MERCADO: Hora de mudar a estratégia?
Há anos o modelo de venda de motos continua o mesmo. Criado por Soichiro Honda quando da sua entrada no mercado americano, o modelo que antes adotava a venda consignada mudou para o que é hoje. Soichiro entendeu que seria a hora de fazer diferente e deu certo até agora.
Em vez de apenas comercializar motocicletas, Soichiro vendeu o conceito da motocicleta. O célebre anuncio “Você vê gente bonita numa Honda” revolucionou a venda de motos popularizando o veículo como uma solução de mobilidade urbana de baixo custo nos Estados Unidos da América.
No Pós-Guerra a motocicleta teve um papel fundamental na recuperação da profunda crise pela qual passou o Japão. Além de Honda, Yamaha, Suzuki e Kawasaki, as mais conhecidas, outras dezenas de marcas tentaram oferecer uma solução para o problema de transporte e desenvolveram motocicletas focadas no conceito de serem baratas, econômicas e resistentes. O conceito da motocicleta como solução urbana e como meio de transporte eficiente em um país devastado pela guerra, foi um ponto forte, que tornou o país do Sol Nascente num dos maiores fabricantes de motos no mundo.
Nos tempos atuais as sucessivas quedas nas vendas, a cada ano que passa, vêm diminuindo o tamanho do mercado para o equivalente ao que se vendia em 2007. Além disso, o bombardeio em cima da motocicleta no Brasil é cruel. Paga-se mais para licenciar uma moto, temos problemas de espaço, assaltos constantes, acidentes, tentativas de proibir garupas, vias mal planejadas para o evento moto, projetos para colocar o número da placa no capacete e uma insignificante campanha de educação para o trânsito direcionada aos motociclistas. Os fabricantes têm grande parcela de culpa pela ausência de combatividade diante dessas soluções estapafúrdias, conduzidas por políticos e autoridades de trânsito.
Mas nem tudo está perdido. Porém, é hora de mudar a estratégia.
Chegou a hora dos fabricantes realizarem uma campanha em conjunto promovendo a moto como uma solução de mobilidade urbana, principalmente, em tempos de crise. Não é vender a moto. Isso não está funcionando. É vender a solução moto como veículo de grande mobilidade urbana; alternativa ao caos do transporte público, com boa economia de combustível e de manutenção, facilidade de estacionamento e por ai vai. A maioria dos carros que rodam na cidade são ocupados por apenas um passageiro e aqui seria um dos pontos a serem destacados. Há vários dados a favor da motocicleta que amenizam o risco de pilotá-la. E se a campanha for atrelada a uma ação conjunta de educação para o trânsito, poderemos, ainda, plantar a semente de um trânsito mais seguro e tranquilo.
O mercado mudou e as pessoas, também. A facilidade de comprar um carro, o crédito farto, o emprego em alta e o consumo elevado estão em queda e a motocicleta é sim uma solução prontamente adequada para estes tempos espartanos.
Uma campanha conjunta com o objetivo de promover a motocicletas ajudaria a reverter essa situação, principalmente por que seria muito bem recebida pelos veículos de comunicação especializados e seriam eles grandes aliados na produção de pautas nesse sentido.
Não é mais uma questão de concorrência de preços e modelos, mas de sobrevivência de fabricantes, de retomada de vendas em um mercado fragilizado e de preservação dos empregos de toda a cadeia do segmento.
Não é só hora de mudar a estratégia, mas de mudar o discurso. É hora de repetir a estratégia do gênio Soichiro Honda. Você vê gente feliz numa moto!