Doação de Órgãos: “Eu resisti… eu voltei pra vida…” Um rally pela vida. Por Magda Rosa
Por Magda Rosa. Especial para o Você e Sua Moto
“RALLY PELA VIDA. DOE ÓRGÃOS. SALVE VIDAS. EMBARQUE NESSA IDÉIA.”
Esta campanha nasceu de um desejo pessoal de demonstrar o quanto é importante a doação de órgãos e prestar uma homenagem à família do meu doador. Hoje tenho qualidade de vida e saúde, possibilitada pelo transplante. Há 3 meses atrás resolvi comprar um carro 4×4 e viver uma vida de possibilidades prazerosas, unificada com o desejo de um sonho que virou dupla realidade, a de participar do esporte de aventura off Road, que devido ao convite de alguns novos amigos que conquistei nos grupos off Road, me incentivaram a disputar o rally cearense de regularidade – 3ª Etapa, e eu aceitei o desafio e levei junto ao rally a campanha de doação de órgãos “RALLY PELA VIDA. DOE ÓRGÃOS. SALVE VIDAS. EMBARQUE NESSA IDÉIA” e resolvi ser a garota propaganda da campanha com a minha história de transplantada cardíaca com qualidade de vida. Aquilo que antes era uma paixão inatingível, tornou-se realidade. A campanha foi um sucesso!
Me chamo Magda Maria Rosa Mourão, sou nascida em Fortaleza-Ceará e tenho 46 anos, Sou bancária de profissão e Geógrafa e ambientalista de formação. Nasci com hipertrofia do miocárdio que é um estreitamento das cavidades internas do coração. Tive uma infância difícil, pois aos dois anos fui até São Paulo e me submeti a uma junta médica para exames e diagnóstico de meu problema.
Os médicos à época não sabiam que patologia era a minha, mas chegaram a uma conclusão de que minha mãe me levasse de volta pra casa e esperasse a minha morte, pois como o caso cardíaco era raro e desconhecido, eles nada poderiam fazer.
Desde então, minha morada era dentro de uma rede que balançava sozinha a cada pulsar de meu coraçãozinho. Fui crescendo sem poder fazer o mínimo esforço, pois ao apenas dar alguns passos eu desmaiava e só tornava quando posta em um balão de oxigênio de hospital dos grandes que tinha em minha casa para me socorrer de minhas crises. Dava por volta de 20 a 30 desmaios por dia, todo dia.
Essas crises perduraram até os meus 7 anos de idade quando cessaram de vez os desmaios, porém ficando ao mínimo esforço um cansaço que me obrigava a apenas assistir as brincadeiras infantis sentada a uma cadeira para não me sentir mal.
Fui convivendo com essa minha limitação e aprendendo a nunca desistir da vida. Na adolescência, eu já conseguia fazer algumas coisas quase que normal desde que estas não exigissem esforço fora de meus limites. Quando cansava parava imediatamente. Muito afeita aos esportes, jogava futebol como goleira na rua com meus irmãos, e escolhi jogar vôlei de quadra pela condição de menor esforço. Cheguei a ser atleta dos 13 até os 22 anos inclusive jogando pelas Universidades UFC – Universidade Federal do Ceará e UECe -Universidade Estadual do Ceará, das quais era aluna dos cursos respectivamente de Bacharelado em Geografia e de Licenciatura em Geografia, nas duas universidades cursadas ao mesmo tempo.
Ao tempo em que gostava muito de motocicletas e ensaiava umas brincadeiras pelas dunas de Fortaleza. Fui resistindo através do tempo com bravura, quando aos 43 anos minha patologia agravou-se e os remédios que eu tomava não surtiam mais efeito. Depois de idas e vindas a São Paulo e algumas cirurgias cardíacas sem êxito, fui diagnosticada como candidata ao transplante cardíaco imediatamente, pois meu coração já estava muito fraquinho e o médico me proibiu até de andar.
Voltei para Fortaleza e fiz todos os exames prévios para me submeter ao transplante cardíaco. Depois de três meses na fila de espera por um órgão, recebi a notícia de dois prováveis corações compatíveis com o meu biótipo. Pelo qual um dos doadores não foi efetuada a doação, porque um membro da família não havia concordado, inviabilizando assim a doação e a salvação de várias vidas que estavam a espera de um órgão. Eu estava na 7ª posição da fila, mas devido a minha gravidade fui colocada como a 1ª, pois não conseguia sequer pentear o cabelo sozinha ou escovar os dentes, sentia que a vida se esvaia aos poucos de mim. No dia 31 de março de 2008 fui operada e o meu novo coração passou a pulsar dentro de mim a 1 hora do dia 01 de abril de 2008. Eu tinha resistido a uma cirurgia de quase 8 horas de duração e estava viva na UTI do Hospital de Messejana com nove máquinas ligadas em meu corpo bipando.
Quando acordei, olhei ao redor do quarto e me vi naquela UTI com todas aquelas máquinas soando o bip em meus ouvidos, aí pensei: eu resisti… eu voltei pra vida… muito obrigada meu Deus por estar de volta à vida.
Dai passei 47 dias na UTI do hospital, pois tive algumas complicações pulmonares pós-transplante, além de uma depressão profunda que me acometeu que não conseguia mais nem comer, fiquei em uma cama de hospital deitada e tive de reaprender a andar novamente, pois não tinha força muscular de me levantar da cama sem ajuda.
Dos meus 56 kg quando ainda saudável ao longo de meu 1,65 m de altura fiquei com 43 kg, mas resisti novamente com bravura com a misericórdia desse meu Deus, e a ajuda do corpo médico e de meus familiares e amigos, em muitas correntes de oração que fizeram pelo meu retorno.
Hoje quero dizer, agradecer e mostrar a todos que a minha verdadeira missão apenas está começando.
Estou viva porque sou a verdadeira prova do milagre de Deus e da persistência pela fé. Tenho dedicado a minha vida inteira e agora mais ainda a divulgação dessa causa nobre, que é poder estar viva através da caridade e do amor incondicional de irmãos que eu nem conhecia, e que me salvaram a vida, sem interesse algum, apenas o de semear vida a quem dela estava fadada a perdê-la.
Nota do Editor – “Magda tem 34 anos de experiência no motociclismo, e foi a 1ª mulher em Fortaleza em 1982 a pilotar uma moto Honda CB 400. Hoje Hoje pilota uma Suzuki Marauder VZ 800 cc. Magda Rosa estará no Iguatu Moto Week onde será homenageada no Ano da Mulher Motociclista pela sua história de luta pela vida”
Essa campanha foi para prestar uma homenagem a Deus e à família que me doou o órgão. E também para esclarecer à sociedade de que é possível fazer o bem as pessoas desinteressadamente, é possível semear vidas, basta para isso que avise a seus familiares de que você é um doador de órgãos e que eles por favor façam cumprir a sua vontade.
O meu doador semeou cinco vidas, pois doou cinco órgãos a pessoas que estavam necessitadas de vida.
O nome de meu doador na terra era: Marcos Antônio dos Santos que aos seus 37 anos veio a ter morte encefálica vitimado de um acidente no trânsito de Fortaleza. Ao 1º de abril de 2008 ele fez a passagem para a vida eterna, e eu regressei de um lugar longínquo de sofrimentos infindáveis para semear lição de vida aos nossos irmãos. Então só deixo uma mensagem. Retornemos à vida e vamos novamente à luta meus irmãos!