Faixa de Retenção para Motos: ótima solução para o trânsito de Fortaleza.
Uma ideia que funciona bem na Europa e que poderia ser aplicada no caótico trânsito de Fortaleza. São as faixas de retenção para motos e bicicletas. Sua aplicação é simples e barata. Vamos conhecer.
O que é FAIXA DE RETENÇÃO PARA MOTOS?
Faixa de Retenção Para Motos ou “bolsão” não é uma novidade e foi inspirada em uma bem sucedida experiência fora do país e dentro do estado de São Paulo. Implementado na Espanha em 2008, inicialmente nas cidades de Madri e Barcelona, o sistema conquistou a aprovação não apenas entre motociclistas, como também, dos automobilistas, com um índice de aprovação de 97%, de acordo com pesquisa realizada em 2010 pelo “Ayuntamiento de Madrid”, a empresa que cuida da municipalidade da capital espanhola.
Em Barcelona, as autoridades afirmam que a faixa de retenção diminuiu em 90% o risco de acidente. E não tem segredo. Dar prioridade aos usuários de veículos de duas rodas na abertura do sinal de trânsito cumpre o conceito universalmente reconhecido de favorecer meios de transporte mais frágeis e menos visíveis em detrimento dos maiores. Isso contribui diretamente para a redução do risco de acidentes.
Ao distanciar as motos dos carros nos primeiros momentos após a abertura do semáforo, as ultrapassagens serão evitadas e, com elas, o evidente risco de acidentes resultantes dessa manobra. Há quem ache que a medida poderá parecer inútil, outros falarão que será um injustificável privilégio, mas certamente quem faz uso de motos, especialmente em Fortaleza (CE), vai ver a ação como uma medida efetiva que prioriza a segurança do ciclista e motociclista.
É fácil prever que esta faixa de retenção para motos, aplicada aqui em Fortaleza, poderá repetir o sucesso obtido na Espanha. Porém é necessário observar alguns detalhes importantes. É válido observar que lá, para alcançar estas áreas batizadas de “avanza motos”, os motociclistas devem seguir por faixas preferenciais destinadas também a ônibus e táxis. A prática de avançar pelos chamados “corredores” entre os carros, tão comum no Brasil, é legal lá também, mas apenas quando o trânsito estiver parado.
A discussão sobre a validade do corredor – a possibilidade ou não das motos trafegarem entre as faixas de rolamento – já foi objeto de grandes debates no passado o que fez ser merecedor de artigo – o de nº 56, do Código de Trânsito Brasileiro. Convenientemente vetado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sob a justificativa de que proibir a maior vantagem da motocicleta em relação aos outros veículos, cerceando sua agilidade e consequente capacidade de driblar o trânsito, eliminaria por completo a principal característica das motos.
Porém, o bom senso que norteou FHC no veto ao artigo nº 56, não encontrou a devida reciprocidade no comportamento da maioria dos motociclistas. Muitos abusam deste preceito a ponto de tornar o trânsito ainda mais perigoso e consequentemente com grande elevação dos números de vítimas em duas rodas.
O corredor é legal?
Legal do ponto de vista jurídico no Brasil, trafegar de moto nos corredores entre os carros, estando eles em movimento, é quase uma tentativa de suicídio. Porém, andar atrás dos carros é igualmente arriscado.
A controvérsia sobre rodar ou não pelos corredores entre os carros mostra que essa é uma questão debatida desde o século passado, haja vista a publicação de um antigo estudo (anos 80) realizado pela NHTSA –National Highway Traffic Safety Administration – a agência de segurança de trânsito norteamericana. Porém, nos EUA, cada estado cria as suas próprias leis de trânsito e isso nos ajuda a comparar melhor dados de quem adota o bolsão contra aqueles que obrigam as motos a andarem atrás dos carros.
Na Califórnia, um dos poucos estados norte-americanos onde circular entre os carros é permitido, o índice de mortes por colisão traseira em motocicletas é 30% menor do que em estados onde isso é proibido como a Flórida ou o Texas. Em Fortaleza, este problema é crônico. A baixa velocidade em vias de duas mãos determinada pelo sistema de trânsito local e com a ajuda do celular conectado à internet, fazem com que a capital cearense seja uma das campeãs de acidentes envolvendo batidas de traseira. Apesar destes danos serem menores em carros e quase nenhum em motoristas, se acontecer com uma motocicleta o dano poderá ser irreversível, pois afetará diretamente a coluna do motociclista se este não vier a óbito.
É fácil compreender por que na Califórnia tal tipo de acidente é bem menor, pois, não sendo obrigadas a pararem atrás dos carros, compensam a potencial fragilidade do veículo ante veículos de maior porte exatamente por conta da mobilidade característica dos veículos de duas rodas.
Há discussões mundo afora sobre qual seria a velocidade segura para trafegar entre veículos parados, e a maioria aceita o máximo de 40 km/h como ideal Porém esta tocada é bem superior ao que se vê nas marginais paulistanas ou vias expressas e avenidas das nossas grandes cidades.
Exatamente por isso, em uma cidade como São Paulo, proibir motos de rodar no corredor faria piorar ainda mais o trânsito daquela megalópole, tanto por conta da dificuldade de aplicação de multas, quanto pelo risco de aumentar os acidentes por conta das colisões de traseira e consequente atropelamento de motos e motociclistas.
Em números o efeito caótico da medida seria rapidamente percebido pelos motoristas se tivesse as motos tivessem de ocupar o espaço equivalente ao de um automóvel. As motos compõem, atualmente, 13% do total de cerca 7,5 milhões de veículos rodando na cidade paulistana.
Em São Paulo a adoção da faixa de retenção para motos e bicicletas já alcançou cerca de 59 cruzamentos e a tendência é que seja ampliado diante do sucesso da medida. Esperamos que Fortaleza siga o mesmo exemplo de cidades como São Paulo e Barcelona e com isso possamos reduzir ainda mais os acidentes de trânsito.