Motociclista, cuidado com a hipoglicemia.
Em 23 de Março de 2010, um homem foi abordado pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) de Santa Catarina, após dirigir por cerca de 15 km na contramão, na rodovia BR-101, na altura do município de São José (Grande Florianópolis), na madrugada de terça-feira. De acordo com a polícia, ele estava com hipoglicemia e não sabia o que estava fazendo.
A abordagem ocorreu por volta das 3h, realizaram o teste do bafômetro, mas o resultado deu negativo. Os policiais informaram que o homem estava desorientado e disse não saber o que estava fazendo. Uma equipe médica do Samu constatou que o motorista estava com hipoglicemia (baixo nível de glicose no sangue) no momento em que realizou o trajeto na contramão.
Em 15 de Agosto de 2011, em Lavras, MG, uma motociclista sofreu um acidente pela manhã, na Avenida Vaz Monteiro, na zona norte de Lavras. A jovem sofria de hipoglicemia, perdeu o controle da direção da moto e caiu. Para sorte dela, nada de grave aconteceu com ela.
Pode parecer que isso não existe, mas é um problema que está acontecendo com certa frequência entre os motociclistas. Outro amigo meu, Alexandre, certa vez, parou sua moto na calçada e sentou-se como que se estivesse bêbado e o que ele tinha mesmo era uma crise de hipoglicemia agravada por não ter se alimentado pela manhã.
Para quem não sabe, motocicleta gera adrenalina e adrenalina queima açúcar e se não tem açúcar para queimar é chão! Simples assim. O professor Telmo Maia Gomes, preparador de tri-atletas e motociclista nas horas vagas dizia que “uma hora de moto equivale a 40 minutos de caminhada”. Uma das suas grandes preocupações era o hábito do brasileiro de tomar um café da manhã ‘meia-boca’. Segundo ele, esse era o principal fator para que uma hipoglicemia acontecesse. O outro era pilotar por horas sem se alimentar ou pelo menos tomar algo com açúcar, como um refrigerante para quem não era diabético.
Os diabéticos conscientes que pilotam motos sabem disso e se cuidam. Notem que eles monitoram diariamente suas taxas. Alta demais causa problemas, mas baixa demais mata rapidamente. Meu pai, motociclista já aposentado, é diabético e esse é um dos cuidados que eu costumo tomar e sempre alerto aos meus colegas de viagem para se alimentarem bem durante a viagem. Vale destacar que alimentar-se bem durante a viagem nada tem a ver com ‘encher a barriga de guloseimas e alimentos pesados‘ que dificultam a digestão e acabam dando sono e desconforto.
Para entender o que acontece quando um motociclista tem uma crise de hipoglicemia vamos comparar a um motor de uma moto que de repente começa a falhar e a não obedecer aos seus comandos. O freio não funciona, o motor perde potência e você não consegue controlar a moto de forma segura. Parece que nada funciona e que tudo está solto exatamente na pior hora que do dia para se pilotar – o fim-de-tarde ou o lusco-fusco. Fica tudo cinza e vai escurecendo aos poucos.
Em um ser humano isso provoca desmaios e até convulsões. Em alta velocidade pode ocorrer que a moto passe reto numa curva e o piloto se torne passageiro, sem que possa sair dela ou usar seus instintos para tentar se salvar. Simplesmente você apaga e o resto é consequência, fatalidade ou sorte de continuar vivo.
Segundo o Dr. Claudio José Musumeci, Médico ortopedista e motociclista, o problema acontece tanto com diabéticos como em não diabéticos. Os diabéticos que não sabem que são diabéticos comem copiosamente antes de sair de casa, colocam bastante açúcar no café com leite, um bolo e até um sanduiche. A glicemia (quantidade de açúcar) passa dos 300 mg / ml. (Normal em torno de 100 mg / ml). Começa a ter tontura, vista embaçada, e pode tanto perder totalmente o sentido como pode sofrer uma perda rápida de consciência.
O inverso pode ocorrer se você não come nada sai em jejum, e ainda por cima toma o remédio para baixar o açúcar. Quando você faz força –Você gasta açúcar – baixa a quantidade de açúcar disponível no organismo – começa sentindo fraqueza e sonolência e pode até perder a consciência e aqui acontece a Hipoglicemia “falta de açúcar”.
O Dr. Claudio José Musumeci ainda alerta que os não diabéticos que dormem mal à noite – acordam e não tomam café – e vão em um passeio longo “exemplo São Paulo para Tiradentes” – Fazem lanche rápido – não come nem bebe o suficiente – podem ter hipoglicemia “Falta de açúcar no sangue” e geralmente desmaiam e acabam sofrendo um grave acidente.
O Dr. Musumeci alerta também sobre a desidratação que em dias quentes é agravada com a falta de ingestão de líquidos, com a perda excessiva de sais e água pelo corpo faz sua pressão cair, você começa sentir sonolência, câimbras e também fica tonto e perde a consciência. Muito parecido com os efeitos da hipoglicemia.
Recentemente Flávio Melo, meu amigo, motociclista experiente, piloto profissional, não bebia, físico em dia saiu inexplicavelmente em uma curva que ele fazia pelo menos duas vezes por semana e acabou falecendo. Ninguém entendeu como isso poderia ter acontecido. Não havia marca de freio e nem tentativa de qualquer tipo de correção ou desvio. Simplesmente passou reto e derrubou oito mourões de concreto antes de parar morto ao lado da moto. Flávio tinha 56 anos, era saudável, mas pode ter sido vítima de uma hipoglicemia. Ninguém sabe. A causa da morte deverá ser mesmo todos os ferimentos decorrentes do acidente, mas, ao meu ver, estes foram os efeitos, a causa me parece ter sido outra. Nunca saberemos.
Alimente-se e cuide da sua saúde. Tem muita estrada para andar por aí, mas sem açúcar no sangue ou com excesso dele nas veias, pode azedar o passeio.