O ano só começa quando é carnaval?
A tradição do brasileiro de afirmar que o ano só começa depois do carnaval é antiga e gera muitas controvérsias. Alguns concordam e a maioria dos que assim defendem o fazem justamente em causa própria. Para aqueles que não concordam, os comerciantes, principalmente aqueles que fecham suas lojas durante carnaval, reclamam que perdem vendas.
Aqui as duas situações brigam com uma tradição. Na realidade nem segunda e nem a terça é feriado nacional, mas feriados locais e informais por força de uma tradição. Os municípios decretam o feriado e eles só podem, por lei, decretar 3 feriados. Nos municípios onde não existe tradição e nem festas de carnaval geralmente a prefeitura utiliza estes decretos em festas da cidade de de suas padroeiras. Mas a força do carnaval é tão grande que até quem reclama dele tira uma folga também.
Falo dos comerciantes que fecham suas lojas durante o período momino. Bem que poderiam aproveitar o período sossegado para melhor planejar o ano que se iniciou, pois a maioria das empresas não faz seu plano estratégico no fim do ano por ser esta época a melhor em termos de vendas para a maioria do comércio. Assim, como logo depois das festas de fim de ano, que também termina e começa com um carnaval ou pré-carnaval, já começam as liquidações de janeiro, os planejamentos, ficam para depois e com o ano andando. Mas como brasileiro adora carnaval, pão e circo, essa seria a melhor época para rever ou planejar o ano em curso.
Dessa forma, como a maioria não faz, grande parte das empresas fica sem planejamento e vão tocando a vida com visão de no máximo três meses. Mal sabem eles que esta é uma visão curta para poder reagir, repensar e manobrar. Mas a maioria, mesmo reclamando, aproveita para pegar um sol, viajar, descansar e não pensar em trabalho de forma nenhuma.
E eu pergunto: Como seria o ano de um empresário se ele gastasse dois dias, dos cinco dias dedicados ao carnaval,planejando melhor seu negócio?
A festa carnavalesca surgiu a partir da implantação, no século XI, da Semana Santa pela Igreja Católica, antecedida por quarenta dias de jejum, a Quaresma. Esse longo período de privações acabaria por incentivar a reunião de diversas festividades nos dias que antecediam a Quarta-feira de Cinzas, o primeiro dia da Quaresma. A palavra “carnaval” está, desse modo, relacionada com a ideia de deleite dos prazeres da carne marcado pela expressão “carnis valles”, que, acabou por formar a palavra “carnaval”, sendo que “carnis” do grego significa carne e “valles” significa prazeres.
Em geral, o carnaval tem a duração de três dias, os dias que antecedem a Quarta-feira de Cinzas. Em contraste com a Quaresma, tempo de penitência e privação, estes dias são chamados “gordos”, em especial a terça-feira (Terça-feira gorda, também conhecida pelo nome francês Mardi Gras), último dia antes da Quaresma. Nos Estados Unidos, o termo mardi gras é sinônimo de Carnaval.
O carnaval da Antiguidade era marcado por grandes festas, onde se comia, bebia e participava de alegres celebrações e busca incessante dos prazeres. O Carnaval prolongava-se por sete dias na ruas, praças e casas da Antiga Roma, de 17 a 23 de dezembro. Todas as actividades e negócios eram suspensos neste período, os escravos ganhavam liberdade temporária para fazer o que em quisessem e as restrições morais eram relaxadas. As pessoas trocavam presentes, um rei era eleito por brincadeira e comandava o cortejo pelas ruas (Saturnalicius princeps) e as tradicionais fitas de lã que amarravam aos pés da estátua do deus Saturno eram retiradas, como se a cidade o convidasse para participar da folia.
No período do Renascimento as festas que aconteciam nos dias de carnaval incorporaram os baile de máscaras, com suas ricas fantasias e os carros alegóricos. Ao caráter de festa popular e desorganizada juntaram-se outros tipos de comemoração e progressivamente a festa foi tomando o formato atual.
O mais interessante nisso tudo é que no Brasil, uma mania nacional de reclamar das coisas e usufruir delas também, é também outra tradição. Nada contra o carnaval e quem gosta dele, mas reclamar dele e não tirar proveito para talvez quem sabe crescer um pouco mais, seria talvez, mais produtivo do que falar que nesses dias de folia “não se deve pensar e nem falar de trabalho” e que na volta, depois de cinco dias de empresa fechada ou três, como quiserem, dizer que “estarão correndo atrás do prejuízo”.
Aqui eu faço outra pergunta: Em vez de desfilar no bloco “Correndo atrás do prejuízo” o empresário não deveria estar no abre alas da Escola de Samba “Unidos Atrás dos Lucros ?”
Vai entender o brasileiro e suas tradições…