Enquanto a multa custa muito caro, a vida vale nada.
Quase todo mundo já está sabendo que a partir de hoje as multas de trânsito ficaram mais caras. Muita reclamação, outros tantos a favor, mas uma queixa é a tônica deste momento: o valor das multas não é aplicado como deveria.
A multa tem efeito punitivo e, digamos, também educativo ao punir o infrator com a perda de dinheiro e até com a cassação do direito de dirigir. A reclamação de que os valores não são investidos em melhorias do trânsito procede e muitas autarquias usam essas verbas para pagar despesas burocráticas.
Mas a questão não é essa. Se você andar correto a multa dificilmente virá. A multa por bebida já era a mais cara de todas, mas deturparam por conta da polêmica do teste do bafômetro. Eu confesso que se é Lei tem que cumprir e o bafômetro não é a única forma de detectar embriaguez ou uso de entorpecentes.
Apesar de multas caríssimas e em contraponto com o que se arrecada, sabemos que muito mais seria arrecadado se a fiscalização fosse mais frequente – o que não é. E por isso, nos locais onde o braço do Estado não está presente, a coisa rola solta.
Em vários municípios e nos subúrbios de capitais anda-se sem capacete, sem documentos, bêbado e sem CNH. Recentemente uma grande confusão aconteceu por conta do emplacamento das cinquentinhas. Ora vejamos. As pessoas não podiam pagar ou não tinham escolaridade e por isso usavam motos que, por uma brecha no Código de Trânsito Brasileiro, não precisavam ser emplacadas.
Assim, outros que não queriam pagar as taxas de emplacamento, compravam essas motos também. Para piorar a situação, como não tinham placas, uma parte dos que pilotavam essas motos fazia o que queria. Hoje os que realmente tinham problemas para habilitar a moto e a si mesmo estão sem poder usá-la. Apesar de reclamarem, todos sabiam, ou pelo menos desconfiavam, que um dia essa brecha seria reparada. Decidiram correr o risco.
Mas o problema não para por aí. Tem ainda a impunidade. Mesmo com multas pesadas a legislação de trânsito no Brasil é branda ao ponto de você matar uma pessoa e ir para casa em paz e responder um processo em liberdade, que ao final, acaba dando em pizza ou cesta básica e quem sabe, trabalho comunitário.
A vida precisa valer e quem mata ou causa acidentes graves com sequelas definitivas precisa ser punido como criminoso comum. Onde reina a impunidade, lei nenhuma e fiscalização nenhuma vai dar jeito.
O Brasil é o quarto nas três Américas em mortes no trânsito, atrás, por exemplo de Belize, República Dominicana e Venezuela. Enquanto o governo não faz a sua parte, faça a sua. Dirija com cuidado e dentro da lei, por que uma coisa é certa: você é um acidente esperando acontecer.
Enquanto a multa custa muito caro, a vida continua a valer nada.