Quando tudo dá errado…
A história é repleta de estratégias que fizeram água.
Titanic. 15 de abril de 1912. O navio que nem Deus afundava foi a pique antes de terminar a primeira viagem abatido por um iceberg.
Se procurarmos uma explicação, uma palavra que resuma todo o desastre podemos afirmar que o Titanic afundou por imprudência. A forte competição das companhias de transatlântico que buscavam oferecer mais conforto e rapidez fez surgir navios enormes e muito luxuosos. A White Star e Red Star, competiam fortemente pela preferências dos imigrantes europeus. A White Star lançou três navios muito modernos para a época. O Gigantic(depois rebatizado de Britanic), o Olimpic e o Titanic. A sorte já havia alertado a companhia para ter cuidado com a sua arrogância. O Gigantic virou um navio hospital e afundou na primeira guerra. O Olimpic bateu antes de iniciar a primeira viagem. Já o Titanic foi concluído às pressas para ser colocado em atividade. Tamanha ansiedade só poderia gerar algum problema futuro. Soma-se a ansiedade e o excesso de confiança, a adoção de tecnologias que ainda não haviam sido suficientemente testadas – como a nova liga de aço que mostrou que rachava, em vez de deformar-se, quando submetida a baixíssimas temperaturas. O excesso de confiança e a ansiedade de conseguir chegar um dia antes do previsto em Nova York fez com que a viagem prosseguisse à noite num caminho extremamente arriscado, numa rota cheia de icebergs. De dia já é complicado conseguir enxergar icebergs, à noite então nem se fala. Mas a série de erros não parou por ai. Apenas dois terços dos botes salva-vidas estavam no navio. A explicação para tamanha imprudência tinha duas razões: a primeira era para aumentar o espaço do convés. A outra era por que, simplesmente, o Titanic não afundaria. Por isso, não precisava de botes salva-vidas. Os responsáveis pelo projeto Titanic tinham um bom produto nas mãos, mas seu plano era regido pela emoção e pela vaidade. Entregaram à sorte de todo um trabalho, na reta final, ao acaso. Simplesmente não aventavam a possibilidade de um acidente que pudesse afundar o maior e melhor navio do mundo. Castigo de Deus? Não. Imprudência dos homens que desprezaram riscos. Lembre-se disso sempre que estiver executando um plano. Mantenha tudo sob controle e o olhar fixo no objetivo final. Algumas metas podem e devem ser superadas, mas precisa estar certo que todas as condições estarão favoráveis. Outro ponto importante é não deixar envolver-se por sentimentos superlativos pois, a emoção cega, a ansiedade ensurdece, a vaidade destrói a autocrítica e a imprudência elimina a capilaridade com o perigo.
Não bastasse tudo isso junto uma última imprudência acabou por matar a maioria das pessoas que conseguiram saltar no mar. A temperatura da água era inferior a 10 graus. Mesmo que conseguissem saltar no mar com vida e com os coletes salva-vidas, fatalmente morreriam de hipotermia em poucos minutos. E mais: por terem alardeado aos quatro ventos que o Titanic jamais afundaria, nenhum navio acreditou nos pedidos de socorro e nos sinais luminosos. Pensavam ser mais uma festa a bordo do maior e melhor navio do mundo. O navio feito para nunca afundar.
Desprezar avisos. Não saber quando parar e querer mais sem avaliar se é possível é uma peculiaridade da maioria dos homens. Esta é uma lição que a vida ensina de maneira dura. Quem ultrapassa os limites de um objetivo corre o risco de por tudo a perder. Portanto, não comece nada sem antes saber como vai terminar, principalmente, como pode terminar. É para isso que as estratégias existem. Elas proporcionam caminhos seguros para se atingir o sucesso. Não se deixe iludir pelo final feliz que está imaginando.
Os mesmos fatores levaram o brilhante Napoleão Bonaparte a perder a guerra para os russos. Os russos venceram por saberem utilizar a seu favor a informação. Napoleão perdeu por achar que os russos se entregariam fácil por não querem lutar com ele. Para ele seria fácil lutar e vencer um exército pobre e desarmado. Os russos conheciam os rigores do seu inverno e sabiam utilizar a estratégia da terra arrasada. Na medida que recuavam queimavam suas cidades, destruíam provisões deixando para trás um cenário de desolação. Os franceses enfraqueciam e sucumbiam ao frio e as emboscadas. O exército de Napoleão bateu e retirada deixando para trás tudo que não podia carregar. Hilter também não deu ouvidos a história e começou a ser derrotado quando perdeu a batalha de Leningrado para os mesmos russos.
Os americanos, conhecidos por serem extremamente cautelosos e planejadores, também sofreram por não considerarem os riscos. Tomaram uma grande surra e foram desmoralizados no Vietnã lutando contra um exército faminto e mal armado.
O dia 11 de setembro de 2001 ficou para sempre na história como o dia que mudou definitivamente os rumos da humanidade. Nada teria acontecido se os americanos não tivessem subestimado o aviso que terroristas realizariam atentados contra prédios utilizando aviões. Antes disso, outros terroristas tentaram destruir o WTC explodindo uma bomba na garagem subterrânea. Pouco tempo depois os terroristas destruíam as torres gêmeas, parte do Pentágono e por pouco, não fosse a bravura dos passageiros do último avião, a Casa Branca, também sumiria da lista de cartões postais da América. Podemos avaliar o caso de duas formas. A primeira por subestimar a capacidade dos terroristas e acreditarem que ninguém conseguiria atacar a poderosa América no seu próprio país. Os terrorista fizeram pior. Utilizaram os aviões das maiores companhias dos EUA para destruir seus próprios símbolos. Sob o ponto de vista do planejamento a operação dos terroristas de Bin Laden foi praticamente atingido. Queriam mostrar que a América não era blindada e queriam ainda que tudo fosse filmado e documentado, ao vivo, sem cortes. Conseguiram. Todo o projeto de segurança da maior e mais poderosa nação do mundo tinha um furo. Os americanos sabiam, mas, não acreditaram. Agora acreditam.
Quando estiver formulando estratégias considere todas as possibilidades, mesmo as mais absurdas. Não feche os olhos a uma análise fria e desapaixonada antes de emitir qualquer opinião. A vaidade e a imprudência podem fazer desprezar tendências e naufragar no mar de oportunidades que o mundo a todo tempo sinaliza.
Ao ridicularizar o novo, ao negar o diferente, ao virar as costas a uma tendência você estará abrindo um furo no seu plano.
Luis Sucupira
Marketing e Vendas