Placas-mãe: Consertar, trocar ou jogar fora?
Eu tinha uma curiosidade a respeito de uma peculiaridade do comportamento do mercado de tecnologia no Brasil. Minha dúvida, talvez receio, era saber se nós estávamos pegando a mania do descartável. Ou seja, se por qualquer bobagem em vez de consertar ou melhorar um pouco o cliente estava resolvendo mesmo era trocar tudo e descartar o restante.
Tomei como exemplo o conserto de placas-mãe. Será que valeria mesmo a pena repará-las? Ou seria melhor mesmo trocar e jogar fora? Pesquisando aqui no FPCS descobri o Eduardo Pereira da costa, da PCTechnics é formado em Eletrônica e especialista nas áreas de hardware há mais de 25 anos com CREA de São Paulo onde é mais conhecido como Eduardo PC.
Entrevistamos o Eduardo PC sobre manutenção e recuperação de placas-mãe e outros itens. Vamos a ela:
Fórum PC s – Está valendo a pena reparar em vez de comprar uma nova placa?
EDUARDO PC -“Sim, está. Os valores máximos dificilmente ultrapassam 30% do valor doequipamento. Por exemplo: placa-mãe básica nova 150,00 + custo de mão-de-obra técnica R$50,00-total para o consumidor R$ 200,00. Agora reparando o custo cai muito. Os valores dos reparos desta placa ficariam em R$30,00 a R$ 40,00 em media + R$50,00 da mão-de-obra das Assistências técnicas. O custo total ficaria entre R$ 80,00 e R$ 90,00 e com garantia de 90 dias”. O custo de reparos para Importadores, Fabricantes de PCs, Distribuidoras, Revendas caem ainda mais devido ao volume.
– Ou seja, R$ 90,00 mais barato que uma nova, quase a metade se considerar a mão de obra do técnico?
EDUARDO PC -“Sim, mas para este cálculo considero o custo de peças, pois não há tabela fixa para mão-de-obra neste segmento de mercado, cada placa tem o seu custo diferenciado”.
FPCS -Se a relação entre ter uma placa nova com garantia de um ano ou mais e reparar uma com defeito vale mesmo a pena; sendo assim, por que as pessoas preferem muitas vezes descartar a placa velha e comprar uma nova?
EDUARDO PC -“Na maioria das vezes desconhecem este serviço e também porque são oferecidos novos modelos ou, ainda porque, é mais fácil resolver assim-quebrou, compra outra e pronto! Tem muita empresa que está procurando o parceiro certo para este tipo de serviço ou não sabem que existe e que é vantajoso para aliviar a pressão dos custos operacionais. Devemos lembrar que cada material reparado-placas-mãe, fontes, HDD, DVDRW e Placas de vídeo-contribuem para não agressão ao meio-ambiente, principalmente com metais pesados”.
FPCS
EDUARDO PC -“Todo tipo de empresa. Grandes, médias, pequenas e principalmente as grandes, pois a maioria possui equipamentos dedicados e uma intervenção para RMA não será aceita se ela vier a parar a produção. Por exemplo, usuários finais que preferem investir pouco pensam em reparar ao invés de partir para uma configuração nova. Neste caso, para as empresas, elas usam isso para aliviar a pressão no caixa, como disse, em relação ao imobilizado, principalmente quando se trata de computadores de aplicação específica e configuração mais simples. Muitas revendas de informática, grandes distribuidores e fabricantes se utilizam do reuso de materiais, pois cada material parado, principalmente quando são centenas de placas, às vezes até milhares, geram um custo absurdo e isso pesa no balanço/inventário no final do ano”.
FPCS – Qual o maior problema que faz com que as placas-mãe precisem de reparos?
EDUARDO PC -“Por incrível que pareça é a falta de conhecimento. Há também erro na montagem, gambiarras, mau uso, trilhas arrebentadas, trilhas com impacto, componente amassado… A maior vítima é mesmo o soquete LGA”.
FPCS – Quanto tempo leva pra ficar pronto o conserto de uma placa-mãe?
EDUARDO PC -“Varia de três a cinco dias, isso sem considerar a solicitação de atendimento de urgência. Em alguns casos onde ocorre a falta de peças-o que é uma exceção, na maioria das vezes o maior motivo da demora é mesmo a necessidade de internar para verificar intermitência ou para a pesquisa de solução de problemas de extrema complexidade. Essas são as razões mais comuns que podem levar a uma demora maior do que cinco dias”.
FPCS -O que não se consegue recuperar numa placa mãe?
EDUARDO PC -“Quase tudo pode ser consertado. São raros os casos onde o reparo é impossível, mas acontecem. A troca do Chipset tipo BGA é um dos casos onde o reparo torna-se inviável por ser muito caro. Já o banco DDR1/2/3, slot AGP e agora PCI Express facilmente podem ser reparados e a soldagem fica igual à de fabrica, pois todos os nossos processos são industriais, os mesmos utilizados nas centrais de reparos das grandes fábricas. Os nossos testes também seguem o mesmo padrão. A recuperação precisa estar cercada de todos os ensaios e para isso temos diversas estações destinadas a verificar o stress de materiais. Estes testes podem durar horas ou ate mesmo dias”.
FPCS
– Então jogar placa fora nunca?
EDUARDO PC – “Acho que jogar a placa fora é tremenda agressão ao meio ambiente. É mais interessante reparar e os materiais, caso sejam irrecuperáveis, nós juntamos e vendemos a quilo, pois já existem empresas aqui no Brasil que compram sucata e conseguem retirar o material sem poluir. É importante que as pessoas e os usuários de computador, bem como programadores e gerentes de TI sigam o seguinte raciocínio: O melhor é mesmo ter o pensamento de mudar para uma placa nova apenas se a atual não tiver mais conserto ou se um upgrade for realmente necessário. Reparar além de ser mais econômico ajuda a poluir menos o meio-ambiente”.
Segundo o Manual do Gerenciamento Integrado (IPT/CEMPRE, 1995), são produzidas diariamente no país cerca de 240 mil toneladas de lixo, das quais 90 mil são de origem domiciliar. A média nacional de produção de resíduos por habitante estaria em torno de 600 g/dia. Lojistas que trabalham com o conserto e comercialização dos equipamentos eletroeletrônicos usados, afirmam que para a grande maioria, não é interessante receber equipamentos de outros países (como vem acontecendo com países africanos), pois há bastante material para trabalho aqui mesmo, mas ressaltam que esse aumento poderia ajudar a impulsionar o mercado, pois ainda há muita gente que consome computadores usados.