Minha vida numa moto – Que roupa escolher e quando usar?
Na coluna anterior, depois de tratarmos de bagagens e bagageiros, como montar um motoclube eu havia prometido tratar do assunto roupa. Na minha vida numa moto eu aprendi algumas coisas interessantes sobre como se vestir de forma que a proteção esteja na mesma medida do estilo.
Antes de começar é importante definir o que é moda, roupa e roupa de segurança.
O que é moda e o que é roupa?
Moda para o Wikipédia é acompanhar o vestuário e o tempo, que se integra ao simples uso das roupas no dia-a-dia. É uma forma passageira e facilmente mutável de se comportar e, sobretudo de se vestir ou pentear. Roupa, segundo a mesma fonte é qualquer objeto usado para cobrir certas partes do corpo. Roupas são usadas por questões sociais, culturais, ou por necessidade e proteção. Outros objetos que são carregados ao invés de serem vestidos sobre certas partes do corpo são chamados de acessórios.
Mas o que seria uma roupa segura?
Não exagere na proteção!Toda roupa segura precisa ser reforçada e estar adaptada para as condições onde ela será utilizada. Isso quer dizer que para cada ocasião deverá ser vestida a roupa adequada. Numa moto a realidade é a mesma. Você precisa estar vestido com estilo, com roupas que o protejam e que sejam também resistentes.
Neste artigo, como nos outros, eu falarei para o público que deseja a melhor relação custo-benefício e isso para mim significa ser algo muito bom e que caiba no meu orçamento. A meta é fazer você entender as vantagens de desvantagens de cada tipo de tecido. Isso vai facilitar a escolha correta do que usar e quando usar. A roupa certa para a estrada ou rota escolhida.
Mas antes um pouco da história de cada tipo. Existem três tipos de tecido que são mais comumente usados pelos motociclistas. O primeiro é o couro. Depois vem a Cordura e por último o jeans.
O Couro
O couro é a pele curtida de animais, utilizada como material nobre para a confecção de diversos artefatos para o uso humano, tais como: sapatos, cintos, carteiras, bolsas, malas, pastas, casacos, chapéus, entre outros. No Egito antigo, foram encontrados pedaços de couro curtidos cerca de três mil anos a.C. Na China, a fabricação de objetos com couro já era efetuada muito antes da Era Cristã. Em Pérgamo desenvolveram-se, na Idade Antiga, os célebres “pergaminhos”, usados na escrita e que eram feitos com peles de ovelha, cabra ou bezerro. Com o couro eram feitos, também, elmos, escudos e gibões. Os marinheiros usavam-no nas velas e nas embarcações de navios. O couro bovino é o mais utilizado,
Existem vários tipos de couro
devido a ser o mais abundante do mercado e o que possui o preço mais baixo. O segundo mais utilizado é o couro de caprinos, que torna os preços competitivos, e principalmente pela sua qualidade, que é muito maior do que a do couro de boi. Entretanto, também tem crescido a procura pelos couros de suínos, ovinos e de outras espécies de animais como o jacaré, cobra e mais recentemente, de rã e peixe.
A Cordura
De que é feita a cordura?A Cordura foi registrada como o nome de um tecido certificado (Nylon), a partir de um tecido fabricado pela DuPont. Hoje, é o nome registrado do Nylon-6.6 de alto desempenho, produto fabricado pela Invista, uma filial da divisão Koch Industries, Inc. A Cordura é usada numa vasta gama de produtos desde bagagem e mochilas, botas, vestuário militar (tais como bainhas para facas táticas e bolsas para munições), até vestuário de alta performance. A Cordura foi concebida para ser de longa duração e resistente à abrasão, cortes e rasgões. Como nome de marca, Cordura chega por volta de 1929 como um desenvolvimento do Rayon. O produto foi desenvolvido durante a II Guerra Mundial e utilizado em pneus militares. Desde 1966, com novas fórmulas, a Cordura, provou ser superior ao Nylon e a marca foi transformada em produto para substituir o Nylon.
O Jeans
Calça Jeans HLX: proteções removíveisO jeans começou a ser fabricado em 1872 em Nimes, na França. O nome “tecido de Nimes” acabou sendo abreviado por apenas “denim”. No começo quem importava esse tecido era a Itália, para confeccionar os uniformes dos marinheiros que trabalhavam no porto de Gênova. Esses genoveses, chamados de “genes” pelos franceses, acabaram também ganhando apelido dos norte-americanos, que os apelidaram de “jeans”.
Os rebites de reforço foram patenteados em 1873 por Levi Strauss e Jacob David. As tachinhas de cobre foram utilizadas para dar uma maior resistência aos bolsos que não estavam resistindo ao peso colocado neles
Os pontos críticos das calças foram reforçados, tornando-as mais duráveis e a roupa mais usada pelo mundo todo. Hoje já existem fabricantes nacionais que produzem roupas em jeans com espaços para inserir proteções especiais para motociclistas. A HLX é um bom exemplo (www.hlxracing.com.br).
Qual o melhor? Quando usar?
Escolha o tipo que mais se adequa a sua pilotagemPor ordem de resistência temos o couro, a Cordura e o jeans. Mas quando usar cada uma delas? A roupa do piloto deve estar adequada ao terreno que ele vai enfrentar e devem estar de acordo com a abrasividade do solo. Vale lembrar, por que quase ninguém lembra, que quanto menor a velocidade mais leve precisa ser a roupa. Vejam o caso das roupas usadas em trilhas. Precisam ser muito leves e folgadas para que o ar circule e as proteções que ficam por baixo não sofram desvios quando de um impacto. Em tombos, na maioria das vezes, essas roupas rasgam e a finalidade é essa mesmo – ser destruída e deixar que caneleiras, protetores de coluna, cotovelo e costelas atuem minimizando o dano ao piloto. Pode parecer um contrassenso, mas numa trilha a parte que exige maior resistência são as botas, pois o piloto sempre está pondo as pernas no chão.
Roupa de motociclista é roupa de segurança e você sempre deve lembrar que ao comprá-la, um dia ela será avariada ou parcialmente ou totalmente. Uma coisa é certa: ela é comprada para ser destruída e para que o impacto e as lesões sejam minimizados ou até totalmente evitadas. De nada adianta uma roupa bonita, mas que não protege.
No asfalto
No caso das motos que rodam em asfalto, calçamento e terrenos semelhantes a roupa precisa ser outra.Para velocidade: o couroPara situações onde pode vir a pegar chuva e muito calor a melhor roupa é a feita em Cordura. Existem jaquetas e calças com forração interna, inclusive com proteções já embutidas, que ajudam a proteger do frio e no calor possuem entradas de ar reguláveis que permitem a ventilação forçada. Outros tipos de Cordura recebem tratamento impermeabilizante e são resistentes à chuva. Lembre-se que ‘resistente à chuva’ não quer dizer ‘impermeável’. Há grande diferença. Na primeira haverá isolamento contra uma chuva leve ou mesmo uma forte chuva por pouco tempo. Na segunda, independente se chuva fraca ou forte, por muito ou pouco tempo, não haverá água passando para dentro da jaqueta. O único tecido 100% impermeável é o plástico ou a borracha. Os demais, mesmo com tratamento são menos ou mais resistentes.
O estilo e como obter a melhor proteção do jeans
O Jeans é um tecido popular pelo estilo e pelo custo, mas protege muito pouco se não tiver um equipamento de segurança por baixo. Para usar este tipo de tecido recomendo usar as proteções de forma independente ou comprar uma jaqueta que as traga embutidas nas roupas. Você também pode vestir uma armadura por baixo ou comprar caneleiras e joelheiras atreladas à proteção de coluna e cotovelos que estarão protegendo você caso o tecido se rasgue. Lembre-se que tudo isso é para salvar a sua pele literalmente de raladuras, as quais dependendo do tombo a abrasividade pode se assemelhar ao estrago causado por queimaduras de segundo grau.
Por último temos o couro. O couro é o tecido que mais combina com o estilo custom e é facilmente bem aceito em todos os estilos. Existem modelos de jaquetas e calças para todos os gostos e bolsos. As jaquetas mais simples podem receber as proteções de forma embutida ou você pode vesti-las por baixo. Uma dica importante para quando for comprar sua jaqueta e ela vier a ser usada por cima da camisa e das proteções, é comprar sempre um número um pouco maior para não prejudicar seus movimentos. Este cuidado não é necessário para quem usa jaquetas ou calças que já vem com proteção embutida.
Dentre todos os tipos de tecido o couro ainda é o mais resistente e quanto mais velho, melhor. O tipo de couro que eu mais recomendo é o de caprinos. No Nordeste ele vem de bodes e cabras. São couros mais finos e por incrível que pareça, são bem mais resistentes e flexíveis que os couros de boi e os preços são equivalentes em relação à qualidade. O couro, pela sua resistência, é o tecido usado pelos pilotos de motovelocidade. Portanto, se você deseja proteção e estilo, a um preço suportável e uma durabilidade de décadas, o couro ainda é a melhor opção.
Hidratando o couro
Como hidratar o couroUma coisa que muitos esquecem é que o couro é uma pele curtida e para que dure muito tempo precisa ser hidratada. Se você tem uma jaqueta em couro ou um macacão cuide de tratá-lo muito bem. A hidratação deve ser feita com cremes hidratantes ou óleo como os usados em bebês – tipo óleo Johnson. Para hidratar sua jaqueta coloque-a numa cruzeta no varal e passe óleo ou creme até perceber que o couro está mole. Ao terminar de passar retire-a e guarde-a. Além de ficar cheirosa vai estar devidamente hidratada. Importante: não hidrate sua jaqueta ao sol.
Acessórios – luvas e botas
Agora que você sabe para que serve e qual a resistência de cada tecido é hora de escolher os acessórios. Luvas precisam ser fechadas de punho longo. Luvas curtas não protegem os punhos numa queda, pois a tendência é o braço da jaqueta subir e deixar a metade do antebraço e do pulso e punho descobertos e, ralar essa parte é muito comum para quem usa luvas tanto com dedos de fora, como as de punho curto. Existem dois tipos de tecidos que são resistentes e confortáveis para luvas – a Cordura e o couro. A escolha é sua. Para que a sua luva dure bastante é sempre muito importante colocar um pouco de talco antes de usá-la. O talco utilizado para os pés serve perfeitamente e ajuda a matar boa parte das bactérias que deixam as luvas com cheirinho de chulé.
As botas devem ser em couro. Não se aventure a pilotar ou viajar de tênis, meia bota, sapatos comA melhor luva é a que não atrapalha seus movimentos – mas prefira as de courocadarços, chinelas ou sapatos desses que dispensam cadarços tipo mocassim. Em um tombo eles sacam do pé e quando você sua o pé eles podem facilmente sacar tirando a firmeza e o equilíbrio em uma parada. Já vi muito mocassim derrubar piloto quando estava parando a moto. O pé escorregou dentro do sapato e ai… chão!
Botas para custom devem se assemelhar as usadas por cowboys. Bico mais fino e um salto ajuda a descansar o pé no estribo. O uso de plataformas tira a possibilidade de elevar-se do banco da moto, pois não tem onde travar o pé e acabam gerando risco de acidentes bobos exatamente por perder o pé e com ele o equilíbrio. Piloto deve usar estribo. Plataforma apenas se o ângulo da perna em relação à moto for de no máximo 75 graus. Pernas inclinadas para frente precisam de apoio de estribos e nunca de plataformas. Para a garupa as plataformas são adequadas. Prefira botas com zíper ou com fechamento em velcro. Se possível escolha uma que ofereça as duas possibilidades.
O que eu uso:
Uma boa bota é fundamentalNa minha vida numa moto eu tenho roupas feitas nos três tipos de tecido que são usadas de acordo com o tempo e as condições da estrada a ser enfrentada. As proteções sempre estão por baixo da roupa ou estão embutidas na própria jaqueta. É fundamental ter os três tipos e não custa caro.
Um kit básico que seria composto por luvas, jaqueta com proteção embutida, uma calça também com proteção e uma boa bota pode ser adquirido em média por uns mil reais (preço médio de 01/10/2010). Se você comprar as proteções à parte (não embutidas) pode sair mais barato. Se a sua opção foi por um macacão de couro o preço mínimo não sai por menos de R$ 1.700,00 reais sem as botas e sem as luvas. Normalmente esses equipamentos se não avariados por tombo sério e se você não engordar muito duram uns quatro anos.
Essa foi a minha vida numa moto dessa semana. Na próxima coluna a gente trata de troca de óleo. Até lá.