Aventura – Caldeirão de Santa Cruz do Deserto ( do Beato José Lourenço)

Aventura  – Caldeirão de Santa Cruz do Deserto ( do Beato José Lourenço)
JAN48461UP
A chegada ao Caldeirão é pela colina onde ficava a casa o Beato. Da residência restaram apenas as principais madeiras de sustentação. A capela ao fundo, reformada, mostra o desenvolvimento a que o lugar chegou.

A primeira vez que ouvi sobre o Caldeirão de Santa Cruz do Deserto foi nas minhas aulas de História do Ceará, na voz calma do Professor Nelson Campos. Tempos depois li sobre o lugar na prosa lírica do livro
de História do Ceará do Professor Nelson, que me encantou e assustou.

Em um resumo breve e frio, copiado da wikipédia:

“O Caldeirão de Santa Cruz do Deserto foi um dos movimentos messiânicos que surgiu nas terras no Crato, Ceará. A comunidade era liderada pelo paraibano de Pilões de Dentro, José Lourenço Gomes da Silva, mais conhecido por beato José Lourenço. No Caldeirão, os romeiros e imigrantes trabalhavam todos em favor da comunidade e recebiam uma quota da produção. A comunidade era pautada no trabalho, na igualdade e na Religião.”

Seguindo as placas e pegando informações com a população fica fácil chegar ao local.

A comunidade cresceu e assim como o Arraial de Canudos, começou a incomodar os grupos dominantes, que criaram boatos diversos para denegrir a fama do lugar. O final foi tão trágico quanto o de Canudos:

” Em 1937, sem a proteção de Padre Cícero, que falecera em 1934, a fazenda foi invadida, destruída, e os sertanejos divididos, ressurgindo novamente pela mata em uma nova comunidade, a qual em 11 de maio foi invadida novamente, mas dessa vez por terra e pelo ar, quando aconteceu um grande massacre, com o número oficial de 400 mortos. Foi a primeira ação de extermínio do Exército Brasileiro, e Polícia Militar do Estado do Ceará. Acontecera o primeiro ataque aéreo da história do Brasil. Os familiares e descendentes dos mortos nunca souberam onde encontra-se os corpos, pois o Exército Brasileiro e a Polícia Militar do Ceará nunca informaram o local da vala comum na qual os seguidores do Beato foram enterrados. Presume-se que a vala coletiva encontra-se no Caldeirão ou na Mata dos Cavalos, na Serra do Cruzeiro (região do Cariri).”

A estrada se estende diante da minha brava 125cc.

Meu interesse em caminhar pelo lugar vinha desde quando li sobre e em minha visita ao Crato, não pude deixar de pegar a estrada em busca dessa história.

O caminho é relativamente simples, como vocês podem acompanhar no mapa. Porém, eu fui sem pegar essas instruções (não tentem fazer isso…) e acabei andando mais do que deveria.
Importante ficar atento às placas e às informações para não se perder.

A melhor dica é seguir para a ‘Ponta da Serra’. Perguntando todos sabem informar. Chegando lá, basta perguntar por onde se chega ao Caldeirão do Beato. É importante lembrar que há outro sítio por nome de Caldeirão, portanto, faça referência ao Beato para que orientem corretamente.
Depois de precorrer um trecho de pista boa, saindo de Crato até a “Ponta da Serra”, entramos na estrada de terra. O caminho parece confuso, já que há muitas bifurcações, mas é possível seguir as placas postas pela Prefeitura do Crato para seguir o caminho certo. Perguntar à população local também é bom, já que eles estão acostumados a orientar visitantes.
Depois de percorrer alguns quilômetros pela estrada carroçal, chegamos ao Caldeirão de Santa Cruz do Deserto, o Caldeirão do Beato José Lourenço.

As madeiras são o que restou da casa do Beato no topo da colina.

Na chegada somos recebidos pelas ruínas da casa que abrigou o líder e fundador da comunidade. Apenas umas poucas madeiras restaram. Uma cruz, posta no lugar mostra a ‘omenagen’ feita por alguém da região ao Beato.

Caldeirão visto da entrada do lugar, na colina onde ficava a casa do Beato.

Descemos a colina rumo à Igreja de Santo Ignácio de Loyola, que foi erguida pelos moradores do Caldeirão. A edificação foi recentemente reformada. Próximo à um pequeno museu para contar a História do lugar.
Sentamos na sombra de uma casa rústica, remanescente da comunidade original e fomos recebidos por um senhor e sua esposa. Eles moram lá e sabem das histórias, recebem os visitantes, mas não podem oferecer muito além da tão nobre hospitalidade sertaneja, já que , como me disse o senhor, não recebem o pagamento há cerca de um ano e vivem das aposentadorias.

Igreja erguida pelos habitantes do caldeirão na década de 30.

Eles nos oferecem água e boas histórias. Conta, no seu jeito humilde, o que sabe sobre o massacre, “Diz que caia bomba dos avião, não tinha para onde correr’. Tomamos alguns goles de água para amenizar o calor. Somos informados que a água que bebemos era retirada do caldeirão de pedras, que dá nome ao lugar, em um grotão próximo.
A curiosidade nos leva a conhecer o lugar, que fica depois da pequena colina atrás da igreja. Há um caminho entre a caatinga, que a pequena 125cc vai percorrendo sem problemas, embora eu sempre fique apreensivo quando à possibilidade de um pneu furar.

Uns goles de água e uns dedos de prosa.

O Caldeirão de pedras parece ser bastante fundo e acumula água por muito tempo, tanto que quando passei por lá, cerca de 8 meses depois das chuvas, ainda havia água. Na estação chuvosa muitos são levados até lá pelo banho nas águas que correm entre as serras e vão se acumulando na formação rochosa.

Água ainda se acumula no caldeirão de pedras

Certamente pretendo voltar no período chuvoso para passar mais tempo e aproveitar o banho refrescante.
Depois de mais uns goles de água e uns ‘dedinhos de prosa’, tomamos a estrada voltando.

A aventura valeu a pena.  Caminhando pelo local, depois de ouvir sobre o que houve, há muito o que pensar. Incrível o poder da coletividade, que no meio do nada, entre a seca e os coronéis, conseguiu erguer uma vila próspera, que alimentou sertanejos e os protegeu do sol e da estiagem. Infelizmente, essas experiências foram devastadas em nome do progresso, da posse e do poder dominante, mas resta a esperança que o testemunho das ruínas ainda possa ver outras comunidades viverem sua paz e prosperidade na independência dos olhos gananciosos que movem a roda do mundo.
Depois dessas palavras, que me lembraram as do Professor Nelson Campos, encerro aqui, desejando boa viagem! E caso alguém queira ir durante a estação chuvosa, me avise que vou também!É isso aí! Até a próxima e vamos no aventurar!!!

A pequena 125 se destacando entre os tons da vegetação seca da caatinga.

Aqui vocês conferem como chegar ao local partindo de Juazeiro do Norte, mas querendo, é só alterar o local da partida. Boa viagem.

 

 

 

 

 

 
Exibir mapa ampliado


Exibir mapa ampliado

 

 

 

 

Visited 1 times, 1 visit(s) today

Jan Messias

Repórter de Rádio, professor, fotógrafo e motociclista nato. Apaixonado por história, poesia e pela vida. Sempre que pode sai pelo mundo caçando novidades.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *