Jornalista Cláudia Leite estréia a coluna “Tem mulher na estrada!”
“Cláudia, hoje sou eu que vou pilotando a Turuna, ok?” Essa foi a frase que mais ouvi quando tinha catorze anos da minha irmã Carla, quase dois anos mais velha que eu, na primeira semana de aula do Colégio Santo Inácio, onde a gente estudava e morava há apenas dois, eu disse dois quarteirões de distância! Nosso pai Ednar, advogado responsável e motociclista apaixonado e irreverente, aproveitou as férias de fim de ano e nos ensinou a pilotar numa Honda Turuna 125cc. Um presentão de Natal! Imagina a sensação de voltar às aulas de moto, quando os nossos colegas chegavam a pé, o pai ou a mãe deixavam de carro, ou no máximo, eles iam de bicicleta. Uma verdadeira revolução!
Era uma grande curtição. Minha irmã e eu combinamos uma escala de pilotagem que deu super certo. Vale lembrar que a gente ainda dava duas voltas no quarteirão pra demorar mais e também sair “causando”, claro, né? O resultado? Sucesso total! Os meninos babando e as meninas enlouquecidas com a nossa fama! A partir desse momento fui irremediavelmente conquistada por esse universo sobre duas rodas e já se foram alguns pares de anos. Hoje estou aqui jornalista, motociclista, garupeira e co-pilota com a oportunidade de escrever sobre minha paixão, mas antes queria contar um pouco como tudo começou.
“Descabelada, rosto marcado e muito feliz!”
Meus pais sempre amaram veículos de duas rodas e tenho a lembrança de um desses em casa desde pequena. Primeiro foram as vespas, depois as lambretas (meu lugar era em pé segurando o guidão, protegida pelos braços do meu pai – meu herói!), seguidas por uma moto Jawa 250cc (espetacular!) quando somente andei na garupa e por fim a Honda Turuna 125cc Super Sport Vermelha na qual aprendi a pilotar! Grande conquista!
Quando tinha tempo meu pai me levava para passear, com o aval do olhar carinhoso e incentivador da minha mãe. Era uma festa e eu aperreando para aprender a pilotar. Agarrava com toda força que podia a cintura dele e meus óculos sempre apertavam minha cabeça (afinal, todo sacrifício valia a pena!). Lá na boa luta contra o vento, que sempre ganhava e conseguia tirar todo o meu cabelo do rabo-de-cavalo que minha mãe fazia, pois nem se falava em usar capacete. Resumo da ópera: totalmente descabelada, rosto marcado e muito feliz!
A moto-escola JAWA
Na garupa da Jawa, tive as primeiras aulas teóricas, atenta a todos os detalhes e decorando cada movimento, mas tinha de controlar a ansiedade, por que ainda não era a hora de passar para o banco da frente. Somente com a Turuna, alguns anos depois, é que aprendi a pilotar. Foram passeios maravilhosos e momentos inesquecíveis, incluindo a hora da lavagem e do polimento, quando meu pai ainda tinha alguma dica importante pra me passar. Tudo era motivo pra eu estar perto dos dois. Porém, minha alegria acabou quando minha irmã mais nova Mirela quase caiu da garupa e meu pai, depois de refletir muito, decidiu que era hora de parar e vendeu a Turuna. As motos se foram, mas o amor ficou tatuado na alma e no coração.
De volta à estrada!
Há cinco anos meu namorado Silvio Augusto e eu decidimos comprar uma moto. Foi a oportunidade perfeita para voltar a ser garupeira, co-pilota e reacender o amor antigo! Começamos com a Honda Shadow 600cc batizada de “Freedom”. Com ela conhecemos mais o Ceará e fizemos bons amigos. Depois veio a Honda Shadow 750cc “Black Bird” que nos levou para lugares mais distantes desse Brasil sem porteiras. Fomos até Alagoas, às margens do Rio São Francisco. Viagem inesquecível! Há três anos trocamos pela “Negona”, uma Yamaha Midnight Star 950cc que só nos dá alegria: um show em conforto, autonomia e tecnologia, valente e arrojada. Com ela acabamos de executar o Projeto Carolina – MARANHÃO 2015, onde percorremos quase três mil quilômetros de pura aventura! Quase uma década sobre duas rodas registrada em mais de vinte mil fotos e vídeos. Dá uns bons livros, né?
Nesse meio tempo fundamos o Anonymous Moto Grupo, formado por pilotos e suas garupeiras, onde o perfil é alegria, solidariedade, companheirismo, responsabilidade social, com foco também na direção defensiva e uso indispensável dos EPI’s (equipamentos de proteção individual). Local de aprendizagem, muita estrada e emoção.
Agora, como jornalista e motociclista, recebi a missão sagrada e inédita no Brasil que espero corresponder à altura, com toda minha alma, coração, carinho e empenho: uma mulher escrever sobre o universo da motocicleta para mulheres, lugar há até pouco tempo considerado “clube do bolinha”. Vamos nos unir aos nobres cavaleiros motociclistas, descobrir e desbravar este universo com nosso olhar feminino, pois chegamos pra ficar, concordam?
Quero dividir com vocês o que aprendi com meu pai e aprendo nos cursos e na estrada; dicas e novidades; lançamentos e tudo o que interessa pra que vivamos e possamos interagir neste universo com mais conhecimento, segurança, alegria, sem perder nosso charme e nem descer do salto, sejamos nós pilotas, co-pilotas, ou garupeiras.
Bem-vindas, meninas, por que tem mulher na estrada!