Teste BMW R nineT por Motonline
“R-Ninety”, o som desse nome tem força. “Ninety” ou noventa, que é o nome para fazer referência às BMW R 90 S de dois tons, dos anos 70. Aquela com pintura esfumaçada no tanque e na pequena carenagem que incorporava o farol. A mais clássica das BMW, com 900cc reaparece daqueles anos para lhe dar esse nome, mas com nova grafia. BMW R nineT. Ela foi feita para você customizar, deixá-la do seu jeito.
E ela pode vir em qualquer cor, desde que seja preta – Opa, quem disse isso foi Henry Ford quando perguntado por que o modelo T só tinha aquela cor – Desde então se diz isso de todos os modelos que são vendidos nessa única cor.
Principais acessórios para personalização
Mas a nineT tem qualidades que vão muito além de uma clássica, “vintage” ou “retrô”. Ela tem personalidade, com a aparência minimalista dos anos 70, tem ABS nos freios e um motor, chassi, suspensão, enfim tudo bem atual, para ninguém botar defeito. Um 1200 cc com 110 hp em 7.500 rpm e torque para esbanjar: 12,13 kgf.m a meros 6.000 rpm. Tudo isso mostra como essa moto, com apenas 220 kg, pronta para andar, pode ser esportiva. O estilo clássico alemão, com os dois cilindros do motor boxer aparentes, a traseira mínima com o banco super fino que assusta bem um eventual garupa, faz da nineT uma opção interessante para o motociclista que quer mais do que uma clássica personalizável. Quer uma moto de performance, que seja capaz de grandes viagens e proporcionar muita diversão na pilotagem. E para tanto ela faz uso do combustível, o consumo no teste ficou entre 15,81 e 16,60 km/litro
Ela é assim: tem todas as características de uma moto contemporânea, no visual agradável dos anos 70. Começando pelo painel, de dois instrumentos analógicos, um velocímetro e um tacômetro com luzes espia pelo meio, juntamente com um display de cristal que presta as informações de consumo e distâncias percorridas. Apenas deixa a desejar um marcador de combustível, você só vai saber que entrou na reserva ao acender a luz de advertência, tem que ficar esperto na quilometragem percorrida. Acima de 200 km com um tanque deve-se observar as distâncias para evitar a pane seca. Apesar da boa reserva (3 litros).
A pegada do guidão é imponente, você sente a largura com os braços levemente abertos e o tronco um pouco adiantado à frente. Quase uma café racer que por causa da largura lhe deixa com o tronco levemente inclinado à frente. Não chega a pressionar as mãos e em relação às pernas a posição é bem conservadora, confortável mesmo. Com a baixa altura do banco e a natureza relativamente esportiva do chassi as pedaleiras são um pouco avançadas, deixando as pernas um pouco flexionadas demais, principalmente aos motociclistas de maior estatura.
Ao dar a partida o balanço do boxer se mostra imponente. Típica clássica alemã, tem que balançar de lado ao dar a partida e ao acelerar. Arrancando, a moto dá aquela torcida de lado. Está certo, então vamos andar com a clássica alemã e deixá-la exprimir a sua “linguagem corporal”. Arranca bem, mostra ainda essa pequena torcida de lado, que passa pela suspensão Paralever ao acelerar, tipicamente BMW das antigas.
Mas como você já sabe do que se trata deixa-a com suas manias ou trejeitos. O motociclista clássico de BMW sabe que essas manias são decorrentes das massas em rotação no eixo longitudinal e que nada mais do que esses pequenos balanços acontecem. A vida segue normalmente, sem mais problemas. É a característica da motocicleta alemã, que nas modernas foi quase que totalmente eliminada, com o cuidadoso balanceamento de eixos que viram em sentido contrário, cancelando um ao outro os momentos de torque, que nas clássicas provocavam o famoso balanço de lado. Pilotos BMW de competição diziam que a técnica de curvas para direita e esquerda com as famosas boxers clássicas eram diferentes, quem não estava acostumado fatalmente caia, virava bem para um lado mas para o outro, ao acelerar na saída da curva, raspava tudo. A nineT reedita o balanço das BMW numa medida que apenas se faz presente, sem nenhuma consequência prática na pilotagem, apenas revive o mito, muito interessante.
Freios poderosos, respostas rápidas do ABS lhe deixa aplicar os freios com precisão e modular os “brembos” dianteiros é muito fácil e preciso, apesar de um pequeno peso adicional no manete. A suspensão invertida na frente trabalha muito bem, desassociada da traseira que tem o Paralever fazendo com que o arco que a balança percorra seja muito maior do que o braço dela. A traseira então tem um comportamento neutro, como nas grandes GS, mas em relação à frente a pilotagem é convencional. Você se adianta para pressionar o pneu e diminuir a distância entre eixos para entrar na curva com mais precisão. Pilotagem clássica em relação à ciclística também, mas falta-lhe os controles de tração e calibração de suspensão eletrônicos.
Andando nela se repara como a ciclística é neutra. Apesar dos pequenos balanços observados pela reação ao torque do motor você pode confiar que ela vai onde você a aponta. E nas curvas, a estabilidade é muito bem controlada pela suspensão: Paralever na traseira e invertida na dianteira, de forma que a característica na pilotagem é também tradicional, diferente das atuais Telelever, presentes nas R 1200 GSque praticamente não alteram a distância entre eixos com o acionamento da suspensão.
Manualmente podem ser feitos ajustes na traseira. Começamos o teste e verificamos a mola traseira toda relaxada (pré carga mínima) e ainda assim a moto se mostrava dura, penalizando os rins de quem andava nela. Passamos uma volta a menos no ajuste de compressão. Melhorou, e então demos mais uma volta, ficou bom. Resultou que pudemos até avançar um pouco na pré carga, pois o alívio da compressão fez com que o sag aumentasse bastante, a traseira ficou mais baixa. Parece que houve algum reajuste na unidade testada, feito por alguma revista ou site em outro teste que não foi retornado pelo fabricante, para a posição original. É que temos a sorte de ter exatamente o peso utilizado pelas fábricas para a calibração das suspensões das motos com o padrão na casa dos 80 a 85 kg. Então se a calibração não bater no nosso teste, alguma coisa está errada. Assim se mostrou na calibração da nineT: uma moto bem calibrada nos seus valores centrais de ajuste de suspensão. É preciso saber por onde alterar quando não há ajuste eletrônico, como no caso da suspensão ESA, com controle de tração ASC das R 1200 GS mais recentes.
Com essa observação, a tocada se tornou neutra e mais ágil, proporcionando boa resposta da suspensão traseira quanto a absorção dos impactos, muito presentes, mas com pouca repercussão na pilotagem. As características do Paralever traseiro é bem atual, mas apenas surge como uma lembrança dos “velhos tempos”, em relação aos balanços laterais.
A BMW R nineT é uma moto Clássica, no estilo retrô que traz características muito atuais na pilotagem, na performance do conjunto que resulta em um bom aproveitamento para uso urbano e em pequenas viagens. O preço médio é de R$ 61.500,00 (FIPE, Nov-2015).