Combatendo o preconceito contra motos (Parte 1)
(*)Por Vagner Alexandre Abreu
O motociclismo ainda é visto com “maus olhos” por muitos. Está mais que na hora de desmistificar, esclarecer e colocar no devido lugar de respeito.
A primeira coisa que uma pessoa desacostumada com o motociclismo pensa é “vou cair com esta moto”. Ou “é um risco enorme andar nesta coisa”.
Sim, sem hipocrisias, qualquer pessoa pode cair com uma moto, tal como pode cair com uma bicicleta ou capotar com um carro. Nos três casos, vale a mesma máxima: “atenção, respeito e controle”. Precisamos estar atentos para conduzir um veículo com segurança, respeitar o meio onde estamos e ter o controle da situação, ou seja, ter consciência de o que faz com o veículo.
Só que com motos, há uma ideia válida que há um risco maior, tanto pelo fato da potência e velocidade, quanto da postura de condução.
Motociclistas plenamente conscientes respeitam o máximo as legislações de trânsito vigentes e conduzem a moto de forma segura, procurando evitar situações de risco para si e para outros em sua volta. Velocidades condizentes com a condição de via (e conforme determinações de trânsito), manobras bem sinalizadas com antecipação e preparação para evitar sustos…
Infelizmente, há um grande número de motociclistas que fazem justamente o contrário:
Andam acima dos limites de velocidade;
Conduzem as motos de forma arriscada, sem atenção ao arredor;
Fazem manobras que podem causar acidentes fatais;
Descaracterizam as motos, fazendo principalmente modificações no escape, assim deixando o som do escapamento mais ruidoso, o que acaba sendo incômodo para boa parte da população.
Usam a moto como se fosse um carro, com mais de duas pessoas por exemplo.
Andam sem equipamentos mínimos de segurança.
Soma-se ainda o fato que se usa as motos para práticas criminosas, como roubos, furtos e arrastões.
Por causa deste tipo de atitude, o motociclismo é visto com maus olhos pelas autoridades, pela população, e assim difunde-se a má ideia de que “motociclismo é prejudicial ao trânsito, a mobilidade, a vida social”.
O que é necessário então para mudar estes conceitos infelizmente adicionados na cultura brasileira?
Eis a discussão que quero levantar com este texto. Provavelmente cada motociclista deve ter sua ideia sobre como mudar isso. O que precisamos é de um consenso que possa ser usado como forma de mudança educacional, de mudar a cultura que vê as motos como “vilãs”, tratando a moto como mais um membro do trânsito, que tem sua utilidade e benefícios.
Mudando “maus” motociclistas.
Essa deve ser a primeira e mais primordial atitude a ser feita. Não adianta mudar a visão da população que não usa moto, sendo que não mudamos também a visão de muitos que usam a moto de forma prejudicial à própria população.
A primeira coisa que deve ser feita é tentar tirar a concepção de uso de moto como forma de “recreação em vias públicas”, fazendo um motociclista que comete crimes de trânsito entender que o que ele faz pode uma hora voltar a si mesmo.
“Ah, mas não tou nem aí, o que importa é curtir a vida, melhor morrer vivendo o máximo do que viver sem fazer nada”. Eis um dos primeiros problemas — existe o conceito de “viva muito, morra jovem”, que acaba contribuindo para atitudes displicentes com a vida. Isso deve ser modificado. Tem que se fazer entender que é possível “viver muito” e ao mesmo tempo “continuar vivendo”. E não precisa ser uma pessoa religiosa para isso.
Tem que se entender que o prazer tido com os abusos nas vias públicas é um prazer corrosivo, prejudicial. E que é possível trocar este prazer por outro, que lhe permite viver melhor e com pleno prazer.
Quer correr? Quer manobrar? Ao invés de fazer isso em uma via pública e correr o risco de morrer e não ter uma ambulância para buscar, faça isso em lugares fechados, como autódromos e espaços que possam ser fechados para isso. Faça um “track day”, um evento de manobras, mas tudo isso de forma legal. E isso não é coisa de “tio chato”, pelo contrário. As equipes de manobras profissionais como “Força & Ação” ou equipes de corridas profissionais são assim. E não é tão caro, se pensar na relação risco vs. ganhos.
Outro ponto é mudar as formas de educação no trânsito para que quem usa hoje motocicleta como usava um cavalo ontem, o faça de forma inteligente, dentro da lei. Por que não fazer um uso maior da resolução 265 do Contran e habilitar mais escolas públicas para fazer o curso teórico de trânsito? Ou mais projetos para emissão gratuita do CNH em lugares onde há problemas de um grande número de pessoas não habilitadas conduzindo automóveis?
Por quê não fazer um grande projeto de educação de trânsito que possa ser feito como o antigo “Telecurso”? Seja on-line, ou via televisão mesmo. Fazer propagandas que eduquem realmente sobre a necessidade de uma condução segura.
Fazer “propagandas virais”, fazer este assunto cair na boca do povo?
Nestes últimos casos sobre educação, se vê que o ponto para mudar parte do problema se vê no entendimento que educação no trânsito é algo global, e que moto é parte disto. Não se pode deixa-lo a parte quanto isso. Claro que aprender a conduzir uma moto difere-se da condução de um carro quanto a posição de condução, comandos e outros. Mas o princípio é o mesmo: acelera-se, pára-se, sinaliza-se.
Co0ntinua – Aguarde a parte 2