DISSECANDO UM ESTILO: SCRAMBLER – Samuel Pimenta
Segundo o dicionário Oxford, uma scrambler é uma “motocicleta para corridas em terrenos acidentados ou íngremes”. Já nos dicionários informais, encontramos a definição de “uma motocicleta com pneus com cravos e suspensões rígidas, projetada para pilotagem em qualquer terreno”. Belas palavras mas, na prática, o que diferencia este estilo de uma Dual Purpose, Trail ou On-Off-Road?
O termo surgiu em meados dos anos 50 para identificar as motocicletas adaptadas ao todo-terreno. Até essa época não se faziam modelos com função específica. E a grande maioria eram aptas à estradas pavimentadas. As alterações básicas eram a troca dos pneus, a instalação de um guidão mais largo e com aquela barra superior (evitar que entortasse nos frequentes tombos) e o reposicionamento do escapamento, bem mais elevado. O nome veio da expressão “to scramble”: subir uma colina rapidamente usando os pés e as mãos. Vendo a crescente onda de clientes aderindo ao estilo (nessa época haviam menos estradas asfaltadas do que atualmente), logo nos anos 60 as montadoras se renderam à moda e começaram a lançar motos nessa configuração, inclusive batizando-as de scrambler. A mais famosa delas talvez seja até hoje a Triumph Scrambler, mas mesmo a Honda lançou suas “street scramblers”: motos que não eram 100% off road mas não faziam feio no fora de estrada, apesar do apelo ser mais visual. Mais ou menos como a moda “Cross” nos carros atuais.
Despojo, tipo de uso e estilo
Para definirmos uma motocicleta como uma scrambler devemos somar apenas três características: despojo, tipo de uso e estilo. Sendo que a primeira (e principal) coisa que devemos ter em mente está justamente no despojo. Esqueça sistemas eletrônicos por todos os lados, mimos e “fru-frus”. Nada de acessórios que não tenham um forte motivo para estar ali. Controle de tração? Tem sim. Está entre a munheca direita e aquela pecinha que fica dentro do capacete. Sensores? Aos montes, milhões! Encontram-se em toda e qualquer parte do corpo do piloto que entra em contato com qualquer parte da moto e mais seus olhos, ouvidos e, em modelos mais “completos”, bem, até o nariz. Enfeites ou ornamentos? Pra quê? Você vai andar de moto ou desfilar na Sapucaí? Esqueça. As scrambler foram feitas pela necessidade de se andar por qualquer terreno, sem falhas, quebras ou dores de cabeça. Um acessório a mais significa mais um item passível de dar defeito ou de quebrar num tombo. Na realidade não precisa nem comprar pronta: a origem destas maravilhas foram do trabalho de engenharia reversa de proprietários, ou descontentes com seu modelo não passar por uma simples “laminha” ou pela simples vontade de adaptar a moto à cara do dono. Resumindo, uma scrambler tem apenas os equipamentos essenciais e obrigatórios para seu uso. Nada será instalado para uso eventual. Vai viajar? Instale um alforje. Mas depois tire! Você não precisa dele para o dia a dia. Ou precisa?
A segunda característica é o tipo de uso. Como a origem das scrambler foi devido à necessidade da adaptação ao todo terreno, obviamente todas as características ou alterações da moto devem ser pensadas para estradas não pavimentadas. Pneus de uso misto, suspensões de longo curso, saída de escape elevada, guidão largo e alto, redução de peso, proteções para itens críticos (tampa do motor, manetes, radiador, cárter, etc.). Nada será instalado que não facilite sua vida em qualquer terreno. Um outro tipo de motocicleta são consideradas as “scramblers esportivas”, que são as Café Racers.
E por fim temos o estilo. E um que está muito em alta ultimamente: é o vintage ou retrô. Seja pelo saudosismo dos anos dourados ou pela simples vontade de ter a moto que tanto cativou sua adolescência, uma scrambler deve obrigatoriamente ter estilo antigo, mesmo as zero quilômetro. Veja a Triumph Scrambler como exemplo. Já a Scrambler Ducati (sim, é assim mesmo, o nome vem antes da marca) é um pouco mais moderna, mas ter cara de moto do século passado. Esse estilo Old School “casa” com o estilo despojado, sendo a marca registrada de uma época em que a habilidade do piloto contava mais que a tecnologia embarcada; que o status não era definido pelo preço da moto, mas pelo que se conseguia extrair dela.
Gostou? Ficou com vontade de montar a sua? Pois vamos lhe ajudar. No próximo artigo traremos um guia com as principais dicas para você montar sua scrambler. E se ainda restou dúvida, sim, você pode sim usar aquela Honda ML 125 que o entregador de pizza chamou de lata velha. Até lá!