Que tal começar pelo seu motoclube?
Muito se reclama no meio que a classe de motociclistas não é respeitada como deveria; que somos perseguidos, explorados, sobretaxados e ainda desunidos. Estão todos certos e ao mesmo tempo errados. Quando apontamos um dedo para algo ou alguém existem outros três voltados para nós e um em dúvida. Basta olhar para a sua mão.
Assim, se queremos mudar isso deveremos começar pela nossa casa – o nosso grupo. Senão, vejamos:
1 – Exigência da CNH
Pode parecer absurdo, mas existem muitos milhares de motociclistas andando em grupo sem a CNH e isso é tolerado ou é do desconhecimento do grupo. Fazem isso por que a polícia dificilmente nos para por acreditar que andamos corretamente (sic). Além disso, existem outros pilotando com emplacamento vencido. Exija a CNH. Sem CNH, não aceite no grupo. Isso pode acabar com a viagem além de criar um grande problema para a imagem do grupo. Sem falar no risco. Dê o exemplo.
2 – Bebida e moto em viagem
Existe um péssimo hábito entre motociclistas durante as paradinhas de tomar uma ‘cervejinha’ e depois pilotar. Não aceite isso. Se o membro reclamar, cancele o passeio. Minha dica é sempre ‘tomar uma’ quando o passeio acabou e se você não vai mais pilotar. Nos bate-volta tenho o hábito de só tomar uma cervejinha depois que a moto está estacionada e guardada em segurança.
Se precisar sair vou de taxi ou de carona com alguém em um carro, mas a moto não sai do hotel ou da pousada se eu tiver tomado uma cerveja.
3 – Dissidentes de outros motoclubes
O fato de ser um motociclista e consequentemente um irmão em duas rodas, não é aval de ‘gente boa’ ou ‘eticamente correto”. Há muitos dissidentes que não deram certo em outros motoclubes e simplesmente mudam para outro. São aceitos sem uma breve pesquisa junto ao motoclube anterior para saber mais informações sobre o novo membro. Outros criam novos motoclubes para poderem comandar do seu modo e assim se proliferam grupos formados de duas pessoas e até o ‘MEU – Motoclube do Eu sozinho’. Não avalie apenas pela convivência. Muitas vezes você o recebe de braços abertos e não tem ideia do tamanho do problema que acabou de trazer para dentro do seu grupo.
4 – Pilotos sem experiência para viagens
Todo mundo já foi principiante e estagiário na vida. Da mesma forma todos começaram como inexperientes. Assim, identifique isso em entrevista e cuide de dar treinamento ao principiante. Faça-o melhorar. Isso garante uma viagem mais tranquila e sem surpresas desagradáveis para todos. Lembre-se que o que causa o acidente não é a pilotagem agressiva, mas a hesitação. Ela existe por que você não foi preparado para aquela situação e quando acontece… tombo certo.
Uma dica é convidar o novo membro para um passeio com dois veteranos. Antes uma boa palestra com muita informação teórica. Depois coloque em prática. Marquem um passeio tipo bate-volta com três membros, sendo o piloto em treinamento, um batedor e um ferrolho. Coloque-o no meio do grupo. Com o tempo as coisas vão se nivelando e a segurança do grupo melhora ainda mais.
Se perceber que o novato não está pronto, mesmo tendo sido treinado, seja gentil e lembre-se que você já foi assim e que, na maioria das vezes, ninguém deu a mínima para você. Faça a diferença, ajude! Se você é experiente seja voluntário para ir com ele. É simples: separe o novato do grupo com um piloto experiente e saiam antes de todos. Vá devagar. Pode ser uma tarefa chata, mas acredite: você estará fazendo a diferença e sendo gentil. E o novato nunca esquecerá disso.
5 – Aceitar no comboio pilotos e garupas sem o equipamento mínimo obrigatório
Essa é terrível. Todos prontos para a viagem. A maioria equipada e aparecem membros do motoclube calçando tênis, sandália, camiseta simples, sem luvas, sem jaquetas, sem proteções EPI (cotoveleira, caneleira e joelheira), com capacete inapropriado e por ai vai. E isso é aceito pelo motoclube e pelo batedor até que um acidente venha a acontecer.
Antes que ocorra um sinistro defina qual é o equipamento mínimo aceito pelo motoclube para que possa seguir no comboio. Se o membro não aceitar, cancele o passeio, mas nunca leve no grupo alguém que possa oferecer risco desnecessário. Você estará protegendo ele também.
6 – Pessoas que não nasceram para conviver em grupo
Não é fácil conviver em grupo. Há regras – duras ou suaves, mas há sempre regras. Tem horário, planejamento e um líder que precisa ser levado à sério. Se é uma viagem em grupo, tudo deverá ter sido previamente acertado e precisa ser seguido. Se existe um membro no seu grupo que tem este tipo de dificuldade, a sua missão será alertá-lo e, se ele não muda, peça para sair ou retire ele do grupo. Valeu, foi bom. Adeus! Simples, assim. Existem pessoas que apesar de serem ‘Super 10’, sensacionais etc.; não conseguem andar em grupo, seguir regras e horários. Dificilmente irão mudar.
Saiba também separar afinidade de ‘panelinhas’. Há pessoas no motoclube que serão mais próximas umas das outras e isso é normal. Chama-se afinidade. Mas quando as afinidades evoluem para sub-grupos ou as famosas ‘panelinhas’, então é chegada a hora de intervir. Faça isso antes que o grupo se desfaça.
Existem ainda aqueles que não respeitam a opinião dos outros, que quando bebem ficam alterados e por ai vai. Fuja disso. É só problema.
E por último, não emita opinião sobre pessoas ou motoclubes apenas por que alguém da sua confiança falou para você. Procure se certificar. Não seja mais um a produzir preconceito ou a espalhar boatos. Isso provoca muita desunião no meio.
O seu motoclube não é o melhor do mundo.
Por mais que seu motoclube, motogrupo, confraria e irmandade seja bom, saiba que ele não será o melhor e que você não é o melhor piloto do mundo. Tal postura colabora para criar animosidades em razão da soberba. Seja amigo, divirta-se, faça amigos. Tire fotos com amigos de outros escudos. Interesse-se em saber de onde vêm. Todos temos lindas histórias para contar.
Se seguir os conselhos acima e mesmo assim você não agradar a alguém, deixe para lá, mas nunca deixe de ser gentil. Há sempre um motoclube igual ao seu querendo ser feliz e rodar com liberdade.
Para ser motociclista de motoclube é preciso amar as diferenças e os diferentes, mas entender também de limites e regras, pois são elas que ajudam a nos levarem e a nos trazerem em segurança carregados de fotos e de histórias divertidas para contar.
Sejamos felizes em duas rodas. É bem melhor. Garanto. Faça o certo. Comece pelo seu grupo.