São Paulo com 3,7 milhões desses veículos; em segundo está Minas Gerais, com 1,9 milhão; seguido pelo Paraná, com 949,4 mil e Rio Grande do Sul, com 900,6 mil motocicletas. Nas regiões Norte e Nordeste, o Ceará é líder. Em segundo lugar vem a Bahia, com 860,2 mil motos; Pernambuco, com 718,9 mil; Maranhão possui 490,9 mil e o Pará, com 471 mil.
Da frota total no Estado, Fortaleza contabiliza 195, 5 mil desse meio de transporte, enquanto o Interior registra a maior parte: 689,2 mil. Número maior do que a de carros particulares, que chega a 298,3 mil.
São tantas as motos que, divididas pelo número de municípios interioranos, dá uma média de 31 mil motos por cidade. A média é maior do que o total de habitantes de algumas.
O superintendente do Departamento Estadual de Trânsito no Ceará (Detran-CE), engenheiro Francisco Julio Dias Cavalcanti, afirma que é “uma revolução cultural”. Segundo ele, quem percorre as sedes dos municípios do Interior constata essa possibilidade de mudança de costumes entre os cearenses. “Além dos homens que trocaram a montaria em cavalo, burro e jumento, pela motocicleta, as mulheres aderiram em massa ao veículo motorizado de duas rodas”, diz.
O avanço da frota preocupa o Ministério Público Estadual (MPE), não pelo número em si, mas em razão de os não habilitados serem maioria, principalmente no Interior. O titular no Núcleo de Atuação Especial de Controle, Fiscalização e Acompanhamento de Políticas Públicas do Trânsito (Naetran), promotor Gilvan Melo, chama atenção para a falta de fiscalização e, com essa facilidade, o número de motociclistas sem carteira de habilitação chega a ser um absurdo. “É preciso maior rigor, o que não acontece”, afirma.
Municípios
Segundo dados do Detran-CE, o total de habilitados nas categorias A, AB, AC, AD e AE é de 643,5 mil. Fortaleza soma 250,2 mil, enquanto o restante dos municípios registra 393,2 mil. Ou seja, bem inferior à frota de motos. “O pessoal compra com facilidade de crédito e pagamentos a perder de vista e a fiscalização é cada dia pior e mais fraca”, frisa Gilvan Melo.
O superintendente do Detran reconhece o problema. O uso da bicicleta no Interior, analisa, que era um hábito comum e saudável de adultos e jovens, também foi deixado de lado. As pessoas atualmente querem conduzir motocicletas ou bicicletas motorizadas. “Uma pena que a mudança de costumes tenha trazido junto questões negativas: a maioria não está habilitada; muitos não usam o capacete e muitos cometem imprudência”.
O resultado disso são os acidentes. Nos últimos nove anos, o número de atendimentos de vítimas de acidentes de moto no Instituto José Frota (IJF) aumentou quase 1.000%, segundo dados do hospital. Em 2011, um total de 7985 pessoas sofreu acidentes com motos. Em 72% dos casos, o acidentado apresenta invalidez permanente.
A falta de atenção e imprudência levaram José Ferreira, 22 anos, para a enfermaria do IJF. O álcool contribuiu para que o caminho até uma festa na noite de Natal do ano passado fosse interrompido por um acidente de moto.
Ele quebrou a perna e teve o intestino e a bexiga perfurados, mas os médicos estão confiantes de que ele não vai ficar com sequelas. Na enfermaria ao lado, outro com caso parecido. O estudante Pedro da Silva, de Quixadá, sofreu, em meados de junho, um acidente de moto. Isso vai deixá-lo, pelo menos, três meses na cama do hospital. “Esperando a boa vontade do tempo para ficar bom”, reclama.
Maioria dirige sem obter habilitação
O superintendente do Detran-CE, Julio Cavalcanti, informou que o número de condutores de motocicleta no Interior sem habilitação – categoria A – é quase o dobro do número de motos licenciadas pelo Detran. Ele lembra que houve uma redução nessa diferença com os 50 mil novos condutores de motocicleta que obtiveram de forma gratuita a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) por meio do Programa Carteira de Motorista Popular, criado pelo Governo do Estado, por meio de um projeto aprovado pela Assembleia.
Semanalmente, equipes de fiscalização do Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE) fazem autuação de condutores não habilitados FOTO: RODRIGO CARVALHO
Mesmo assim, semanalmente, equipes de fiscalização do órgão estadual fazem autuação de condutores não habilitados nas vias públicas municipais e estaduais. “Há semanas que chegam a 300 condutores e há semanas com o registro de 150 não habilitados”, ressalta o gestor.
Além disso, de acordo com informações registradas pela Polícia Rodoviária Estadual (PRE), a causa mais frequente de acidentes é o não uso do capacete. As motos representam 70,5% dos veículos apreendidos, neste ano, pela PRE.
Pessoas sem habilitação e veículos não licenciados são os principais motivos que preocupam órgãos de trânsito, principalmente nos feriados. Nos primeiros três meses deste ano, a Polícia Rodoviária Estadual apreendeu 4.008 veículos nos postos e blitze no Ceará. Uma média de 1.336 por mês e 44,53 por dia.
Parceria
No entanto, o MPE quer mais rigor. Por isso, o promotor Gilvan Melo cobra do Detran o cumprimento de parceria realizada com a Prefeitura, via Autarquia Municipal de Trânsito, Serviços Públicos e de Cidadania de Fortaleza (AMC). Segundo o acordo, caberia ao Detran fazer a fiscalização em vias estaduais da Capital, como a Washington Soares. “Eles assinaram a parceria e isso nunca saiu do papel. A AMC não cobra e o Detran não faz”, frisa.
LÊDA GONÇALVES
REPÓRTER