Geração fast food: Do radar para a cozinha.
O ano é 1946. O engenheiro eletrônico Percy Lebaron Spencer é diretor de uma indústria de sistemas eletrônicos militares e está a poucas horas de descobrir por acaso um dos eletrodomésticos de maior popularidade na vida moderna. Nesse dia, Percy saiu de casa com uma barra de chocolate no bolso da calça. Ao chegar à empresa ele retoma os testes com o magnétron utilizado como gerador de microondas para radares de longo alcance. Os testes caminham bem e de repente dá aquela fome e ele põe a mão no bolso para pegar o chocolate. Para sua surpresa o chocolate está completamente derretido.
Percy achou aquilo esquisito e imaginou que as microondas poderiam ter alguma coisa a ver com o derretimento do seu lanche. Percy saiu do laboratório e foi em casa trocar a sua calça quando teve outra idéia. Trouxe desta vez milho para pipoca. Colocou o milho na frente do magnétron e em poucos segundos eles começaram a explodir como pipocas pelo laboratório. No dia seguinte testou com um ovo que ele colocou dentro de um pote com um buraco lateral para observação. Um amigo curioso resolveu mexer no que estava quieto e o ovo explodiu na sua face.
A curiosidade aumentava e as dúvidas também, mas Percy precisava descobrir como isso acontecia. Após alguns testes mais descobriu que o aquecimento se dava de dentro para fora e se acontecia assim poderia ser aplicado em outros tipos de alimentos. Foi o que fez. Elaborou um forno microondas de tamanho menor e assim, seis anos depois chegava ao mercado o primeiro microondas. As primeiras unidades ficaram restritas a restaurantes e empresas fornecedoras de refeições quentes. O nome dado ao microondas era Radar Range o mesmo que utilizou para registrar a sua patente.
Apesar de ser uma grande invenção a falta de design atrapalhou bastante a popularização do microondas. Na realidade o Radar Range era um trambolho grande, feio e pesado que tinha a forma mais parecida a um artefato militar que com um forno.Um ano mais tarde o microondas passa a ser fabricado por outras empresas e com a inclusão do design passa a fazer sucesso. Desta vez parecia-se com um eletrodoméstico e tinha tamanho de algo que poderia ser encaixado facilmente na cozinha. Ou seja: alguém ouviu as mulheres e fez algo com cara de coisa de cozinha e não com caixa de munição.
Hoje os microondas estão mais inteligentes e incorporam timers e pré-regulagens para facilitar a preparação de refeições de vários tipos. Tudo microprocessado: um computador para preparar alimentos e refeições. Alguns alimentos são planejados para serem produzidos em fornos microondas. Descongelam, cozinham e avisam quando os alimentos estão prontos. Tudo com um só toque. Enquanto você deixa-o lá trabalhando faz outra coisa. Isso permitiu que muitas famílias e a maioria dos solteiros que de cozinhar entendem quase nada possam elaborar refeições em pouco tempo. Em vários flats já não existem mais os pequenos fogões, só microondas. Da água quente ao arroz, quase tudo pode ser feito neles. No Brasil o boom dos formos microondas ocorreu em 1980. Ter um na cozinha era o mesmo que ter hoje uma geladeira conectada a internet, mas toda novidade tecnológica traz além de vários porquês pelo menos um senão.
Microondas hoje é algo relativamente barato e muito popular no Brasil. Apesar de consumir grande quantidade de energia, os fornos microondas resolvem um problema da vida moderna que gerou a síndrome do fast food e da comida requentada derivados da falta de tempo até para comer. O prazer de preparar uma refeição ficou mesmo para os fins-de-semana daquelas pessoas que adotaram a cozinha como hobby. Recente pesquisa mostrou que o brasileiro come mais fora de casa. Isso inclui o café-da-manhã que geralmente é tomado na rua, na padaria da esquina (alguns comem dentro do carro) ou em alguma lanchonete perto do trabalho(outros levam o pacote de biscoitos que comem com o café que é servido na empresa)e, lá também, estão presentes os microondas que ainda continuam consumindo muita energia elétrica. É uma praticidade que hoje precisa ser revista por conta do apelo ecologicamente correto. Cozinhar artesanalmente (como chamam hoje) é algo quase excêntrico de pessoas que gostam de cumprir com rituais ancestrais de fazer uma comida prontinha, feita na hora. Alguns chegam ao extremo de fazer em panela-de-barro ou de ferro sob a alegativa que são mais saborosas. Realmente, apesar da praticidade de um microondas aquela comida saída na horinha e feita numa panela de barro ou ferro tem sabor inigualável e quando é feita com o amor das nossas mães e avós é inesquecível pelo cheiro e pelo sabor.
E por falar nisso em odores, a última palavra em marketing é o marketing do cheiro. Foi apostando na memória olfativa que algumas empresas especializadas em marketing de varejo estão ganhando dinheiro vendendo odores para lojas. Tais odores ajudam o consumidor a identificar-se com sentimentos de segurança, tranqüilidade e desejo. Por exemplo, nada melhor que sentir uma essência de picanha dentro de uma churrascaria ou de sentir o cheiro de um sorvete preferido quando entramos numa sorveteria. O cheiro, o visual e o sabor são coisas que os microondas ainda não superaram apesar de toda a tecnologia e praticidade que eles carregam.
Este é outro problema dos microondas. A sensação provocada pelos odores na preparação de uma refeição quase não existem e isso faz com que comer seja mais uma obrigação que um prazer. É mais ou menos como ver na TV uma pessoa degustando uma feijoada. Você até imagina o sabor e lembra do cheiro, mas pra saber mesmo que gosto tem, só provando. E ai junta-se a fome com a vontade de comer.