Furtos em lojas: 67% é causado por falhas internas e o consumidor é quem paga o custo.
Segundo a agência BBC Brasil, o Brasil ocupa, ao lado do Marrocos, o segundo lugar no ranking dos países onde há mais prejuízos causados por furtos em lojas, segundo um estudo do Centro de Pesquisas do Varejo, uma organização britânica especializada em vendas varejistas. A pesquisa Barômetro Global de Furtos no Varejo calcula que entre julho de 2009 e junho deste ano os lojistas brasileiros perderam R$ 3,9 bilhões em furtos e erros administrativos.
Mas um dado em particular chamou a minha atenção. O fato de que a maior incidência de furtos serem entre funcionários e parceiros. Os números são os seguintes: Do total dos prejuízos registrados por lojistas brasileiros, 32,8% foram atribuídos a furtos por clientes, 43,4%, a furtos por funcionários e 7,6%, a fraudes envolvendo fornecedores e vendedores. Além disso, 16,2% foram creditados a outros tipos de erros.
Problemas internos
Se somarmos os furtos de natureza interna (funcionários, fraudes envolvendo fornecedores e vendedores e outros tipos de erros) teremos cerca de 67,2% de roubos que poderiam ser evitados. Agora, muitos se perguntam por que as seguradoras não cobrem esses tipos de roubos e se cobrem o preço da apólice é caríssimo e as exigências são enormes a ponto de se negarem a pagar o prêmio caso uma dessas exigências não tiver sido observada.
Assaltos e arrombamentos as seguradoras cobrem, mas furtos, não. O fato está na avaliação de que a maioria desses fatores pode ser controlada, mas não pode ser prevista. Quando estava à frente de uma gerência me deparei com situações onde o furto e as fraudes eram frutos de falhas internas de processos causados pela própria empresa. A empresa abria buracos nos processos internos a ponto de um simples jogo contábil permitir uma fraude de quase cem mil reais. A minha surpresa foi tanta que, ao perceber o problema comecei a fechar as brechas e ao fazer isso acabei descobrindo evidências de que havia ocorrido fraude.
Bastou estudar um pouco mais e montar uma arapuca e caíram cerca de cinco funcionários de uma vez só. No apurado da conta da fraude descobrimos que o prejuízo poderia ter chegado aos 90 mil reais. A demissão não foi por justa causa, pois a lei é muito branda a esse respeito. Mas a empresa decidiu processar depois de demitir, não como crime previsto na CLT, mas via denúncia crime etc.
O que tiramos de lição desse fato foi que, ao ajustar os processos internos as empresas conseguem facilmente reduzir este índice. Auditorias internas mensais, maior controle no processo de estoque e logística, RMA e outros ajudam bastante a minar grande parte desses problemas. No caso que relatei havia ainda o envolvimento de parceiros e clientes. O erro foi da empresa.
Números absurdos!!!
Muitos de vocês vão dizer que os funcionários são ‘isso’ ou ‘aquilo’, mas antes de serem funcionários eles são pessoas e como tal são suscetíveis a esse tipo de coisa. Não existe apenas roubo no meio político. Se fizermos as contas os furtos ocorridos em empresas batem facilmente a casa dos bilhões de reais. A pesquisa Barômetro Global de Furtos no Varejo calcula que entre julho de 2009 e junho deste ano os lojistas brasileiros perderam R$ 3,9 bilhões em furtos e erros administrativos. Segundo os dados da pesquisa, no que tange ao mercado brasileiro, entre os itens mais furtados destacam-se lâminas e cremes de barbear, smartphones, perfumes, bebidas, carne fresca, escovas de dente elétricas, café, DVDs, jogos eletrônicos, bolsas, tênis, óculos escuros e relógios. Em média, cada furto por cliente gerou prejuízo de R$ 330. Os furtos por funcionários custaram R$ 3,29 mil cada. Esse valor (R$ 3,29 mil) daria facilmente para pagar o salário de um auditor interno e bonificá-lo por eventuais perdas resgatadas ou roubos evitados. Mas falta visão de longo prazo, infelizmente. Olha-se o mês e não o semestre, nunca o ano!
Se compararmos esse valor com o que é roubado dos cofres públicos teremos aqui uma situação praticamente semelhante. A única diferença é que, na iniciativa privada, a forma de controlar e punir são determinados pelo próprio dono do negócio; enquanto na coisa pública os controles são frágeis e os processos são feitos para serem burlados, pois a impunidade é grande e quando alguém é julgado e condenado dificilmente a pena será maior do que um castigo brando.
Não adianta arguir os valores das pessoas. Elas podem ser assim.
Reclamar da honestidade ou não das pessoas quando acontece um furto não é o melhor caminho. As pessoas podem roubar, mas você não sabe quem irá fazer isso e nem quando. Aqui é que está o problema. A maioria dos ladrões em empresas são muito inteligentes. Eles conhecem a rotina, processos e suas falhas e agem exatamente nessas brechas. O mesmo se dá quanto a sistemas de segurança na internet. Os hackers e crackers estão aí para isso mesmo.
O ditado “prevenir é melhor que remediar” não vale apenas para sistemas de câmeras, etiquetas eletrônicas e outros dispositivos. Acontece que o mesmo funcionário que cola a etiqueta sabe como desgrudá-la e como desmagnetizá-la. Uma vez mostrei falhas no sistema de segurança interna de uma empresa e o dono ficou perplexo. Mostrei a ele como desmagnetizar fitas e passar por barreiras eletrônicas burlando o sistema que ele me anunciara ser infalível. Acontece que a culpa não é do fornecedor dos equipamentos ou das soluções de segurança que foram fornecidas. Avaliando em detalhe o pacote vendido e conversando com a empresa fornecedora percebi que o erro mais uma vez foi da empresa.
Cortar onde não pode…
Comparando a proposta original e a proposta fechada havia um corte de custos da ordem de 65% o que abria uma brecha fácil para que os roubos continuassem a acontecer de outra forma. A empresa fornecedora dos equipamentos de segurança alertou o empresário que de olho nos custos imediatos não conseguiu perceber o risco que continuava correndo e o pior: aumentou os gastos e não se protegeu corretamente. Daí muitos dizem que ‘esses sistemas não funcionam’. Sim, dessa forma não funcionam mesmo!
Os setores que mais registraram ocorrências foram os de peças de carros e materiais de construção; roupas, acessórios e cosméticos. Os menos afetados foram os de bebidas alcoólicas, calçados, artigos esportivos, eletrônicos e computadores. O estudo calcula em R$ 182 bilhões o total de perdas causadas por furtos em 2010 no mundo todo, o equivalente a 1,36% do valor das vendas. O índice é 5,6% menor do que o registrado em 2009, resultado creditado à melhor situação da economia mundial e ao aumento de 9,3% nos investimentos em segurança, que custaram R$ 45,4 bilhões às lojas em 2010. No mundo as lojas relataram ter detido 6,2 milhões de ladrões em 2010, dos quais 800 mil eram seus próprios funcionários. Os lojistas que mais ‘prenderam’ criminosos foram os europeus (3,4 milhões), seguidos pelos norte-americanos (2,5 milhões).
A realidade brasileira
Trazendo para a realidade brasileira uma boa parte desses 67%, resultado da soma dos furtos de natureza interna: funcionários, fraudes envolvendo fornecedores e vendedores e outros tipos de erros, poderiam ser reduzidos. Se calcularmos quanto isso representa no montante de 3,9 bilhões de reais chegaremos ao absurdo número de aproximadamente R$ 2,1 bilhões de reais.
O maior problema é o que não aparece nas estatísticas. Os custos com essas falhas internas são repassadas aos consumidores. Este índice vira um indicador que entra no cálculo da margem e no markup. Ou seja: prefere-se perder competitividade e gerir o próprio seguro (sic) do que resolver o problema. O Brasil foi o único entre os 40 países pesquisados a ter registrado aumento nos prejuízos, ainda que o crescimento tenha sido de apenas 0,02 ponto percentual em relação a 2009. Ou seja, o problema continua …