Por que custa tão caro manter uma impressora?

“Ora, tintas! Quantas pessoas você conhece que imprimem apenas um parágrafo por folha e que não seja em formato ‘rascunho?”

INTRODUÇÃO

Tenho o hábito de acompanhar a evolução das coisas. Ou para melhor ou para pior. No caso das impressoras estou começando a desconfiar que estão apostando na falta de informação.

Vamos partir de uma pergunta simples:

Qual a maior fonte de lucro para quem vende ou fabrica impressoras?

Se você respondeu ‘cartucho’, ainda está longe! Quem respondeu ‘tinta’, chegou bem perto. Agora quem respondeu ‘eu não sei’.. acertou! É por ai. A falta de informação está sendo a maior de todas as fontes de lucro desse negócio.

As impressoras melhoraram muito quanto à sua qualidade. Imprimem muita coisa com grande perfeição e em vários formatos e tamanhos, mas em informática uma impressora é uma solução que representa um centro de custo fixo para empresas e ‘home users’. Consome papel, tinta e energia (pois na maioria das vezes passa o dia ligada) e isso custa dinheiro e dinheiro écaro.

Uma impressora nova custa o equivalente a quatro cartuchos originais. Em algumas um novo cartucho sai mais caro que a própria impressora. Esse alto custo abriu um espaço grande no mercado. A Lei de Oferta e Procura não perdoa-se tem quem queira comprar, tem quem faça de tudo pra poder vender. Vale pra tudo! Isso estimulou a abertura de empresas que revendem cartuchos reciclados e/ou que reciclam cartuchos. Os recicladores são hoje a nossa salvação. Sem eles a coisa seria pior. Mas, ainda assim, os fabricantes também ganham, pois comercializam apenas a tinta e elas são vendidas aos barris e quem recicla também reclama que compra caro. Com certeza todo mundo gostaria de comprar um cartucho novo se ele não custasse tanto e carregasse tão pouca tinta e até imprimiriam mais se fosse um pouco mais barato o custo de impressão.

Vamos dar um tom de humor ao problema, sem deixar de lado a seriedade do assunto.

Antes os cartuchos eram mais ‘gordinhos’. Agora os fabricantes dizem que as suas máquinas “imprimem centenas de páginas” com esses cartuchos, desde que, a área coberta ou a mancha, não ultrapasse os 5% de um papel tamanho Carta ou tamanho A4″.

Ora, tintas! Quantas pessoas você conhece que imprimem apenas um parágrafo por folha e que não seja em formato ‘rascunho’?

Caro leitor, vou deter-me apenas nos cartuchos de impressão para jato-de-tinta pois se estender-me estarei deixando este texto longo demais. Voltemos ao passado. No começo eram de 40ml, depois caíram para 20ml. De volta ao futuro apareceram os de 5ml e criaram a opção light com 3ml e, agora o mais novo movimento social: ‘As Sem-Cartucho.’

Vamos as possíveis justificativas e ao que a gente não entendeu.

JUSTIFICATIVA 1 -Os usuários de impressoras com cartuchos de 40ml demoravam muito tempo para substituí-los e isso fazia com que as propriedades da tinta ficassem prejudicadas. Ressecavam e entupiam… enfim.Isso era um problemão(não sei em que percentual). Assim, os fabricantes, muito preocupados com o consumidor (que bonitinho…!) decidiram reduzir em 20ml para, digamos assim, ‘ajudar’, ‘dar uma força’ ao consumidor para gastar mais rápido.

A GENTE NÃO ENTENDEU – A idéia era até boa, mas acontece que esqueceram de baixar o preço e como ninguém lembrou de avisá-los esqueceram também de informar o consumidor. Como se nada tivesse acontecido a ‘dieta da tinta’ continuou. Ainda preocupados com o consumidor aumentaram a dose do jejum e os cartuchos acabaram sofrendo de ‘anorexia pigmentológica’ (a expressão não existe, mas no meu imaginário popular seria o mesmo que: mais cartucho do que tinta ou mais osso que pele. Como queiram.) até chegarem aos 5ml de hoje. Ainda existe a opção ‘anoréxico-terminal’ com 3ml e a impressora ’morta ou modelo Família Adams’ do movimento das ‘Sem-Cartucho’.

JUSTIFICATIVA 2 -Nos manuais das impressoras existe a frase: “Sujeito a alteração sem aviso-prévio”.

A GENTE AINDA NÃO ENTENDEU – Certo. Mas, e o aviso posterior? O consumidor não deveria ser avisado que houve redução de tinta? Que a capacidade de impressão foi diminuída? Para amenizar foi introduzida a relação de 5% de área coberta por página. Ou seja: você pode imprimir centenas de páginas, desde que você não ultrapasse um parágrafo por cada folha de papel. Acho que pensaram em Henry Ford quando fizeram isso: “Você pode escolher um Ford de qualquer cor, desde que seja preto”. Cartuchos me mordam! Acho que a frase certa seria: Sujeito, a alteração é sem aviso-prévio!

JUSTIFICATIVA 3 – O alto custo da tinta.

A GENTE AINDA NÃO ENTENDEU – Será que é isso mesmo? E as vantagens da famosa escala de produção onde foram parar? Será que mesmo com a redução do volume em mililitros e o aumento exorbitante em vendas mundiais isso tudo não fez abaixarem os custos por mil? Jogando mais tinta no buraco negro passaram a informar sobre o Ciclo de Impressão. Significa o tempo de vida útil da impressora e este tempo é medido em quantidade de cópias totais divido pelo tempo de vida que o fabricante diz que a impressora irá durar. Digamos, à guisa de suposição, que uma impressora com vida útil de 20.000 impressões, com garantia de 02 anos, terá um ciclo mensal de 834 cópias ou pouco mais de 01 resma e meia. Isso nos dá duas recargas por mês a uma média de R$ 100,00 o cartucho novo e a R$ 50,00 o reciclado. Se a impressora custou R$ 400,00 e trocamos os dois cartuchos por mês teremos gasto R$ 400,00 reais em dois meses. Se o valor for em cartuchos reciclados teremos o equivalente ao que se gastou comprando a impressora em 4 meses. Claro que a um custo desses o cliente irá optar pela laser que tem um custo operacional bem menos doloroso. Mas a realidade é essa, porém não precisaria ser se o preço do cartucho original estivesse dentro de uma realidade racional de custo-consumo.

JUSTIFICATIVA 4 -Redução de custos para ganhar mais competitividade face à concorrência mundial. Certo!

A GENTE AINDA NÃO ENTENDEU – Seria justo se essa redução de custos não tivesse se transformado numa amputação. Tentando entender o pensamento estratégico adotado nos tempos idos das jurássicas jato-de-tinta os fabricantes incluíram os cartuchos de 40ml para conquistar o cliente. Agora que todos estão dependentes da tecnologia começam as dietas, os banhos de solvente e as amputações. Esse é o pior exemplo de como irritar o cliente com um elevado grau de eficiência e eficácia.

JUSTIFICATIVA 5 -Ah! Faltava o Governo! Impostos pesadíssimos, carga tributária escorchante, custos de importação crudelíssimos!

A GENTE AINDA NÃO ENTENDEU – A tinta é cara por que a culpa é do Lula que baixou os impostos do computador e ‘carregou nas tintas’.Cabe uma CPI sobre o ‘Caos das Jato-de-Tinta’. Se terminar em ‘pizza’, nos resta esperar as eleições para votarmos em candidatos que possuam uma plataforma eleitoral focada numa redução de carga tributária para este massacrado e desbotado setor. Até lá, se quiserem levar é assim mesmo (lembrei do belo material do Xandó que fala sobe isso). Só faltava algum político criar a ANA7?-Agência Reguladora que nos protegeria quando tentassem mudar os tons e pintarem o 7 com na gente.

UMA COISA PUXA OUTRA COISA E JUNTAS AGRAVAM O EFEITO ESTUFA – Também é desnecessário dizer que o preço do cartucho novo é que dita o valor do reciclado, aliás santo cartucho reciclado, bendito sejas tu ó recarregadíssimo! Apesar de tentarem dar um apelo ecológico a recarga, ainda me assanham as madeixas quando ninguém me responde a uma pergunta: “E quando o cartucho não puder mais ser recarregado, o que os fabricantes e recarregadores fazem com eles? Lixo? Reciclam… enviam pra quem?” Será que essa redução irá melhorar a palidez azulada da Camada de Ozônio?

“OS CARA-PÁLIDAS!”-DANÇANDO COM OS LOBOS.

O que percebo, pelas ‘caras-pálidas’ dos clientes quando descobrem que o cartucho acabou rápido e que o novo custa os ‘olhos-da-cara’ é que a máxima da Qualidade Prometida x Qualidade Percebida está invertida. Quando isso acontece o cliente se sente ‘enganado’ e ‘insatisfeito’ e que ‘aquilo é um mal-necessário’ e por ai vai! O cliente quer que aquilo que foi prometido a ele seja percebido como plus e nunca como ‘algo faltando’. É notório o semblante de frustração do cliente na hora de pagar. É como se lhes tivessem retirado o ‘escalpo’(exagerei caro leitor, mas cabe!).

Quando a Qualidade Percebida é superior a Qualidade Prometida (e depende muito de como isso é dito e feito), o cliente se sente feliz, fideliza e recomenda. Quando acontece o contrário ele reclama e fica bem zangado. Primeiro irrita-se com a loja. Esta põe a culpa no fabricante, que por sua vez põe a culpa no vendedor que não explicou ao cliente. Nos meus treinamentos para vendedores eles dizem que é “difícil vender uma coisa pro cliente quando nem mesmo eles (vendedores, grifo nosso) têm segurança se o que está escrito é o que realmente acontece, pois mudam e não avisam a ninguém.”

SUJEITO A MUDANÇA SEM AVISO-PRÉVIO – Retorno.

A frase ‘Sujeito à mudança sem aviso prévio!”.. e nem mesmo aviso-prévio durante ou depois de mudado, está começando a irritar o cliente ou pelo menos, deixando-o desconfiado. Essa frase, na indústria, se restringe a projeto e não a suprimento. Por isso não entendemos essa relação de custo.

CONCLUSÃO

Será que exportaram a Lei de Gerson e esqueceram de nos avisar?

Este artigo não pretende esgotar o assunto, não desejo ser o arauto do apocalipse, nem mesmo dono-da-verdade, mas sim pressionar os fabricantes a nos explicarem, de forma transparente, por que é absurdamente caro manter uma impressora.

Ah! Antes que me esqueça: Receber a justificativa que é porque eles estão muito preocupados conosco… que é para o cartucho não entupir e nem a tinta vazar.. ou qualquer uma das cinco aqui expostas, não vale. Arrumem outra, pois essa e todas as outras, eu e toda a galera do Fórum já sabemos.

Antes de sermos o que somos, independente da profissão que exercemos, bem antes de tudo isso, nós todos somos consumidores e exigimos transparência e atenção ao nosso limite de tolerância.

Os comunicadores e advogados costumam dizer que numa história existem 3 versões: a minha, a sua e a verdadeira.

Entre deixar este assunto de lado e escolher defender o consumidor contra a falta de informação, eu estarei sempre com a segunda opção.

Era hora de levantar essa bandeira e eu tenho certeza que o Fórum é o melhor caminho para que esse cenário comece a mudar.

Na sua opinião, o que você sugeriria como solução e/ou modelo a ser seguido por esse mercado?

Mudaria tudo?O que mudaria? Qual a melhor forma de imprimir mais e baixar os custos com impressão?

Deixe aqui a sua sugestão e visão: com certeza os fabricantes estarão lendo. Essa será a verdadeira solução para esse mercado – a que você, usuário, vai deixar aqui.

A palavra é sua.

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Redação Geral

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