Os anos sessenta, a tecnologia e a 'Década do Eu'
Depois que o homem foi à lua, na primeira de sete missões tripuladas, começaram duas corridas: a espacial e a tecnológica. Os anos 60 e 70 foram palco de uma chuva de novidades tecnológicas que mudaram bastante a geração rock in roll. Naquele tempo os Beatles deram o tom da Década do Eu ao se separarem. As carreiras solo começaram a bombar. O planeta começava a ter uma filosofia hare krishna, visual hippie, descobria as drogas (Cristianne F.), usava jeans boca de sino, meias de luréx e poliéster, sapato cavalo-de-aço, escutava Janes Joplin, Led Zeppelin, Pink Floyd, Black Sabbath entre outros. Por outro lado começava a geração pop com o Quenn. Rod Stewart, Mick Jagger e David Bowie faziam parte da turma que adotava um estereótipo feminino (tipo frangas à solta) juntamente com os Secos & Molhados ajudando o Ney Matogrosso a hora virar homem, hora virar lobisomem. Nascia o conceito de que o que homem usava, mulher também poderia usar-nascia o modelo unissex e os novos super-heróis já não usavam a cueca por fora da roupa (a não ser o Batman).
Este cenário de transformação e de protestos por mais liberdade, anistia, contra-revolução trazia amelosidade açucarada do ABBA, The Carpenters e os primeiros acordes da Disco Music. A TV bombava com as imagens e publicava a morte de Kennedy e a queda de um outro presidente que cresceu e caiu pela TV-Nixon. Enquanto dançavam Donna Summer, Saturday Night Fever, os travolteantes jovens recebiam a música New Age e a eletrônica. Mulheres começavam a provar da liberdade rasgando soutiens, descasando, praticando o top less e usando minissaias. Para aquela época aquilo era um escândalo. Um acinte aos costumes da época. Elvis estava cada vez mais louco e Brasília passava a ser a capital do Brasil. O impacto provocado pelo modernismo da cidade recém construída foi a frase dita por Yuri Gagarin, primeiro homem a viajar para o espaço, que ao visitar Brasília em 1961, disse: “Tenho a impressão de que estou desembarcando num planeta diferente, não na Terra”.
Enquanto o mundo fervia a quebra de paradigmas, a tecnologia cozinhava a ocupação do seu espaço na cozinha do tempo. Naquela década a Inglaterra amargava uma de suas piores crises e crianças apareciam morrendo no Camboja. Os americanos se ferravam no Vietnam e a Era do Descartável e Efêmero começava a tomar conta do espírito das pessoas.
No campo da tecnologia vários seriados e filmes tentavam trazer o futuro para os anos 60 e 70. Realizado em 1968 pelo cineasta Stanley Kubrick, 2001 Uma Odisséia no Espaço, tinha uma duração total de 139 minutos e apenas 40 de diálogo, analisava a evolução do Homem, desde os primeiros hominídeos capazes de usar instrumentos, até a era espacial e ia além projetando toda uma nova civilização, cuja época ainda não chegou. Uma das personagens principais do filme é o computador inteligente HAL 9000, uma das máquinas mais famosas da História do Cinema. O nome era uma referência velada à IBM.
Nessa época começavam a proliferar as máquinas ditas inteligentes. Os carrões tinham rabos de peixe e eram enormes banheiras com motores que consumiam uma barbaridade, aos galões. O Fusca contrariava a tendência do glamour ao grandioso ao lançar um dos mais criativos anúncios convidando as pessoas a “Pensar Pequeno”. Nascia o estilo americano de viver que mais tarde contaminaria grande parte do mundo; estilo esse passado através das propagandas.
As primeiras CPUs eram constituídas de vários componentes separados, mas desde meados da década de 1970 as CPUs passaram a ser manufaturadas em um único circuito integrado, sendo então chamados microprocessadores que mais tarde evoluíram para os chamados PCs. Naquele tempo vimos o Brasil ser campeão ao vivo pela TV. Erasmo e Robertos Carlos e a turma da Jovem Guarda popularizavam termos como “-Essa garota é papo-firme” ou ” Uma brasa, mora?”. E por falar em brasa, o microondas da International prometia um bacon frito em apenas 90 segundos.
A Guerra Fria e a Corrida Espacial eram o tema de muitos seriados. A maioria dos personagens tinha uma luta a favor da liberdade e contra personagens malucos com cara de comunistas caricatos. Assistíamos a seriados tecnológicos como o Agente 86 (a luta contra a K.A.O.S e outras coisas inesquecíveis tais como o cone do silêncio – onde Max e o Chefe entravam para poder conversar em sigilo e de onde não se ouvia absolutamente nada, a abertura do seriado com as portas fechando, o Sapato-Fone e o agente 13 dentro da caixa de correio ou o robô Hymie e a fria 99).
Tinham ainda Batman e Robin (o batmóvel, a batmoto e o cinto recheado de geeks e gadgets), Perdidos no Espaço (Inesquecível era o robô gritando: – “Perigo, perigo, perigo…”,o impagável Dr.Smith e o seu jargão- ” Nada tema, com Smith não há problema !”), Buck Rogers, Mulher Biônica eo Homem de Seis Milhões de Dólares(que eu não perdia um), Automan, a Feiticeira, o Elo Perdido, O Homem do Fundo do Mar, Terra de Gigantes, O Túnel do Tempo (Todo episódio o túnel dava defeito), Ultraman, Viagem ao Fundo do Mar (fantástico e ultra tecnológico), os bonequinhos do Thunderbirds e o JOE90. Todos estes seriados ou estavam focados em tecnologia ou a usavam para conseguir efeitos incríveis realizados já naquela época.
O filme Guerra nas Estrelas ligou definitivamente o cinema com o os computadores. A série de seis filmes de ficção científica teve como subprodutos uma franquia literária, uma série de jogos eletrônicos e desenhos animados. Outro seriado que abusava da tecnologia era o eterno 007-Bond, James Bond-agente secreto preferido da Rainha da Inglaterra,não seria invencível se não fossem os brinquedos tecnológicos que por várias vezes salvaram a sua vida. Todos os super-brinquedos foram produzidos no laboratório de pesquisas do MI-6 pelo inesgotável “Q”, o gênio inventor da agência de espionagem, vivido por Desmond Llewelyn.
Na lista de brinquedinhos famosos estão a Lotus Esprit, o carro esporte-submarino-lançador-de-mísseis; o Aston Martin DB5 com chapa blindada à prova de balas que protegia o vidro traseiro; Little Nellie, o mini-helicóptero desmontável e até mesmo um brinquedão criado pela NASA, o jipe lunar usado por Sean Connery em uma de suas fugas no filme ‘Diamonds Are Forever’. As vinhetas de apresentação na abertura dos filmes, criadas pelo artista gráfico Maurice Binder, revolucionaram o conceito de abertura de filmes e, atração à parte, revolucionaram o design cinematográfico nos anos 60 e70.
Nesta década o computador começou a ser anunciado e alguns desses anúncios realmente são interessantíssimos. Porém, muitos desses anúncios são de empresas que nem existem mais. Anúncios buscavam conquistar seus consumidores criando o clima de fantasia e desejo que ainda hoje perduram nos anúncios publicitários. Tínhamos os testemunhais, com Roger Moore tratando de destacar que “enquanto a concorrência está preocupada com os preços, a Spectravideo está ocupada ajustando seus novos recursos.”
Nos anúncios de jogos o ATARI se vendia como a no.1. e o game Star Wars fazia com que os que eram médicos durante o dia se transformassem em mestres Jedi à noite. Tinha também o joguinho do sapo que adotava a mesma linha de transformar executivos do dia em sapos á noite. Alguns são muito engraçados e neles vemos mulheres com cabelos a la Farrah Fawcett em roupas platinadas vendendo o Pixie e, em outro um cara rodeado de mulheres em traje de gala tendo ao colo um portátil de 15 quilos.
O meu preferido, na categoria ‘apelação’ é da Interlude-The Ultimate Experience. Um pequeno computador (para os moldes da época) que traz ao lado uma mulher em trajes sumários, com aquele olhar tipo “o que você faz ai que ainda não caiu nesta cama?” com a chamada-“Como está a sua vida amorosa?” Imagina a confusão que deve ter gerado naquele turbulento tempo onde parecia que os hormônios ditavam algumas das novas regras.