EUA: As motos no país das motocicletas
Texto por Welliton Carlos, de Nova IorqueEnviado por DM.com.br – ontem às 12h46
Apesar de surgir ainda no final do século XIX, com um modelo Daimler-Maybach, as motos evoluiram significativamente nos Estados Unidos apenas no pós-guerra. Trata-se de uma nação apaixonada pelas motocicletas. No mês de setembro, a reportagem do DM esteve em três estados para entender como é usada.
Em Miami, elas cortam as ruas em passagens de enduro, rápidas, velozes e também com taxas similares de acidentes aos ocorridos no Brasil. Na zona de Miami Beach, nas proximidades da praia, existem faixas especiais para motociclistas, mas hoje foram ocupadas por ciclistas – cada vez mais presentes, devido a amplitude da mobilidade das bicicletas.
As motos competem em espaço com carros, devido às grandes freeways espaciais – sobrepostas umas sobre as outras. O departamento de trânsito do estado aponta estatísticas negativas, mas por conta de três fatores: grande quantidade de motos nas ruas, costume de velocidade dos motoristas e falta de educação geral no trânsito.
A ideia de que apenas os brasileiros utilizem motos, devido a falta de outro meio de transporte, é verdade – em parte. Nos EUA, os meios de transporte públicos são relativamente melhores e mais baratos. E a moto não é a primeira opção de transporte.
Mas em Washington é possível ver que a população utiliza a moto como meio de transporte, também semelhante ao Brasil. “Sem a moto não dá para fazer tudo que tenho que fazer. Mas pego muito trem”, diz Mathew Willians, proprietário de uma loja de souvenirs.
O Departamento de Transporte americano cita estudo realizado em Londres, no começo da década, em que já aponta o aumento significativo de acidentes com motos. “O estudo tem sido testado aqui nos EUA. E parece similares as causas da Inglaterra com a América. Uma delas é a imprudência dos motoristas. E outra dos motociclistas. Descobrimos que motociclistas mais velhos desaceleram onde não devem fazer isso. E os mais jovens aceleram demais”, informa John Alvarez Diego, monitor de trânsito de Miami.
Um dos elementos do estudo diz respeito ao acidente típico: um carro entra na avenida sem observar o motocilista que vem da esquerda. E choca-se com a moto, quase sempre levando a vítima à óbito.
Centro
Em Nova Iorque, as motos não cruzam a parte central da Capital. Na região de downtown, onde estão localizadas as grandes avenidas (quinta, sétima, Times Square, etc) pode-se contar nos dedos a passagem de motos. Os latinos e imigrantes mais pobres, entretanto, começam a usar as mobiletes e veículos semelhantes por absoluta necessidade.
“Não é comum o uso de motos, pois o trânsito é muito louco por aqui. Os motociclistas não teriam chances!”, comenta Aretha Smith, uma guarda de trânsito que jamais multou um motociclista. “Aqui, usamos bons ônibus e o táxi é barato. O metrô é sujo e uma aventura. Mas melhor do que se arriscar com motos”, fala.
Como no Brasil, as mortes por acidente de motos variam em dois ou três padrões, mas sempre em evolução – uma evolução bem menor do que a que ocorre no Brasil. Em 2002, morreram 3.244 pessoas. Cinco anos depois, morreram 5.174. No último ano, 3.615. Conforme os dados do Departamento de Trânsito dos EUA, 60% dos acidentes ocorreram à noite. E metade dos acidentes envolve um outro protagonista, o carro ou outro veículo ainda maior.
O Departamento de Trânsito dos EUA, National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), diz que existem 35 vezes mais chances de acontecer um acidente com um motociclista do que com outros motoristas. Conforme John Alvarez Diego, um estado como Nova York tem a média de 200 mortes de motociclistas por ano. Ele não condiciona um único fator, mas pelo menos 30 para que ocorram tais acidentes. “É bastante complexo, mas temos que fazer alguma coisa”, diz.
Brasil
No Brasil, em 2002, ocorreram 3.744 mortes, mas em 2011 as mortes pularam para 13.143. Nos EUA, a taxa foi menor em 2002 (3.244) e bem menor no ano anterior (3.615). O quantitativo de motos é semelhante, mas o uso é maior no Brasil, devido a falta de políticas públicas de transporte que garanta o direito de ir e vir por meio de transporte público. Daí a ação de uso da moto, que amplia os números negativos da estatística.
O motorista e motociclista brasileiro, logo, não são mais nem menos imprudentes do que os estrangeiros. Parece que o problema é na constância no uso da moto, bem maior no Brasil. O Mapa da Violência 2012 indica que apenas no Paraguai se morre mais motociclistas, com 7,5 óbitos por 100 mil habitantes. Enquanto o Brasil é o segundo, com 7,1, os EUA é o décimo colocado da lista (1, 7 óbito a cada 100 mil habitantes). Nos últimos 15 anos, o crescimento da taxa de mortalidade em acidentes com motocicleta no Brasil aumentou 846,5%.
Esse número é que deveria ser um dilema para os governantes. Qual motivo de aumentar tanto em tão pouco tempo?