Mário Sérgio Figueredo: Lugar de mulher é atrás do tanque … de uma moto
Há alguns anos, num domingo de sol, eu descia a BR 376, estrada que liga Curitiba(PR) a Joinville(SC), fazendo uma costumeira parada num boteco no meio da Serra do Mar. Lugar aconchegante, muito bonito, com bica d’água potável, monjolo, tanque de criação de carpas multicoloridas, pedras e muito verde, onde servem ótimos salgados e dá para tomar uma coca ou um café bem quentinho, indispensável nos dias mais frios daqui do sul.
O encanto feminino está presenta no motociclismo brasileiro
Estava lá eu esticando as pernas quando chegou uma galera de moto, no total de umas 20. Para minha surpresa eram todas mulheres, com roupas de couro e motos adornadas de forma que evidenciava a feminilidade das suas donas. A grande maioria estava com pequenas custom, da Yamaha (Virago 250) e Suzuki (Intruder). Tinha mulher de 18 até 30 e poucos anos. Achei muito legal e curioso porque não é uma cena comum ver mulheres na estrada, principalmente pilotando em grupo. Lamentavelmente estava sem minha câmera fotográfica e não pude registrar o fato.
Depois, conversando com uma delas, soube que pertenciam a um grupo motociclístico feminino – tipo clube da Luluzinha, onde homem não entra – daqui de Curitiba, e pegar estrada era programa frequente do grupo para viagens e participação em encontros de motos, num raio de até 300 km.
Em seguida elas voltaram para a estrada e depois de um tempo fui na mesma direção. A tocada delas era algo em torno de 90 km/h e logo as alcancei e as ultrapassei. Todas retribuiram à buzinadinha de cortesia.
Vale ressaltar que nenhuma tinha homem na garupa. As poucas garupas eram também mulheres. Segui meu caminho e não mais as vi.
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Passados vários anos, hoje quando ando pela cidade, observo que tornou-se comum ver mulheres de todas as idades circulando com suas cubs, scooters e motos de 125 ou 250 cc, fazendo compras, levando seus filhos à escola e até trabalhando como moto-girl. Elas estão por aí, basta olhar para o lado. E não é só no trânsito que as vemos, muitas delas estão participando de aventuras, fazendo viagens longas, de deixar muito marmanjo para trás – um exemplo é a catarinense Lisiane Pletiskaitz que percorreu vários estados em uma viagem solo – e também nas competições de esportes a motor em duas rodas, como é o caso de Sabrina Katana, Maiara Basso e tantas outras que estão fazendo bonito nas pistas brasileiras.
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Acredito que não as vemos pilotando motocicletas de maior cilindrada porque a relação delas com as motos é mais prática e menos emocional – diferente das mulheres que vêem as motos como um simples e prático meio de transporte, nós homens nos deixamos envolver emocionalmente com um punhado de ferro e plástico e teimamos em considerar nossas motos como parte da família ou extensão do nosso ego. Mas há casos até famosos de mulheres com motos poderosas, como o da Cris R1 que tornou-se famosa nacionalmente por causa da sua relação com motos super-esportivas.
Num encontro de motociclistas que acontece toda sexta-feira aqui na minha cidade, pude conhecer um casal, ele um senhor de 74 anos, dono de uma reluzente Harley Davidson Electra Glyde, e ela com 63, costumam viajar em dupla por esse Brasilzão afora e alguns países da América do Sul, já tendo percorrido de moto, do sul ao nordeste. Detalhe: ela também tem sua Harley e cada um vai com a sua. Mas esse é um caso isolado e não muito comum de vermos por aí.
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Digo que é muito agradável ver unidas as nossas duas maiores paixões, moto e garotas, juntas, cena tão bonita como uma pintura de Picasso.
Observo também que quando os motoristas percebem que é uma mulher que está pilotando a reação é diferente, com mais cortesia e gentileza da que nós homens recebemos, isso porque a mulher pilota com mais delicadeza, paciência e doçura, qualidades que nos fazem tanta falta quando pilotamos.
Mulher no guidão; cada vez dividiremos mais o trânsito com elas. Muito bom isso pois quem sabe elas contribuam para melhorar a péssima imagem que construimos perante à população que anda de quatro rodas.
Fonte: Mário Sérgio Figueredo – Fotos do arquivo Motonline