Os líderes aparecem no escuro!
“O consenso é a negação da liderança.”
(Margaret Thatcher)
Dentre muitas coisas que deverão mudar completamente nos próximos anos, uma delas será, com certeza, a liderança. Um dos grandes responsáveis pela atual crise irresponsável financeira mundial é exatamente a falta de líderes comprometidos com objetivos outros que estejam além do próprio bolso e ganância.
Cada vez que me lembro da farra que foi o esbanjamento de dinheiro aprendo como não se deve liderar, nem projetos, nem pessoas. De nada adianta listar aqui os ruins. Acredito que todos nós sabemos de cor quem são eles e o que fizeram. Mas vale discutir sobre os novos líderes que estarão surgindo e qual o perfil destas pessoas nas empresas.
Há vários conceitos de liderança e eu não vou tratar do tema sob o aspecto filosófico, mas sob o aspecto do dia-a-dia.
Liderar hoje é influenciar pessoas. Nada tem a ver com manipular que, trocando em miúdos, nada mais é do que um estupro espiritual do caráter humano. Influenciar tem a ver com exemplo. Dar exemplo é fazer seguidores sem manipular. É dividir o mesmo objetivo dentro do que podemos chamar de uma boa causa ou ética.
Um líder é um criador de líderes. Sim, os verdadeiros líderes tem prazo de validade. Eles começam um projeto de olho em outro desafio. Antigamente, há uns vinte e poucos anos, liderar era apenas chefiar. O famoso tomador-de-conta. O tomador-de-conta era aquela pessoa que fora imbuída de realizar determinadas tarefas que lhes eram atribuídas e por isso era avaliado. Quase sempre dizia não e normalmente era mal-humorado. Fazia de tudo para aposentar-se no cargo e detestavam a idéia de que um dia seriam substituídos. Pior: não aceitavam contestações e muito menos concorrentes ou substitutos. Quem se candidatava a ser um substituto do chefe deveria ser seu amigo fiel e era escolhido pela grande capacidade de obedecer cegamente em detrimento da competência. Quando estes chefes adoeciam, tiravam férias, aposentavam-se ou morriam era o caos. A empresa abria vaga e um novo chefe era chamado para substituir o anterior. A empresa perdia três preciosos anos preparando o novo chefe. Essas pessoas faziam questão de serem insubstituíveis a tal ponto que não cresciam na empresa, pois não existia ninguém para ficar no lugar deles. Estabeleciam-se pelo poder auferido de cima para baixo e não pelo respeito adquirido através de qualidades como competência, confiança, humanização etc. Hoje o cenário é outro.
O líder de hoje e dos próximos anos já assume uma função sabendo que para crescer precisa arrumar um substituto. É assim que ele prepara-se para o próximo salto na carreira. O líder de hoje mistura-se com seus liderados e conhece cada um dentro das suas características, qualidade e defeitos. Ajuda-os a crescer e decide em conjunto. Monta o seu time de forma a atingir o objetivo e define as metas e responsabilidades com a sua equipe. A liderança atual traz um conceito interessante de comprometimento baseado nos valores pessoais e nos da empresa. Divide lucros e méritos. Estão mais preocupados com o objetivo a alcançar do que com a patente.
Preparar o substituto é fundamental para habilitar-se a executar uma nova função. Ser substituível faz parte do novo modelo de liderança. Muitas empresas cometem erros ao levar a sério a regra que “santo de casa não faz milagre”, mas é o contrário quando tratamos de lideranças. Ninguém nasce líder. A liderança é algo que adquirimos em razão das circunstâncias e dos desafios que nos vão sendo apresentados.
Ram Charan-autor de O Líder Criador de Líderes e consultor de executivos tais como Jack Welch, observou por décadas a forma como líderes se desenvolvem ou não. Uma verdade constatada foi a de que nem todos podem ser líderes. Para ele, os líderes são diferentes de todas as outras pessoas em aspectos que nenhum volume de aulas ou instrução será capaz de desenvolver. Eles pensam e agem de maneira diferenciada. É possível identificá-los se você souber o que procurar.
A pesquisa Desvendando o DNA da Força de Trabalho Adaptável, realizada em todo o mundo pela IBM confirma que com o crescimento dos mercados emergentes e a aposentadoria de pessoas experientes, as empresas colocarão em risco suas estratégias de crescimento se não puderem identificar e desenvolver a próxima geração de líderes.
O estudo mostra que 52% dos executivos dizem que há uma incapacidade dos funcionários e das empresas em aprimorar rapidamente conhecimentos para atender às necessidades do negócio. Afirma também que 36% dos entrevistados disseram que seus colaboradores não estão alinhados às prioridades atuais da organização. As empresas preferem buscar novos líderes dentro de casa, mas ainda não encontraram uma maneira de criar um banco de talentos ou de futuros líderes.
Algumas ações, comportamentos e decisões revelam o verdadeiro potencial para a liderança. Se você deseja ser um líder descubra se é motivado e apaixonado em relação à liderança; se entende o negócio e conhece fundamentos para gerar dinheiro; se compreende os requisitos para realizar bem o trabalho de seu superior; se continua aprendendo algo continuamente; se gosta de trabalhar com pessoas diversas e de alto nível; se sabe lidar com situações cada vez mais complexas e incertas utilizando os fracassos ocasionais como oportunidade de aprender; se mostra curiosidade em relação a temas fora de sua área de especialidade; se obtém bons resultados; se fala sobre unir e motivar os outros para atingir metas; se tem motivação para moldar o ambiente externo e progredir; se possui uma metodologia para continuar a desenvolver novas habilidades e ajustar suas características de personalidade a fim de atingir tais sonhos. Se você tem todos os Se´svocê está no caminho. E não esqueça que a habilidade de comunicação de um líder é o reflexo do poder pessoal de influenciar os liderados.
Líderes detestam as palavras impossível, difícil, não dá certo ou a frase Nem tente. Nós tentamos e não conseguimos. Isso é uma provocação dolorosa e soa como um grande desafio.
No livro O Monge e o Executivo, o autor James Hunter trabalha os princípios fundamentais dos verdadeiros líderes através da ficção vivida pela personagem John Daily, um homem de negócios bem-sucedido que se sente fracassado como chefe, marido e pai. Na sua busca para retomar o controle da situação, ele decide participar de um retiro sobre liderança num mosteiro beneditino.Da estória tiramos algumas lições. Saber ouvir é uma das habilidades mais importantes. Pessoas não são gerenciadas e sim lideradas e poder é diferente de autoridade. Sob poder, as pessoas são obrigadas a agir conforme alguém manda (manda quem pode e obedece quem tem juízo). Já a autoridade leva as pessoas a fazer as coisas de boa vontade. Uma das grandes virtudes do líder é o caráter, o compromisso em fazer o certo e o justo pelas pessoas. Autoridade tem a ver com respeito e não com poder, mas na mente da maioria das pessoas as duas palavras dizem a mesma coisa.
Certa vez perguntaram a um sábio como fariam para descobrir um líder, onde procurar e o que observar. O sábio mandou olhar o céu e descrever o que viam. Todos disseram que estava um lindo dia com um céu azul perfeito. O sábio disse que o procurassem á tarde. Voltaram à tarde e fizeram a mesma pergunta e o sábio mandou olhar de novo para o céu. O céu estava cinza, nublado. O sábio pediu que viessem à noite. Desconfiados e sem respostas, acharam que o sábio estava enrolando, mas decidiram voltar na hora combinada. Á noite fizeram a mesma pergunta e o sábio mandou novamente olhar para o céu. Todos disseram que estava cheio de estrelas. O sábio então respondeu que os líderes são como as estrelas. Só aparecem no escuro. De dia, quando tudo está claro e é fácil de achar as coisas e caminhar, vocês não os enxergam. Quando o tempo está nublado também não; mas quando escurece e as condições ficam difíceis eles aparecem.
Os novos líderes estão surgindo como novas estrelas em meio a escuridão deste momento. E se este momento é de oportunidade é hora, quem sabe, de fazer a sua estrela brilhar (se essa é a sua vocação) no meio da noite, antes que o novo dia comece. Oportunidade é a primeira característica do líder que acredita que sorte é quando a preparação encontra o momento certo.
E não esqueça: não é época de mudança e, sim, mudança de época.