Duas Rodas: Batendo às portas da Casa do Sem Jeito, número 2012.

Duas Rodas: Batendo às portas da Casa do Sem Jeito, número 2012.

No início de 2012 alguns sinais apontaram que este não seria um ano fácil. Para não dizer que estou falando disso apenas agora, basta ler algumas das minhas colunas onde tratava do tema e mostrava fatos que apontavam que 2012 poderia ser um ano onde ser otimista demais seria muito perigoso. Não fizeram nada (pra mim pouco ou quase nada e nada é a mesma coisa). Assim ficou ruim, mudou para pior e agora bate na porta da ‘Casa do Sem Jeito’, número 2012.

Falta de aviso do mercado não foi. Faltou agir cedo. Agora é tarde demais para amenizar o estrago feito no setor de Duas Rodas em um ano verdadeiramente já dado como perdido onde se reza para que as baixas não sejam tão elevadas para não se ter muito que lamentar.

Enquanto o setor de Duas Rodas acreditava, sem razão nenhuma aparentemente, apenas por mero otimismo que 2012 poderia ser um ano de crescimento, a turma dos carros já trabalhava para conseguir vantagens e benefícios. Pois é, eles conseguiram redução de impostos, crédito farto, enfim, se prepararam, mediante uma poderosa articulação para um problema externo que poderia nos atingir.

Mas a crise começou a abater o mercado de Duas Rodas pelo crédito. Começaram a endurecer e a nossa Associação ficou apenas soltando releases sobre a restrição de crédito, coisa que a gente já sabia por que sentiu na pele antes. Mas como se isso não bastasse para que o setor deixasse de esperar por bons ventos e ajustasse as suas velas e seguisse em frente com maior cautela e cobranças, veio ainda o pior – cortaram nosso parcelamento em dez sem juros e apertaram ainda mais o crédito para o segmento de small bikes. Antes, de cada 10 propostas de financiamento enviadas apenas três estavam sendo aprovadas. Depois do cancelamento do parcelamento em 10 vezes apenas um financiamento em cada 20 era aprovada.

Estava claro que o problema iria detonar o ano que projetava otimistamente um crescimento de 5%. Agora é rezar para que a queda fique mesmo na casa dos 10% o que não vai acontecer, pois a meteorologia do mercado aponta para tempo ruim à frente, sujeito a chuvas, trovoadas e maremotos com muita quebradeira pela frente. Apenas dois setores – o de motos premium e o de big bikes não foram seriamente atingidos como está sendo o de motos de 100cc até 250cc, responsável por 80% das vendas de motos neste país.

Tentaram pedir ajuda a um governo (obviamente negado) que usa carro e não anda em motos e que adora inventar medidas para dificultar ainda mais a vida de quem escolheu a moto como meio de transporte. As financeiras empolgadas com o ‘boom’ redirecionaram o crédito para a turma dos carros que cresce a todo turbo, enquanto o setor de Duas Rodas anda de cinquentinha apesar de terem aumentado o IPI destas e de outras importadas em 35% – o que de nada adiantou.

Como nada mais podia ser feito veio aquela dica de ajudar com a elaboração das propostas… Aqui eu quase surtei! Elaborar propostas todos sabemos, o problema foi a forma como alguns  – em vez de elaborarem propostas – as fabricaram e ajudaram a quebrar muita gente séria.

Não restou outra ação para algumas revendas a não ser criar seus próprios financiamentos e correr o nosso próprio risco em vez de esperar pelos fabricantes que ainda tentavam descobrir o que fazer. Hoje a Suzuki lança um financiamento com cara de consórcio para desovar milhares de motos encalhadas. A Honda está dando Caminhão de Prêmios e a Yamaha vendendo moto com margem mínima. Mas isso não vai salvar o ano. Talvez salve o emprego de alguns, mas não o de todos.

Aqui no Ceará de janeiro a setembro mais de 20 revendas fecharam as portas ou mudaram de ramo. A maioria está abandonando as bandeiras e migrando para multimarcas para poder sobreviver, além de queimar margens na busca desesperada de recuperar seu próprio prejuízo. Enquanto isso, quem deveria ajudar, limita-se apenas a dar informações sobre resultados ruins – como se isso sensibilizasse o governo que vê a moto como uma fonte de arrecadação de impostos e não como solução para a mobilidade urbana.

De nada adianta ficar aqui mostrando números. Basta acessar o site da ABRACICLO e comparar 2010/2011 e 2012 para tomar um grande susto. O pior de tudo é que desde dezembro de 2011 e início de 2012, mas precisamente neste janeiro, que muitos sinais apontaram para a possibilidade de um crash no setor, mas ninguém levou a sério e acreditou que ser otimista bastava para que tudo se ajustasse normalmente. Esperaram pelo governo – que não ficou de vir – para ajudar a pagar a conta.

Eu não acredito que as nossas entidades perderam o bonde ou o tempo da bola. Acredito que imaginaram – é o tal do excesso de confiança – que se dariam algum benefício para a ‘turma dos carros’ também estenderiam tais vantagens para o setor de Duas Rodas. Agora constataram que mesmo andando juntos somos de turmas bem diferentes e como se diz aqui no Nordeste – “Farinha pouca, meu pirão primeiro, por favor…”

Em vez de esperar pelos bons ventos, o grupo do qual faço parte, levou a sério os sinais de tempestade e preparou-se para o pior. Criou sua própria financeira (a crise não é de demanda e sim de crédito), buscou alternativas mais rentáveis, virou multimarca e ajustou as velas e seguiu. Estamos escapando, mas em nada ficamos felizes ao ver nossos concorrentes minguarem e fecharem portas, pois a meu ver a concorrência no nosso setor é algo muito saudável e precisa ser até melhor dividida sem tanto domínio de mercado de apenas uma marca.

Mesmo a marca mais poderosa do mercado de Duas Rodas, teoricamente incólume a desastres, também acusou uma parte deste golpe. Muito há que se repensar sobre um setor que julgávamos ser muito forte. O ano que vem trará uma nova configuração no mercado e até mesmo algumas surpresas. Quem tiver caixa e coragem para ousar vai chegar ao primeiro dia de janeiro, porém para muitos, o ano de 2012 terá sido marcado pelo fato onde o excesso de confiança fez muitos beijarem a lona do mercado.

O ano está perdido. Resta saber quem conseguirá trazer o navio até o porto chamado

 

Luís Sucupira
Luís Sucupira

Dezembro. Muitos ficarão pelo caminho ou pegarão outros rumos. Alguns fecharão as portas e muita gente vai perder o emprego.

No final ficarão apenas perguntas: Onde foi que erramos? Por que não seguimos os passos da turma dos carros? Por que deixamos de prestar atenção aos sinais do caminho que nos levou às portas da Casa do Sem Jeito?

Enquanto espero as respostas vou passar na Casa do Sem Jeito, número 2012 para tomar uma cerveja e consolar alguns amigos. Feliz 2013.

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Redação Geral

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