Denatran tem que abolir uso dos Guard Rails Assassinos
(*) Por Mário Sérgio Figueredo
Há alguns dias entrei em um blog da web e uma matéria me chamou a atenção. O assunto era sobre os “guard rails assassinos” que são utilizados em nossas rodovias. No texto, o blogueiro contava em detalhes tétricos de como assistiu de perto ao acidente que tirou a vida de um irmão motociclista que viajava poucos metros à sua frente.
Segundo o assustador relato, o rapaz derrapou em uma curva, caindo e batendo em um guard rail de concreto, e depois disso foi deslizando no acostamento da via até que acabou o guard rail de concreto e começou o guard rail metálico. Quando o corpo do motociclista atingiu o guard rail metálico foi imediatamente cortado ao meio, causando sua morte instantânea.
Fiquei tão chocado com o que li que decidi fazer uma pesquisa na internet para descobrir o mecanismo da coisa; como é que o guard rail metálico mata, e mais ainda, quem é o projetista autor dessas verdadeiras guilhotinas abundantes em nossas estradas, prontas para ceifar mais vidas de motociclistas. E o resultado da pesquisa me surpreendeu.
Até então eu creditava essa irresponsabilidade ao Denatran e ao Contran, afinal são eles que regulam o trânsito em nossas estradas e definem como é que a sinalização e proteção aos viajantes deve ser feita, qual o desenho do projeto, quais materiais devem ser utilizados, etc. Entretanto, olhando o CTB (Código de Trânsito Brasileiro) vi que nele apenas são citadas as defensas (metálicas e de concreto) mas é bem tácito quando diz que as especificações são expedidas pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), nesse caso específico dos guard rails, através da NBR 6971-2012.
Claro que esses dois órgãos (Denatran e Contran) ainda têm muita culpa. Em primeiro lugar por não reconhecerem o crescimento exponencial de motocicletas em circulação, e em segundo, pela inatividade em não fazer recomendações expressas à ABNT para que implantasse mudanças radicais nas especificações, não só na construção de guard rails, mas também em vários outros itens, como a tinta utilizada para pintura de sinalização horizontal, os tachões assassinos que são instalados indiscriminadamente em ruas e estradas, os quebra-molas de altura exagerada, a criação de faixas exclusivas para motos e tantos outros temas que deveriam ser revistos e adequados para dar segurança aos motociclistas que circulam diariamente em nossas cidades e aos milhares de viajantes em duas rodas que vemos nas estradas, principalmente nos feriados prolongados.
Esse é um problema que não é só nosso. Outro país que enfrenta o mesmo problema, mas declarou guerra em prol da vida, é a Itália. Acima você viu simulações e propostas publicadas em sites italianos.
Conheça as especificações dos guard rails recomendadas pela ABNT:
Guard rail ou barreira de concreto
Esse modelo de guard rail oferece grande proteção a um corpo humano em movimento. Normalmente o impacto nunca é frontal, portanto, ele faz com que o corpo humano continue deslizando ou se projete por cima dele por causa da inclinação em sua base, que funciona como uma rampa de lançamento. Com sorte o motociclista ao passar sobre, atingirá um gramado ou arbustos, minimizando os danos físicos.
Guard rail (ou defensa) metálico
Este modelo de uso mais abundante é o que chamamos de “Guard Rail Assassino”. Ao escorregar no acostamento e sofrer um impacto com essa estrutura, o corpo do motociclista passará sob a lâmina e atingirá a base que está fixada firmemente na terra – foi projetada para suportar o impacto de carros. Esse é o primeiro momento em que o corpo humano poderá ser seccionado ou sofrer fraturas fatais. Depois do primeiro impacto, o corpo em movimento tenderá a ser projetado para cima, atingindo a lâmina, que atuará como uma guilhotina, com danos fatais ou amputando membros.
Analisando atentamente a estrutura do guard rail metálico dá para imaginar o quão perigosa é para nós motociclistas. Não temos a menor chance de sairmos ilesos de um impacto com essa “máquina de matar”, mesmo que o impacto ocorra a baixa velocidade.
Continuando nossa análise da estrutura, podemos ver como é fácil transformá-la em um instrumento de proteção que realmente proteja. Bastaria especificar a lâmina até mais próximo do chão, em uma medida que impeça que um corpo humano passe sob ela. O corpo em movimento continuaria escorregando no piso e as lâminas mais próximas do solo minimizariam os danos físicos, deixando de ser cortante e também evitaria a projeção do corpo humano sobre ele. Solução fácil e barata.
Como falamos anteriormente, cabe à ABNT criar as especificações desse dispositivo. Portanto, CONTRAN e DENATRAN, como órgãos responsáveis pelo nosso trânsito e pela vida das pessoas que se deslocam por nossas ruas e estradas, quer seja de moto ou de carro, é necessário que se faça uma solicitação à ABNT para que eles, assessorados por especialistas em motos e motociclismo, revisem com urgência as especificações do dispositivo em questão, para que sejam aplicadas quando da construção de novas estradas ou na reforma das já existentes.
Essa é uma luta que deve ser compartilhada por todos os motociclistas brasileiros que, se unidos, verão seus pleitos se tornarem realidade. Com soluções simples muitas vidas serão poupadas.