Do que as mulheres também gostam!

Do que as mulheres também gostam!

Por Luís Sucupira *

As mulheres mudaram e a mudança delas nos fez aprender coisas que há alguns anos eram apenas coisas de mulher também. Já não é espantoso ver homens que sabem cozinhar, lavar, passar, cuidar de filhos, arrumar casas e fazer uma boa faxina. Mulheres estão comandando mais e ganhando mais. Vendem melhor que os homens, ensinam melhor, compram melhor, sabem pechinchar e estão aprendendo a comprar tecnologia muito mais que os homens.

E, agora, computador e tecnologia são coisas de mulher! Alías, é mais coisa de mulher que de homem. Desde de 2003 que mais da metade de tudo que se compra em tecnologia na América do Norte é adquirido por elas. Dos 96 bilhões de dólares vendidos por essa indústria em 2003, 55 bilhões saíram das bolsas das mulheres. E não ficou só nisso, elas também ‘botaram o bloco na rua’ e se queixaram de um tal mercado que não se preocupa com elas. Acostumadas a discutir a relação, a qualquer hora do dia ou da noite, as filhas de Eva, detonaram a serpente, jogaram a outra metade da maça fora e decidiram reformar o paraíso tirando o sono de fabricantes de computadores e de tudo mais que a ele se relaciona. Em suma, chamaram Adão e resolveram, também, discutir essa relação.

Irritadas, 74% delas reclamaram dos vendedores que falham no atendimento e não têm muita paciência em explicar tudo nos detalhes. 66% delas disseram não ter encontrado o produto que queriam; e olha que as mulheres procuram. Basta lembrar que elas conseguem rodar o dia inteiro, visitar dezenas de lojas, almoçam e jantam na rua para trazerem, na maioria das vezes, alguns pequenos pacotes. Em crise de relacionamento com um tal mercado de tecnologia, as divas afirmaram que faltou variedade. Que elas gostam de variedade todos também sabemos. Mas em tecnologia também? – Sim! 55% delas reclamaram que a relação estava sem criatividade e que não tinham opção. Faltava atenção, fantasia e romantismo. Elas detestam entrar numa loja e ter pouco com o que sonhar, olhar e comparar.

Mas tem muito mais nessa crise de relacionamento. Para as antigas donas de casa e agora as donas do mundo, as mulheres reclamaram que as lojas de tecnologia foram feitas para homens. Cansadas de buscar e não encontrar quem explique tudo nessa relação fecharam questão e querem aprender tudo sobre tecnologia, mas, mesmo sabendo de tudo, elas desejam que alguém converse com elas sobre o assunto e numa linguagem que possam entender.

Tentando assimilar o tamanho da crise, fabricantes foram ao divã perguntar a Freud o que as mulheres querem e saíram de lá com a constatação de que nem ele, o poderoso Freud, conseguiu responder a essa pergunta. Certa vez perguntaram a Freud qual a pergunta que ele não conseguira responder. Sem pensar Freud respondeu: “What does womans want?” Em bom português: “O que as mulheres querem?”. Tirando Freud da conversa nossas musas querem apenas que se preocupem um pouco mais com elas. Resumindo: que as escutem, simplesmente. Mas quem pode melhor ouvir e entendê-las? Outras mulheres! Diante da constatação de que os fabricantes precisam conhecê-las melhor se quiserem vender para elas, imediatamente mergulharam em pesquisas e descobriram muito mais do que estava escondido por trás da carregada maquiagem do mercado.

Chegaram a conclusão que foram os últimos a saber quando contataram que 41% ainda compram eletrônicos na companhia de homens. Mas isso também está acabando. O índice de confiança delas para comprar tecnologia aumenta a cada pesquisa. Em 2003, sem precisar de nenhuma ajuda masculina, cerca de 44% compraram celulares, 37% adquiriram equipamentos de vídeo, 31% computadores e 34% levaram para casa novas impressoras sem ter que pedir nenhuma opinião a qualquer descendente de Adão. Em marcha pela independência, desceram do salto e falaram abertamente do que sentiram durante as compras quando o assunto era tecnologia ou eletrônicos: 60% se sentiram confiantes, 41% descreveram sentirem-se ‘confusas’ e até ‘estúpidas’; 39% reclamaram do excesso de informações sensoriais (para quem não sabe, mulheres gostam de pegar, cheirar, testar, provar e saber se serve mesmo. Coisa de pele.). Pára por ai?-Não! Tem mais: 23% delas sentiram-se enfastiadas toda vez que necessitaram adquirir aparelhos eletrônicos.

A beira de um ataque de nervos, os fabricantes descobriram ainda que as mulheres compram pacotes e soluções completas, enquanto os homens preferem adquirir em separado. Mulheres procuram obter o máximo de informações sobre um produto antes de adquirí-lo. Ligam-se mais no visual do produto e preocupam-se em saber como cada aparelho irá se adequar ao seu estilo de vida, segurança, garantia, facilidade de operação e a decoração da casa.

Depois dessa constatação a TPM (Tensão Pré-Mercadológica) de fabricantes e lojistas chegou para ficar e, pelo menos, uma vez por mês, reúnem-se para renovar a fertilidade no campo das idéias. Perdidos em seus pensamentos os homens começaram a agir e deixaram de analisar a vida como é para a realidade como está e, mais uma vez constataram não ser nenhum pouco romântica nessa crise. Não é de admirar pois, se os homens não observam detalhes, não conseguem assistir televisão e conversar outro assunto e ainda não percebem pequenas mudanças no visual das suas próprias companheiras, com certeza, também não iriam perceber do que as mulheres gostam em tecnologia! Para a maioria dos homens três botões bastam-o sim, o não e o talvez, mas as mulheres pensam diferente. Quanto mais botões melhor, desde que todos sirvam para alguma coisa útil!

E assim, constataram que, suas companheiras e as amigas delas, são mais curiosas em relação aos benefícios que estão comprando e se, o produto, de fato, irá facilitar as suas vidas. Reclamam da postura machista ao afirmarem que a maioria dos produtos eletrônicos não são fabricados pensando nas mulheres. Em dúvidas se essa máxima estava correta, fabricantes e lojistas de produtos de tecnologia e eletrônicos tiveram mais uma surpresa: descobriram que 25% das mulheres acham que esses produtos são feitos realmente para homens. E ainda colocaram mais lenha na fogueira e vestiram calça jeans no lugar das lindas camisolas ao concluírem que a maioria dos engenheiros e designers era formada por homens.

Estarrecidos com o que ouviram os fabricantes buscaram ajuda dos departamentos de RH, que na maioria dos casos é composto por mulheres, para abrir seleção e contratar designers, engenheiras, técnicas, pesquisadoras para estas e outras funções exclusivamente masculinas. Teve indústria que chegou ao ponto de decidir que nada mais deveria sair para o mercado se não for perguntado a elas se “estava bom” e se era “do gosto delas”. Tudo isso para não perderem esse mercado, ou melhor, essas bolsas e esses cartões de vista.

Os lojistas também estão mudando. Os treinamentos são mais detalhados e muito mais explicativos. Elas já perguntam tudo e só passam a vender quando descobrem que se sentem seguras para informar e para consumir.

Unidos nessa ação, fabricantes e lojistas de lojas de tecnologia e eletrônicos reconheceram os erros e bem ao estilo Mel Gibson no brilhante filme ‘Do que as mulheres gostam?’ e resolveram vestir, alguns literalmente, os sentimentos das suas musas inspiradoras. Não para escrever poemas, mas para vê-las felizes e radiantes produzindo o que elas querem para que possam comprar e comprar, cada vez mais, tecnologia.

Por sua vez, nós homens, estamos cada vez mais aprendendo com elas sobre as suas coisas e seus pensamentos. Daí não se espantem, se num futuro bem próximo, você ou eu ficarmos em casa cuidando das crianças, perguntando o que elas desejam jantar e pedindo para deixarem os sapatos na entrada da residência para não sujarem a casa que acabamos de limpar, pois hoje, elas já bebem uma cervejinha na sexta, levam o carro na oficina, pilotam motos de grande ciclindrada, tunam carros, montam computadores, programam sites, dirigem taxis, sustentam suas famílias sozinhas e, ao lado de um companheiro, comandam o orçamento da casa. Basta ver quantas contas conjuntas existem no universo dos casados e ver quem mais utiliza cheques para pagar as contas.

Se você é homem não precisa tentar entender as mulheres. Nem elas conseguem explicarem-se. Precisa apenas satisfazê-las, ouví-las, oferecer variedade, ser gentil e atencioso, conceber produtos que elas achem ‘lindos, fofos’ e que funcionem com poucos botões e ainda fornecerem muitas e detalhadas informações sobre o que se vende. E cuidado, pois mesmo não sendo batom sua marca pode cair no boca-a-boca das mulheres. E não duvide: é o que mais funciona. Se for ao seu favor é loja cheia e se você é indústria verá produtos fazendo sucesso. Caso contrário, ainda sobraram alguns segmentos nos quais elas ainda não conseguiram dizer do que elas gostam e, quem sabe lá, neste ainda distante lugar, você poderá esquecer que o mundo, agora, não só usa mais bigode e barba-usa também batom, fala macio e gosta de tudo que é belo e fofo( Ou por dentro ou por fora).

Mas não deixe de lutar por seus direitos, pois aqui em casa a última palavra ainda é a minha: “Quer mais algumas coisa, amor?” “Você está satisfeita?”. Lembre-se da profecia que um dia pode acontecer de você ou outro filho de Adão necessitar ir a uma ‘delegacia de defesa de direitos dos homens’ e pode ter pela frente uma delegada bem feminina, bonita, com uma arma prateada e na ponta da mira um brilhante perfeito guardados num coldre em legítimo couro Pierre Cardin. Ela vai olhar desconfiada de você no dia que for lá reclamar os seus direitos.

Fique atento, pois agora, você e a sua empresa sabem do que as mulheres também gostam.

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Colunista

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