TRAXX FLY 250 – Testada pelo Motonline
A Traxx é uma das únicas sobreviventes das muitas marcas de motocicletas da China que aportaram por aqui nos últimos 15 anos. Foram tantas marcas e com promessas tão mirabolantes de revolucionar o mercado que chegou até a assustar. Preços absurdos e qualidade duvidosa fez com que nada daquilo se concretizasse e apenas algumas poucas representantes da força dos fabricantes chineses de motocicletas ainda estão por aqui, direta ou indiretamente.
E a Traxx é a única que está aqui desde 2007 diretamente operada pela própria matriz chinesa e que dá mostras de querer ocupar algum espaço definitivamente, no mercado brasileiro, o que dá ao consumidor um pouco mais de segurança. Algumas outras tiveram destaque, mas não conseguiram manter suas operações, como a Kasinski e a Sundown, e ainda há aquelas motos que são produzidas e vendidas por meio de outros operadores, como a Dafra, que tem entre seus produtos alguns projetos chineses. Também a Shineray, monta suas motos fora de Manaus e ocupa um lugar de destaque no mercado, principalmente no Nordeste do Brasil. E a Traxx se move na direção correta com a apresentação de motocicletas mais alinhadas e identificadas com o desejo dos consumidores brasileiros. Este é o caso da Fly 250.
As motos trail de até 250 cc sempre foram muito desejadas. Sobretudo por aqueles motociclistas que usam a moto de forma intensa, como único veículo e que sofrem muito com o piso ruim de nossas vias, seja nas cidades ou nas estradas, o que para uma trail se torna menos problemático. Mas a Traxx Fly 250, não é exatamente uma 250 – seu motor tem 223 cc de capacidade cúbica – e por isso se classifica exatamente acima das 150 ou 160, mas abaixo das 250.
Seja pelo preço ou pelo desempenho, a impressão que fica é que o fabricante colocou-a como 250 por uma questão de marketing. Se fossemos analisá-la como uma 250 cc, ela ficaria aquém do que o consumidor espera para uma moto desta classe. Então ela está mais para as menores, entrega um bom pacote de características e, de certa forma, a Traxx “trapaceia” a concorrência oferecendo mais pelo mesmo preço.
Pelo que consta da tabela FIPE em abril de 2015, a Traxx Fly 250 custa R$ 8.898,00. Um valor bem atraente para uma moto que traz lanterna e piscas em LEDs, suspensão dianteira invertida (up side down) e a traseira conectada por link, aros de alumínio anodizados, dois freios a disco, boa economia e performance um pouco acima da concorrência, se assim pode-se dizer, por causa do motor super-dimensionado.
A construção segue o padrão das melhores do mercado. Sólida, com boas soldas no chassi e uma pintura condizente. As peças plásticas se encaixam bem e ela traz também a injeção eletrônica, item que é mandatório para motos desta cilindrada e que precisam passar pelos rigorosos testes de emissões atuais.
Equipamentos como um bom bagageiro com alças laterais contribuem para uma boa convivência no dia-a-dia. Freios a disco nas duas rodas e um painel bem detalhado, inclusive com tacômetro (conta giros) digital completam o pacote para essa moto que assim se mostra com uma boa relação custo-benefício.
A partida elétrica combinada com a injeção eletrônica faz o motor pegar fácil, sem que se toque no acelerador e a marcha lenta é bastante estável. A Traxx também teve o cuidado de conceber um chicote elétrico bem feito, com funcionalidades interessantes apenas encontradas em motos maiores, como o lampejador de farol no punho esquerdo. O tanque de 10 litros é bom para percorrer mais de 250 km entre abastecimentos. Nossa média em mais de 1300 km percorridos foi de 24,96 km/litro. Autonomia curta para uma moto de aventura, mas razoável para uma trail, como é o caso.
Não muito diferente das outras motos da categoria, esse motor se mostra um pouco barulhento e as aletas de arrefecimento amplificam o ruído mecânico das peças internas. O radiador de óleo executa um importante serviço para manter o lubrificante e o interior do motor em boas condições de temperatura. Não mostra nenhum sinal de detonação (batida de pino), mesmo em condições de uso mais severo.
Como já foi dito, o desempenho é um pouco melhor do que o das 150 ou 160 cc e a presença da sexta marcha modifica bastante a maneira que o motor se comporta em trechos longos e em velocidade de cruzeiro. Uma velocidade maior, em torno de 100 a 110 km/h (reais) é possível de se manter com tranquilidade, deixando o motor em rotação na faixa de 7000 a 8000 rpm. Para vencer subidas longas e mais íngremes, você reduz para quinta marcha e assim você consegue recuperar, manter e eventualmente aumentar a velocidade.
Há situações em que com apenas cinco marchas você ficaria obrigado a manter uma velocidade menor para não superar a faixa útil de rotação se reduzisse para quarta marcha. Essa característica ajuda bastante nas ultrapassagens e proporciona um desempenho que se aproxima, 250 cc. O menor escalonamento, entre quinta e sexta marchas permite uma queda menor de rotação e esse é o resultado.
As trocas de marchas são bem realizadas e apenas um pouco duras. A embreagem é leve e não sofre com o uso normal, mesmo sob pequeno abuso na terra ela se comporta bem. Os freios têm potência suficiente, porém o dianteiro tem curso excessivo e isso prejudica a sensibilidade, dificultando a modulação. No traseiro a sensação é um pouco melhor, mas poderia ser mais sensível.
Os pneus também poderiam ser melhores e suas limitações prejudicam uma boa ação e por que não dizer, uma boa avaliação da suspensão. A frente parece um pouco dura no início do curso e poderia mergulhar menos nas frenagens mais fortes, mas no geral tanto a suspensão dianteira quanto a traseira são boas e estão bem calibradas para o peso médio de um piloto de 85 kg. Como não pudemos ir além dos limites dos pneus, se tornou difícil para nós na avaliação chegar ao ponto onde elas também mostrariam suas limitações.
Não encontramos flexões no chassi de berço semi duplo que fossem importantes para a pilotagem. As boas ações da suspensão se mostraram limitadas pelas qualidades dos pneus. Em condições ideais (piso seco, liso e com boa aderência) os pneus respondem bem, mostrando as qualidades da geometria rápida e bem equilibrada, resultado das medidas voltadas para grande esportividade em terrenos ruins. O que prejudica uma resposta completa, nessas condições, são as características dos pneus. A troca por um par de primeira linha (Pirelli ou Metzeler) pode subir o preço final, mas compensa. O conjunto mostraria suas melhores qualidades pois percebe-se claramente que há mais potencial na suspensão que poderia ser melhor explorado.
Em apenas um ponto, no caso da suspensão traseira, percebemos um problema que pode ser dela e não do pneu. Há uma pequena folga no link que provoca perda de tração em pequenas e rápidas oscilações da roda traseira. O fabricante poderá melhorar essa condição se usar um pneu de melhor qualidade e uma graxa mais pesada nas buchas do link, para evitar a manifestação dessa folga. Providência fácil e barata.
A Traxx faz um movimento importante com a introdução da Fly 250. Uma moto que, pelo seu preço, se enquadra melhor na categoria logo abaixo das motos com cilindrada real de 250 até 300 cc. Ainda há pequenas coisas a melhorar, de fácil solução. Não comprometem o projeto que se revela em uma estratégia muito inteligente e desafiadora para a concorrência. Um serviço competente de pós venda e a presença mais marcante no mercado do Sudeste pode trazer mais confiabilidade ainda e maior volume de vendas para essa marca. Produto, a Traxx já tem, para essa que é uma das categorias mais concorridas do mercado brasileiro.