Irmã Dulce será beatificada. Eu pude testemunhar sua santidade. "Esta é a última porta, jamais pode ser fechada"
Em 1993, eu estava no Banco do Nordeste, na equipe do Núcleo de Produção Audiovisual que era uma produtora de vídeos de treinamento e de informações sobre desenvolvimento e projetos financiados pelo BNB. Neste tempo eu pude participar como diretor do filme que contava a vida de Irmã Dulce. Lembro-me como se fosse hoje que depois da sua morte as doações estavam parando e as obras sustentadas pela OSID – Obras Sociais de Irmã Dulce iriam parar em poucos meses.
Topamos o desafio de fazer um filme sobre sua vida e obra para conseguir recursos. Conseguimos a ajuda de muita gente na Bahia. Até equipamentos emprestados nos deram. O filme ficou pronto, foi traduzido para o inglês e ganhou o mundo através das nossas embaixadas e acabou por ajudar a revitalizar a obra. Tive ainda a graça de poder dirigir alguns comerciais sobre sua obra utilizando material colhido para o filme. O resultado também foi bom.
Hoje fico sabendo que um dos muitos milagres de Irmã Dulce foi reconhecido pelo Vaticano e ela será beatificada. Me deu arrepio aqui, pois lembrei de cada detalhe do filme, de cada detalhe da sua obra e do lugar onde vivi por 45 dias que levamos para fazer tudo.
Eu vi gente sem nariz, sem braço, com fome, feito bicho ou quase gente. Pessoas que o mundo esqueceu e como ela dizia – “esta é a última porta, jamais pode ser fechada”.
O mais impressionante é que funcionava bem e perfeitamente. Todo mundo lá amava o que fazia e dava gosto ver um sorriso de esperança no rosto dessas pessoas. Lembro-me de algumas histórias.
Numa delas estava passando uma procissão relacionada ao candomblé – muito tradicional na Bahia (lugar onde o profano e o sagrado são vizinhos) . Em determinada hora, quando passavam na frente da casa onde hoje é a fundação de Irmã Dulce eles paravam de bater os tambores e passavam em silêncio. Irmã Dulce saia à janela e abençoava todos os passantes.
irmã Dulce, por conta de uma doença grave, dormia sentada e foi assim por muitos anos até a sua morte. Um dia, quase sem comida para seus protegidos, ela orou ao
Senhor e pediu a Ele que a ajudasse pois seus filhos só teriam o que comer para dois dias. De repente, no meio da madrugada estaciona uma carreta. Um caminheineiro grita o nome de Irmã Dulce que sai para saber o que estava acontecendo. O homem disse: “Irmã Dulce, eu fui assaltado e pedi a Deus que se não roubassem a minha carreta eu daria toda a carga dela pra senhora.” E o homem continuou: Aqui, irmã, tem uma carreta de arroz. Ela é sua e agradeça a Deus por ter salvado minha carreta”.
Esta e outras histórias é que fizeram dessa menina que escondia mendigos no quintal ainda quando era jovem para ajudá-los a comer e a ter um lugar para dormir.
Ao saber que Irmã Dulce foi beatificada, me arrepiei todo. Me emocionei. Fiz parte disso e ao ter feito parte disso mudei minha vida para sempre, graças ao exemplo de Irmã Dulce.
Obrigado Irmã Dulce, que Deus a tenha ao seu lado e continue olhando por mim, por que aqui ainda tem muito o que melhorar, a começar pelas pessoas.
Sua bênção, Beata Dulce: o Anjo Bom da Bahia.
De seu devoto admirador, Luis Sucupira