Minha vida numa moto: Tudo sobre capacetes
PUBLICADO NO MOTONLINE EM 2010
Na coluna desta semana vamos entender por que ter a cabeça-dura às vezes pode salvar as nossas vidas. Séculos atrás se imaginava que era no coração que estavam centralizadas as emoções e a inteligência. Mais tarde descobriu-se que é dentro da cabeça que está tudo isso e é de lá que todo o corpo humano é controlado para fazer o que a mente necessita. Quando as motocicletas surgiram os capacetes usados nada tinham a ver com os que usamos hoje. Eram gorros de couro e óculos usados por pilotos de caça das duas Guerras Mundiais.
Capacete do Massa que salvou sua vida
No Brasil o uso do capacete é obrigatório e o disposto no inciso I dos artigos 54 e 55 e os incisos I e II do artigo 244 do Código de Transito Brasileiro, disposto na Resolução 203 de 29 de Setembro de 2006 determina que é obrigatório, para circular nas vias publicas, o uso de capacete pelo condutor e passageiro de motocicleta, motoneta, ciclomotor, triciclo motorizado e quadriciclo motorizado. Tem de estar devidamente afixado à cabeça pelo conjunto formado pela cinta jugular e engate, por debaixo do maxilar inferior e estar certificado por organismo acreditado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO, de acordo com o regulamento de avaliação de conformidade, por ele aprovado. Para fiscalização do cumprimento desta Resolução, as autoridades de trânsito ou seus agentes devem observar a aposição, nas partes traseiras e laterais do capacete de dispositivo refletivo de segurança (fita reflexiva) e do selo de identificação de certificação regulamentado pelo INMETRO, ou a existência de etiqueta interna, comprovando a certificação do produto nos termos do § 2º do artigo 1º e do Anexo da Resolução. O condutor e o passageiro de motocicleta, motoneta, ciclomotor, triciclo motorizado e quadriciclo motorizado, para circular na via pública, deverão utilizar capacete com viseira, ou na ausência desta, óculos de proteção. Entende-se por óculos de proteção, aqueles que permitem ao usuário a utilização simultânea de óculos corretivos ou de sol. É proibido o uso de óculos de sol, óculos corretivos ou de segurança do trabalho (EPI), em substituição aos óculos de proteção de que trata esta Resolução. Quando o veículo (moto, triciclo ou quadriciclo) estiver em circulação, a viseira ou óculos de proteção deverão estar posicionados de forma a dar proteção total aos olhos. À noite é obrigatório o uso de viseira no padrão cristal (supertransparente). É proibido colocar película na viseira do capacete e nos óculos de proteção. Se você está fora da Resolução, é multa na certa!
Os importados
Outro ponto que gera grande polêmica trata-se dos capacetes importados. Marcas como Shoei, Nolan, AGV, Arai, Bell,BMW, Caberg, Marushin, Nitro, Shark, Suomy mesmo certificados pelo rigoroso sistema de classificação SHARP, que é um programa do Departamento de Segurança dos Transportes do Governo Bitânico (http://sharp.direct.gov.uk/), ainda assim não serão aceitos no Brasil por não terem a certificação e nem o selo do Inmetro. Apesar de todos os capacetes avaliados pelo programa SHARP estarem de acordo com as normas mínimas de segurança jurídica daquele país de nada valem no Brasil. O programa de ensaios do SHARP utiliza uma ampla gama de testes para fornecer aos pilotos uma enorme gama de informações sobre o quanto um capacete pode oferecer de proteção quando de um acidente. O programa inclui orientações importantes sobre como escolher um bom capacete apropriado (Veja como encaixar seu capacete – http://sharp.direct.gov.uk/content/how-fit-your-helmet), mais seguro e melhor adequado ao motociclista. Os testes realizados pelo SHARP (veja neste link uma animação mostrando os testes que são executadoshttp://sharp.direct.gov.uk/content/animation) – atribuem de uma e cinco estrelas. Pelo resultado dos testes, o desempenho da segurança dos capacetes pode variar em até 70% e isso também está relacionado ao preço final do capacete. Em virtude de existirem cerca de 27 marcas no mercado britânico o programa SHARP ajuda o motociclista a escolher o que melhor se adéqua a sua realidade financeira de custo/benefício.
Em busca de um padrão internacional?
Uma sugestão para a solução do problema com os capacetes importados seria firmar convênios e acordos internacionais onde todos os fabricantes adotem um mesmo padrão de ensaios, testes e certificação. Por exemplo: grande parte dos motociclistas que praticam o mototurismo na América Latina teriam problemas no Brasil com seus capacetes, pois, sem o selo do Inmetro será multa na certa. Para andar de acordo com as Normas Brasileiras de Trânsito teriam que comprar um capacete para uso no Brasil. Imaginemos que a Europa, os EUA e a América Latina adotem padrões e certificações distintas e obrigatórias para capacetes. Um motociclista em viagem (seja na sua moto ou em moto alugada) teria quer ter vários conjuntos de capacetes para poder rodar de acordo com o que a lei exige. Isso seria algo absurdo! Digamos que você vai aos EUA e lá irá passear numa moto alugada e deseja levar seu capacete. Vamos supor que seu capacete, usado no Brasil, certificado pelo Inmetro, não seja aceito lá. Você terá que comprar outro e este novo capacete não poderá ser usado aqui também. Daí, a confusão. Normas são importantes, mas elas precisam considerar vários casos, pois as pessoas, pelo menos a maioria delas, deseja andar de acordo com o que rege a lei de trânsito. Não existe nada mais desagradável que receber multas e pontos na carteira. Pior ainda é receber a multa por estar usando um capacete de qualidade reconhecidamente internacional simplesmente por não possuir um selo de certificação. È quando estar certo é o mesmo que estar também errado.
Nolan articulado fechado e aberto
Bieffe |
IMS off Road |
Como eu escolho meus capacetes?
Não uso capacetes abertos. O máximo que ainda permito é o modular ou articulado. Estes tipos de capacetes foram os escolhidos pela grande maioria dos batalhões brasileiros de motociclistas policiais por permitir proteção adequada e a flexibilidade de poder, em uma abordagem, melhorar o campo de visão, a ventilação e ainda facilitar tanto o uso, como vesti-lo rapidamente. Porém, este capacete não serve para todas as ocasiões. Na minha vida numa moto eu uso hoje três tipos de capacetes. O articulado é um Nolan usado para viagem. Ele possui um excelente conforto; ótima aerodinâmica (há um estabilizador no topo que serve também como entrada de ar, o que reduz bastante os efeitos da turbulência provocados pelos caminhões, quando estamos atrás deles); bom isolamento acústico; viseiras mais grossas com travas de segurança; óculos escuros retráteis como sobreviseira contra o excesso de luminosidade e, a mesma flexibilidade que permite, por exemplo, tomar água sem ter que tirar o capacete.
LS2
O segundo capacete é um Bieffe fechado que é usado, principalmente na cidade ou em trechos curtos. O terceiro capacete é um IMS para off Road com óculos de proteção da mesma marca. Este capacete é utilizado apenas em percursos off Road e com a moto de trilha.
Há ainda um quarto capacete que é utilizado pela garupa. É um LS2 que tem um desenho que lembra um Shoei. Este tipo de capacete eu chamo de misto. O desenho dele permite seu uso em várias condições, menos em trilhas. O desenho e a forração interna proporcionam boa ventilação e ótima aerodinâmica para a garupa. Ele é leve e tem boa fixação, além de ótima forração.
Quando for escolher seu capacete tome alguns cuidados
Vista-o e peça para que outra pessoa faça dois testes simples. Antes o vista e o amarre corretamente. Vire a cabeça para os lados, para cima e para baixo. Feito isso peça para que alguém empurre a queixeira em direção ao seu rosto com a ponta dos dedos em um movimento rápido e com força mediana. Se a queixeira tocar a ponta do seu queixo escolha outro, provavelmente este capacete, em um tombo, pode vir a machucar seu maxilar. O segundo teste, também com a ajuda de outra pessoa, é para ter a certeza de que o capacete escolhido não sairá da sua cabeça no caso de um tombo. Pode parecer absurdo, mas um estudo detalhado dos acidentes de motocicleta em toda a Europa mostrou que 12% dos capacetes foram sacados da cabeça durante o curso de impacto. Para saber se ele não sairá da sua cabeça na hora mais importante peça para alguém tentar tirá-lo forçando da parte inferior traseira pra cima. Peça para a pessoa encaixar a ponta dos dedos na parte inferior traseira e tentar com certa força tirá-lo da cabeça. Se ele sacar ou sair parcialmente escolha outro modelo. O correto será sempre subir um pouco e retornar a posição original. Usando um capacete que caiba corretamente na sua cabeça você aumentará drasticamente as chances de sobreviver a um acidente.
Confira abaixo os modelos de capacetes certificados Inmetro, descritos abaixo nos desenhos legendados de 01 a 07:
Fig. 1 – Capacete integral (fechado) com viseira |
Fig. 2 – Capacete integral sem viseira e com pala (uso obrigatório de óculos) |
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Fig. 3 – Capacete integral com viseira e pala |
Fig. 4 – Capacete modular |
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Fig. 5 – Capacete misto com queixeira removível com pala e sem viseira |
Fig. 6 – Capacete aberto (jet) sem viseira (com ou sem pala; uso obrigatório de óculos) |
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Fig. 6 – Capacete aberto (jet) com viseira (com ou sem pala)
Tipos de capacetes não permitidos
Acessórios Permitidos e Sistemas de engates certificados
E quanto às viseiras? Posso usar qualquer tipo?
Não. A definição de viseiras pelo Inmetro é clara. São óculos que permitem aos usuários a utilização simultânea de óculos corretivos ou de sol, cujo uso é obrigatório para os capacetes que não possuem viseiras. É importante relembrar que é proibida a utilização de óculos de sol, ou de segurança do trabalho (EPI) de forma singular, nas vias públicas em substituição aos óculos de proteção motociclística. A viseira é destinada à proteção dos olhos e das mucosas, e construída em plásticos de engenharia, com ótima transparência, fabricadas nos padrões cristal, fumê light, fumê e metalizadas. Para o uso noturno, somente a viseira cristal é permitida, as demais são para o uso exclusivamente diurno, com a aplicação desta orientação na superfície da viseira, em alto ou baixo relevo, no idioma português (USO EXCLUSIVO DIURNO) e também, se o fabricante desejar, no idioma inglês (DAY TIME USE ONLY). Quando o motociclista estiver transitando nas vias públicas, o capacete deverá estar com a viseira totalmente abaixada, e no caso dos capacetes modulares, além da viseira, a queixeira deverá estar totalmente abaixada e travada.
Eu posso lavar meu capacete?
Claro! Lavar o capacete, além de fazer parte da higiene pessoal do piloto e garupa servirá para aumentar a durabilidade deste tipo de equipamento que é projetado para durar até cinco anos (em caso de uso eventual) e três anos em caso de uso ostensivo (diário por pelo menos 4 horas). No verão, a recomendação é lavar o capacete a cada 30 dias. No inverno, a cada dois meses. Se pegou chuva aproveite e lave-o também senão vai ficar com cheiro de ‘cachorro molhado’. Se você sempre está usando sua moto, como é o meu caso, o melhor a fazer é lavar um enquanto está usando outro. Se possível, depois de uma longa viagem a lavagem do capacete é extremamente necessária. No caso dos capacetes de trilha, sempre que terminar o passeio coloque-o em um balde para lavar. Existem duas formas de lavar o capacete. Lavar ele todo montado ou desmontá-lo para lavar e montá-lo novamente. Caso a sujeira seja muita ou já faz muitos meses desde que foi lavado pela última vez a recomendação é desmontá-lo. Se não sabe como fazer ou não tem muito saco para isso, a melhor alternativa é lavar sem desmontá-lo. Para lavar seu capacete sem desmontá-lo terá que usar três baldes altos e grandes o suficiente para que o capacete fique de molho. Mas vamos por partes como diria Jack, O Estripador.
1. No primeiro balde coloque água suficiente para poder cobrir o capacete colocado com a parte de traz no fundo do balde e a queixeira para cima. Coloque sabão multiação (o melhor mesmo é o OMO com tira manchas). Em seguida uma medida de tira-manchas da marca OXY2 ou Vanish. Misture tudo e mergulhe o capacete. A lavagem deve ser feita sempre à sombra e NUNCA use alvejantes (água sanitária, ou qualquer produto que tenha isso na composição). Mergulhe o capacete com a queixeira virada para cima e deixe-o de molho por pelo menos uma hora, dependendo do quanto ele está sujo. Depois desse tempo retire-o e lave em água corrente esfregando as partes ainda sujas com uma escova de pontas finas. Se necessário repita o procedimento.
2. No segundo balde coloque apenas o amaciante e a água. Mergulhe o capacete e deixe-o lá por não mais que vinte minutos.
3. No terceiro balde deve ter apenas água limpa. Tire-o do balde com amaciante e mergulhe-o no terceiro balde por 10 minutos, nem mais e nem menos. Para secar coloque-o pendurado em um armador ou gancho, sempre à sombra, com a queixeira apontada para o chão e com a viseira aberta. Deixe assim até secar completamente. Depois de seco confira o cheirinho gostoso de limpeza e como estará mais macio. Mas ainda será necessário polir o capacete. Passe cera de boa qualidade, de preferência que contenha cera de carnaúba na composição. Deixe secar à sombra e sem seguida retire o excesso com um pano limpo. A viseira e os óculos podem receber uma camada de cera, mas ao limpá-la deve ter o cuidado de utilizar um papel macio. Dá um pouco de trabalho, mas em caso de chuva você vai perceber a diferença que faz. Importante lembrar que a limpeza deve ser feita por dentro também. Na parte interna use uma um terço da quantidade de cera usada na parte externa da viseira e limpe também com papel. Esta limpeza, se você não tomar chuva, suar ou sujar o capacete de forma pesada dura uns dois meses. Se durante uma viagem os mosquitos surraram a sua viseira nunca lave com água e nem passe papel. Estes mosquitos possuem um ácido e uma cera ou pólen que quando esfregados viram uma gosma a qual vai piorar ainda mais a situação. Lave com sabão neutro e em água corrente. Seque com um papel macio até que toda a gosma saia da viseira. Depois passe cera e retire o excesso com papel macio. Tratando bem do seu capacete vai proteger seu investimento e fazê-lo durar muito mais. A sua cabeça agradece.
Outra dica importante é utilizar uma balaclava
Ela não serve apenas para ser usada no frio. A balaclava é boa também para reter parte da sujeira, do suor e do pó de asfalto que entra no seu capacete, além de não destruir o seu cabelo. Existem capacetes que, por dentro, estão cheios de fios de cabelo presos ao forro. A balaclava ajuda a evitar isso também.
Essa dica é ainda mais importante para as mulheres que têm cabelo grande ou comprido. Para que os cabelos não fiquem embaralhados por conta do vento e do forro, a balaclava funciona como uma touca de proteção do penteado. Basta enrolar o cabelo e vestir a balaclava e o capacete. Ao tirá-lo, é soltar o cabelo e ele estará lá, perfeito! Para lavar a balaclava é necessário avaliar as seguintes situações: Balaclavas usadas em viagem devem ser lavadas diariamente, por isso leve sempre duas. À noite, no hotel, lave uma e deixe-a secando perto do ar-condicionado. No caso de uso na cidade, lave de três em três dias usando a mesma mistura de sabão com amaciante em um balde só. Se for usar máquina de lavar lembre-se de colocar a balaclava com roupas de mesma cor.
Quando guardar o capacete apenas como lembrança?
Depois de um tempo seu capacete não vai servir para nada mais a não ser decorar sua estante de lembranças. Lavá-lo e guardá-lo pode ser uma boa se você quer manter no roll das lembranças de quantos lugares bacanas vocês foram juntos. Todo capacete tem uma história. Compre um novo capacete quando o que você usava sofreu impactos relativos a um acidente ou se ele caiu de uma grande altura (mesmo que não tenha sido um acidente). Pancadas fortes ou acidentes onde a carcaça do capacete foi avariada ou até mesmo arranhada seriamente podem conter microfissuras e possivelmente será menos eficiente caso venha a precisar dele novamente. Caiu ou tombou e esta avaria foi no casco, troque o capacete!
Cuidados com a personalização
Personalizar capacetes é uma moda. A maioria das pessoas gosta disso. Além de dar seu toque pessoal a personalização facilita com que você seja identificado à distância por seus amigos e isso tem lá suas vantagens. Mas a personalização tem um limite e este deve ser sempre a sua segurança e, prioritariamente, estar de acordo com a Lei. Há casos onde a personalização apaga o selo do Inmetro e nesse caso, numa vistoria, será necessário tirá-lo para exibir a etiqueta interna de certificação que fica presa no forro. Se você mudar tudo inclusive o forro, vai levar uma multa e mais alguns pontos na carteira. Portanto, muito cuidado quando for personalizar seu capacete. Atualmente as motos precisam passar por uma vistoria no Detran. Lembre-se de levar um capacete que esteja de acordo com as normas do trânsito. Chegar lá com capacete sem selo ou fora da conformidade com a respectiva Norma vai fazer com que a sua moto seja reprovada na vistoria.
Bom, esta foi a minha coluna – Minha vida numa moto. Semana que vem a gente fala do tema: Viajando com garupa.