"O primeiro grande desafio". Por André Luiz Andrade Sucupira
O primeiro grande desafio
“Confesso a vocês que não foi fácil aceitar a responsabilidade de representar os formandos da Universidade de Fortaleza deste semestre de 2011. Talvez este seja o primeiro grande desafio que a situação de bacharel formado me coloca: representá-los num momento em que nossos pensamentos são orientados para a realização dos inúmeros projetos que construímos nestes últimos anos.
O que devo falar, neste momento? Uma dúvida que me acompanhou desde o instante em que fui convocado para representá-los. Como concludente da primeira turma do Curso de Audiovisual e Novas Mídias da Unifor, a minha inspiração, claro, é sempre imagética.
Lembro-me destes últimos anos como um filme, em que cada cena, cada diálogo, cada sequência foi construída coletivamente. Um roteiro que incluiu todos os elementos que as grandes narrativas do cinema incorporam: alegria, afetos, tensão, encontros, separações, reencontros. Mas o final deste roteiro está completamente aberto. Diferente das ficções do cinema clássico, o final deste filme é construído indefinidamente.
Porque, na vida, o que nos impulsiona é exatamente este desafio de construir as nossas trajetórias pessoais. E, nos caminhos, essa trajetória é fragmentada, é sempre um processo de idas e vindas. Não existe nenhuma certeza sobre o lugar em que chegaremos. Mas, nestes caminhos, talvez possamos assumir compromissos. É disso que gostaria de falar com vocês agora.
Estamos num tempo de grandes transformações culturais, econômicas e sociais. Um mundo em que desapareceram as tradicionais ideias de nação, de família, de profissão, de política. Enfim, estamos em processo de construção de novas referências.
Hoje nós somos cidadãos do mundo. E esta situação reúne muito mais questões do que o uso comum desta frase sugere. A conexão mundial em que estamos mergulhados cria uma nova sensibilidade.
Sentimos as dores das vítimas dos tsunamis do Japão; nos comovemos com ascensão política do primeiro negro à presidência dos Estados Unidos; torcemos pelo sucesso do trabalho da primeira mulher presidente do Brasil. Choramos com as mães que perdem seus filhos violentamente em todo mundo: para as guerras, para as drogas, para a intolerância.
Todas estas dores e alegrias nos desafiam e participam ativamente da construção de cada uma das trajetórias profissionais que começam neste momento de formatura. Acredito que o compromisso central que devemos assumir em nosso tempo é com uma nova ética de vida, independentemente do lugar em que nossa trajetória nos levará.
Esta nova ética inclui uma defesa inegociável dos direitos humanos, que – apesar do desenvolvimento incontestável das sociedades – ainda são ameaçados em todo mundo. O direito à liberdade de expressão; ao acesso a uma educação plena; à cidadania cultural. Esta nova ética deve preocupar-se com o desenvolvimento sustentável, ameaçado pelas ocupações urbanas desordenadas e pela exploração imobiliária dos nossos litorais.
Esta nova ética não deve compactuar, em nenhum momento, com a corrupção instalada há décadas nos sistemas políticos internacionais. Enfim, devemos, hoje, nos comprometer com uma nova ética que garanta o pensamento livre, porque o pensamento só se transforma em ação, quando ele pensa – como nos sugere o filósofo alemão Heidegger.
E, no mundo contemporâneo, as nossas formas de ação são várias. Nunca tivemos tantas possibilidades de agir. Somos a primeira geração de um mundo novo, a quem a navegação na web oferece inúmeros caminhos. Não devemos abrir mão desta riqueza. Ao contrário, devemos usar essa abundância de informações para a construção de um mundo mais justo.
Aprendemos, nestes anos na Unifor, uma enormidade de coisas: com os nossos gestores, colegas, professores, funcionários, a quem agradecemos, com alegria e satisfação, o apoio que nos deram no processo de aprendizagem. Somos também gratos aos nossos familiares e amigos pela compreensão nos momentos de dificuldade, sobretudo pelo amor que partilharam conosco. Oportunamente, parabenizamos o Chanceler Airton Queiroz, pelo título de Doutor Honoris Causa recebido há pouco tempo da Universidade do Havre. Estamos certos de sua postura visionária na gestão desta Universidade que nos será sempre referência. Foi ela que nos colocou em contato com um conhecimento de qualidade que agora devemos utilizar para o mundo.
Por fim, convoco todos vocês para participar da construção de um mundo socialmente mais justo. Um mundo de respeito às diferenças e de luta pela igualdade social. Termino esta fala com o meu coração comovido e com uma expectativa enorme. Acredito que cada um de nós carrega um pouco deste sentimento. Hoje, carrego talvez uma única certeza: estes anos na Unifor já compõem “Os melhores dias da minha vida” – para lembrar um filme irlandês que fala de jovens. Desejo a todos muita coragem nestes novos caminhos a serem percorridos. Obrigado!”
André Luiz Sucupira