Salão Duas Rodas: Idioma oficial, mandarim.
O Salão Duas Rodas, além de trazer muitas novidades, máquinas incríveis e lançamentos que prometem, mostrou uma faceta que nem todo mundo percebeu: A língua oficial do setor de Duas Rodas é o mandarim. Sim! O mandarim. Apesar de a China ser o país que mais fala a língua inglesa, os chineses sempre conversam em um dos seus inúmeros dialetos e, dentre eles, está o mais falado: o mandarim.
O fato despertou interesse quando estava eu tomando o café-da-manhã no hotel. Era cedo, mais ou menos umas 7 da manhã. Foi quando comecei a perceber que o único ocidental presente naquele lugar, no meio de uns 50 chineses, era eu (um rapaz latino americano e vindo do Ceará). Olhei no relógio. O primeiro ocidental a entrar no salão do café da manhã só chegou 17 minutos depois. Por todo este tempo eu apenas escutei o mandarim.
Eu me perguntei se isso também se refletiria no Salão Duas Rodas. Chegando lá fui dar uma analisada nos números e tive outra constatação. O Salão Duas Rodas é considerado um dos quatro maiores do mundo. Além de ser um sucesso de crítica é também sucesso de público. São 250 mil pessoas que passam por ele vindas de todos os estados brasileiros e de vários lugares do mundo. A maioria dos visitantes é composta de apaixonados por motos, mas existe o espaço focado em novas parcerias e novos negócios.
Para comportar todo mundo a organização criou o Pavilhão China, uma grande área do salão destinada apenas aos chineses que vieram aqui fazer negócios. E eram muitos. Analisando o mercado poucos são os fabricantes que não tem nenhuma parceria com a China. Se não me engane acho que apenas a MV Agusta, Harley-Davidson e a KTM não tem ainda parceria com os chineses, o restante tem (inclusive Benelli, BMW e Ducati). Do capacete a luva, do pneu ao motor, alguma coisa foi fabricada na China.
Que a China é a fábrica do mundo, disso todos sabemos.
Cerca de 40% do PIB da China é resultado de exportação. Eles consomem 40% de todo o aço do mundo e cerca de 50% de todo o cimento do planeta. A continuar nesse ritmo de crescimento a China vai precisar de outro planeta Terra para continuar crescendo. Mas enquanto esse momento não chega o Brasil, a ‘Fazenda do Mundo’ e pertencente ao Grupo dos BRICAs (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) vai vendendo comida e consumindo tecnologia, pois o ‘Shopping Center do Mundo’, os Estados Unidos, está, por enquanto, no SERASA.
A Europa, o ‘Museu do Mundo’, também passa por dificuldades e atualmente está no SPC. A situação deixou de estar ‘russa’ para virar ‘presente de grego’. Já a Ásia, com exceção do Japão que se recupera de dois desastres (um financeiro e outro natural), continua produzindo de tudo que é eletrônico, motorizado e por ai vai. Enquanto isso, o mundo assiste outra grande mudança: O Oriente Médio, o ‘Posto de Gasolina do Mundo’, e parte do Norte da África estão fechados em reformas e em breve deverão reabrir ‘sob nova direção’ em alguns países que compõem aquela região do mundo.A Revolução Amarela.
No meio desse tsunami mundial, a China se movimenta e está conseguindo conquistar o mundo de maneira bem mais inteligente que a utilizada pelos americanos. Os americanos atiram primeiro e perguntam depois. Os chineses, bem ao estilo de Sun Tsu, avançam e vencem sem lutar. Segundo um dos maiores generais e estrategista do mundo, “a Arte da Guerra está em vencer o adversário sem lutar.” E isso tem acontecido.
A China é hoje o maior credor do ‘Shopping Center do Mundo’ e ofereceu-se para pagar a dívida externa da Itália, desde que fosse reconhecida como economia de mercado. Os italianos que fazem parte do ‘Museu do Mundo’, e que estão a um cabelo da bancarrota, podem acabar cedendo e assim as portas da terra de Da Vinci estariam abertas ao Imperador Amarelo.
Com relação ao Brasil a China tornou-se o segundo maior vendedor de mercadorias ao mercado brasileiro, destronando a Argentina, em janeiro deste ano. A liderança segue com os Estados Unidos. Desde 1999, a entrada de produtos chineses no país cresce de forma acelerada e tornou-se mais intensa a partir de 2003.
O segmento das Duas Rodas já é dominado pelos chineses.
Cerca de 86% do mercado de motos no mundo compra motocicletas de cilindradas que vão de 50cc a 250cc e todas essas cilindradas são fabricadas na China seja através de joint-venture ou por outsourcing e isso não vai mudar. Produzir na China proporciona custos infinitamente menores. Digam o que quiserem, mas o que seria possível fazer para alimentar quase dois bilhões de bocas com apenas 10% das terras agricultáveis?
Os mais inteligentes e os mais bem dotados de massa cinzenta, são enviados aos milhares para aprender o modo ocidental de ser e como fazemos, vivemos e compramos. E se você pensa que os chineses são pouco inteligentes, vai ter que rever mais alguns conceitos: a China possui em superdotados de inteligência, o equivalente a toda a população dos Estados Unidos. Ou seja: uma América de superdotados. E eles não têm pressa. Avançam no tempo certo e com grande discrição, sempre sorrindo.
No segmento de quatro rodas os carros asiáticos começam a invadir nossas praias, ruas e avenidas, além do segmento de máquinas pesadas. Não demora muito e o segmento de quatro rodas vai acabar se rendendo ao avanço chinês, pois no segmento de duas rodas eles já dominam.
Para dominar o setor de quatro rodas, falta conquistarem apenas mais duas rodas. Acredite: não vai demorar.