Duelo de japonesas: Ninja 650R e XJ6F
Arthur Caldeira
Ciclística espartana, design atual e carenagem integral para dar um toque de esportividade e garantir conforto para os motociclistas que querem pegar a estrada. Completando a receita um motor com a capacidade cúbica da vez no mercado brasileiro: 600cc. Assim podem ser resumidas a Yamaha XJ6F, apresentada ao Brasil no início de 2010, e a Kawasaki Ninja 650R, recém-lançada por aqui. Mas por baixo da carenagem integral, as duas motocicletas escondem sua principal diferença: a arquitetura do motor.
Enquanto a Yamaha aposta em um motor de quatro cilindros em linha, a Kawasaki equipou sua Ninja 650R com um bicilíndrico paralelo. E não é apenas o ronco – agudo na XJ6F e mais grave na Ninja – que os diferencia. Mas sim o comportamento. Já que nos números de desempenho (fornecidos pelas fábricas) elas se assemelham.
O propulsor da Kawasaki Ninja 650R tem dois cilindros, comando duplo no cabeçote, refrigeração líquida e 649 cm³ de capacidade. Oferece 72,1 cavalos de potência máxima a 8.500 rpm e 6,7 kgf.m de torque máximo a 7.000 rpm.
Também com duplo comando no cabeçote (DOHC), 16 válvulas e arrefecimento líquido, o propulsor de quatro cilindros em linha da Yamaha produz mais potência – 77,5 cavalos – em giros mais altos – a 10.000 rpm, como é característico dos motores com esta construção. E o torque máximo, 6,1 kgf.m a 8.500 giros, é menor que o da Ninja e em uma rotação mais alta.
Apesar dos valores nominais bastante próximos, a potência e o torque dos motores demonstram a personalidade diferente dos propulsores. Enquanto a Ninja privilegia o torque e a potência em baixos regimes, a XJ6F traz bastante emoção em altos giros.
O que não quer dizer que o bicilíndrico da Kawasaki não “gire” bastante – o limite de giros está nas 11.000 rpm. Significa apenas que o propulsor fica mais “à vontade” entre 2.000 e 9.000 rpm. Permitindo dessa forma, menos trocas no câmbio de seis marchas, e privilegiando uma tocada mais urbana.
Por outro lado, o motor da XJ6F também demonstra fôlego para se pilotar na cidade. A diferença é que ele pede mais rotações – menos que as motos superesportivas, porém mais que a Ninja 650R. Na prática isso significa uma tocada um pouco mais esportiva, com o motor trabalhando acima de 6.000 rotações.
Estilo
Ambas têm projetos novos e seguem a tendência atual: motos fáceis de pilotar, usáveis no dia-a-dia e com vigor para encarar viagens. No desenho, seguem linhas diferentes, porém modernas. A Yamaha XJ6F tem um conjunto óptico único, muitos ângulos e porte de moto maior, completada por uma traseira minimalista. A Kawasaki trouxe para esta recente versão da 650R as linhas da família Ninja, com dois faróis na dianteira e a traseira também reduzida ao essencial.
A escolha no quesito beleza fica para o gosto de cada um. A Yamaha peca em oferecer somente a cor preta, limitando as opções ao consumidor. A Ninja 650R está disponível nas cores preta e o tradicional verde.
As carenagens, além de conferirem um ar esportivo, garantem proteção aerodinâmica ao piloto. Neste ponto, ambas cumprem bem o objetivo: desviam o vento, oferecendo conforto no uso rodoviário. Já no uso urbano, as carenagens integrais não atrapalham a pilotagem. O único senão fica por conta das saídas de ar da Kawasaki Ninja 650R, que desviam o ar quente proveniente do motor diretamente para as pernas do piloto, incomodando em dias mais quentes.
Os painéis de instrumentos de ambas, embutidos na carenagem, também são completos – trazem conta-giros, velocímetros e luzes de advertência, além de relógio e hodômetro. A Ninja conta com uma única tela de cristal líquido totalmente digital, bastante atraente; enquanto a Yamaha usa conta-giros de leitura analógica, o que facilita a visualização.
Ciclística
Na parte ciclística as duas contam com um chassi tubular em aço. São de construção simples, porém proporcionam a estabilidade esperada para o desempenho das duas motocicletas. Não são rígidos como em motos superesportivas com especificações mais top de linha e estão de acordo com a proposta da Ninja 650R e da XJ6F: modelos fáceis de pilotar.
Essa facilidade também vem da boa distribuição de peso em ambas. Elas se utilizam da mesma solução para baixar o centro de gravidade, um escapamento localizado no centro da moto, escondido debaixo do motor.
As suspensões são convencionais e espartanas em ambas: na dianteira, garfo telescópico sem ajustes e balança traseira monoamortecida. A diferença fica por conta do ponto de fixação: a Yamaha tem sistema monocross com amortecedor fixado no centro da balança, enquanto a Kawasaki optou por uma solução menos comum com o amortecedor fixado lateralmente. Detalhe que não influencia no funcionamento do conjunto.
O acerto das suspensões nos dois modelos privilegia o conforto em detrimento da esportividade. Absorvem as imperfeições do piso e garantem curvas divertidas. Mas não espere que elas se comportem como superesportivas.
Os freios também foram dimensionados de acordo com a proposta de uso e o desempenho dos dois modelos. A Yamaha XJ6F tem disco duplo de 298 mm com pinça de dois pistões, na dianteira; e disco único de 245 mm com pistão simples, na traseira. A Ninja também, mas a forma e os diâmetros dos discos são diferentes: 300 mm na frente e 220 mm atrás no formato margarida. Na prática, funcionam de forma semelhante: não assustam e param as motos com eficiência. A vantagem, neste quesito, porém, ficou para a Kawasaki, que oferece a opção do sistema com ABS.
Conclusão
Com propostas parecidas e especificações também, tanto Yamaha XJ6F quanto Kawasaki Ninja 650R são boas opções de compra no segmento de motos 600 cc com carenagem. Cumprem o que prometem, oferecem desempenho satisfatório e são versáteis, podendo ser usadas tanto no dia-a-dia como em viagens.
Porém, a diferença crucial está mesmo na motorização. Muitos motociclistas encantam-se com os quatro cilindros em linha como o da XJ6F, enquanto outros não têm essa idéia fixa e terão uma boa surpresa com o desempenho do bicilíndrico da Ninja 650R.
A escolha é difícil até mesmo em função do preço. Atualmente, a Yamaha ainda está comercializando a XJ6F modelo 2010 em uma única versão (sem ABS) por R$ 30.000 – vale dizer que para 2011 não haverá mudanças significativas. Já na tabela da Kawasaki a Ninja 650R (2011) sai por R$ 27.770 sem ABS; e por R$ 29.990 com o sistema antitravamento – porém o preço não traz o frete, que pode variar de acordo com a região. Em resumo, valores muito próximos que não influenciam diretamente na decisão de compra.
Após muitos quilômetros e diversas situações com os dois modelos, o veredicto é praticamente um empate técnico. A escolha é difícil, porém o uso é determinante. Se for comprar uma motocicleta para rodar mais na estrada opte pela Yamaha XJ6F e seu motor de quatro em linha; mas se o uso for muito mais urbano, fique com a Kawasaki Ninja 650R e seu bicilídrico paralelo.
Ficha Técnica
Kawasaki Ninja 650R (ABS)
Motor Dois cilindros paralelos, quatro válvulas por cilindro, duplo comando de válvulas no cabeçote e refrigeração líquida
Capacidade cúbica 649 cm³
Diâmetro x curso 83,0 x 60,0 mm
Taxa de compressão 11,3:1
Potência máxima 72,1 cv a 8.500 rpm
Torque máximo 6,7 kgf.m a 7.000 rpm
Alimentação Injeção eletrônica
Câmbio Seis marchas
Transmissão final Corrente
Partida Elétrica
Quadro Do tipo diamante em tubos de aço
Suspensão dianteira Garfo telescópico convencional com 41 mm de diâmetro e 120 mm de curso
Suspensão traseira Balança traseira monoamortecida regulável na précarga com 125 mm de curso
Freio dianteiro Disco duplo de 300 mm de diâmetro em forma de pétala com pinça de dois pistões
Freio traseiro Disco simples de 220 mm de diâmetro com pinça de um pistão
Pneus 120/70-ZR17 (diant.)/ 160/60-ZR17 (tras.)
Dimensões (C X L X A) 2.100 mm x 760 mm x 1.200 mm
Distância entre-eixos 1.410 mm
Distância do solo 145 mm
Altura do assento 790 mm
Peso em ordem de marcha 208 kg (ABS)
Tanque de combustível 15,5 litros
Cores Lime Green (verde) e Ebony (Preta)
Preço sugerido R$ 29.990 com ABS (sem frete)
Ficha Técnica
Yamaha XJ6F
Motor Quatro cilindros em linha, DOHC, 16 válvulas, quatro tempos, arrefecimento líquido
Capacidade cúbica 600 cm³
Diâmetro x curso 65,5 x 44,5 mm
Taxa de compressão 12,2:1
Potência Máxima 77,5 cv a 10.000 rpm
Torque Máximo 6,1 kgf.m a 8,500 rpm
Alimentação Injeção eletrônica de combustível
Câmbio Seis marchas
Transmissão final Corrente
Partida Elétrica
Quadro Do tipo diamante em tubos de aço
Suspensão Dianteira Garfo telescópico convencional, com 130 mm de curso
Suspensão Traseira Balança monoamortecida com 130 mm de curso
Freio Dianteiro Disco duplo de 298 mm de diâmetro com pinça de dois pistões
Freio Traseiro Disco de 245 mm de diâmetro com pinça simples
Pneus 120/70 ZR17 (diant.)/ 160/60 ZR17 (tras.)
Dimensões (C X L X A) 2.120 mm x 770 mm x 1.185 mm
Distância entre-eixos 1.440 mm
Distância do solo 140 mm
Altura do assento 785 mm
Peso em ordem de marcha 215 kg (ABS)
Tanque de combustível 17,3 litros
Cor Preta
Preço sugerido R$ 30.000 (modelo 2010)
* Neste teste, Infomoto usou capacetes LS2, jaquetas e luvas Dainese
Fotos: Doni Castilho