Nixon, o professor-motociclista. Várias voltas ao mundo sem sair do Ceará.
Raul Nixon tem nome de presidente, mas é professor com excelente nível de formação em uma famosa rede de ensino do Ceará, pois é muito mais que mestre. Seria apenas isso se ele não fosse também motociclista. E seria apenas mais um dos tantos professores bem capacitados nesse país que também andam de moto se não fosse por um detalhe.
Raul nestes anos todos em que viaja pelo interior do Ceará lecionando já acumulou uma quilometragem de fazer inveja a qualquer motociclista, quanto mais a um professor. São mais de dez voltas em torno do mundo pela linha do Equador. Sim, e pouco mais que a distância do planeta Terra à Lua. Tudo isso feito de moto pelo interior do Ceará ensinando.
Fui encontrar o Raul Nixon no Açaí para entrevista-lo a respeito de um desafio que ele e o Alex Soares do FOX MG e o André Luiz estavam fazendo – o qual seria visitar todos os 184 municípios do Ceará de moto. No meio da conversa acabei descobrindo um outro lado do Raul que eu não conhecia. O professor-motociclista que viajava de madrugada para ensinar.
Raul me conta que é possível saindo de moto às três horas da manhã alcançar qualquer lugar no Ceará até no máximo às oito da manhã. E ele fala com a propriedade de quem saia de Fortaleza no final da tarde para dar aula em Aracati (150 km de Fortaleza) e voltar na mesma noite. O Raul já fez trechos bem malucos. Em um deles, o qual fez várias vezes, compreendia deixar Viçosa(CE) e viajar à noite para chegar de madrugada na cidade de Aracati (CE) onde daria aula de manhã. É ir de um extremo ao outro do Ceará em apenas algumas poucas horas.
Nessas viagens ensinando pelo interior do Ceará, Raul coleciona várias histórias. Numa delas tomou tanta chuva que chegou a atolar a moto e as botas na lama, ficando de pés descalços até encontrar uma bica onde pudesse se lavar.
Em outra viagem o Raul pegou uma estrada de terra e acabou tombando. Estava numa moto bem potente e adequada para o trajeto, mas acabou tomando. Eis que de repente aparece um menino, descendo a serra sem capacete, sem camisa e trazendo na traseira da moto, uma CG das antigas, dois botijões de gás sustentados apenas por uma vara de pau. O garoto parou para ajudar e o convidou para almoçar na sua casa. Lá comeu que nem um rei e ainda tirou um cochilo na rede que lhe foi oferecida pela dona da casa. Meses depois Raul retornou ao lugar, mas nunca mais viu e nem conseguiu achar o caminho da casa do garoto que tão bem o recebeu.
Uma das paixões de Raul é a fotografia. Sempre que pode ele aproveita e para capturar uma imagem da natureza. E assim já se somam milhares de registros que ele nem sabe mais o que tem de tanta foto que os mais de 400 mil quilômetros rodados ensinando pelo Ceará proporcionaram o registro.
Dicas ele tem muitas. Uma delas é “nunca pergunte se a sua moto chega lá”. Segundo o Raul, “perguntamos aos nativos do lugar se a nossa moto consegue chegar a um lugar cujo o acesso parece ser difícil. Aí eles olham a sua moto, veem que ela é grande e tem muita força e a resposta deles é fatal – ‘sim, claro que chega!’. É aqui o erro”. Destaca Raul. O maior problema não é nem o peso, mas a falta de prática de andar em terrenos bem difíceis, o quais os nativos estão muito acostumados. – “É tentar e tomar um tombo quase certo”. Sentencia, Raul.
Foram várias as motos que passaram pela vida nem um pouco monótona do Raul Nixon. Algumas pegou zero e entregou com mais 110 mil quilômetros rodados. Assim tem sido a vida do professor-motociclista. Ou seria do motociclista-professor? Tanto faz. Raul poderia ter feito toda essa quilometragem de carro ou mesmo de ônibus e até poderia escolher ficar só pela capital no ar condicionado, almoçando em casa e sem correr grandes riscos.
Ainda bem que ele decidiu sair mundo afora ensinando pois segundo ele – “- eu aprendi mais do que ensinei”. Realmente, Raul. Nós também, professor.