Sete Galos contra uma Viúva Negra
O ano de 1986 já começou disputado entre Honda e Yamaha desde o seu início com o lançamento por parte da Honda da CBX 750 F, a primeira 750cc montada no Brasil. Sim, montada pois nada dessa moto tinha sido fabricado aqui ainda. A famosa Sete Galos vem da derivação de 7 + 50, 50 é galo no jogo do bicho, daí 7 galo.
A moto tinha motor de 4 tempos em 4 cilindros em linha e 747cc, refrigerada a ar e com DOHC – Duplo Comando de Válvulas no Cabeçote. Além disso vinha com 4 válvulas por cilindro com potência de 82 hp a 9500 rpm e torque de 6,5 kgfm a 8.000 rpm. O câmbio era de seis marchas, peso de 229 kg e tanque com capacidade de 22 litros. Do jeito que saia da fábrica a CBX 750 F era capaz de superar os 210km/h o que a tornava o veículo mais rápido a rodar no Brasil.
Foram produzidas apenas 700 unidades dessas motos a um preço equivalente a 10 mil dólares americanos, mas o ágio que se cobrava por tudo na época elevou o preço dessas motos para além dos 30 mil dólares.
No final do ano o curto reinado absoluto e solitário da CBX 750 F sofreu um duro golpe com a chegada da RD 350 LC que vinha com motor bicilíndrico de 347cc, refrigerado a água, cilindros paralelos com os sistemas Torque Induction e YPVS – Yamaha Power Valve System que estabilizava a curva de aceleração do motor. A potência da RD 350 LC era de 55hp a 9.000 rpm e torque de 4,74 kgfm a 9.000 rpm, chassi de duplo berço tubular e câmbio de seis marchas. Para parar essa coisinha não bastavam o duplo freio a disco na dianteira com acionamento hidráulico e um freio a disco na traseira, pois a moto era leve demais – apenas 176kg contra 229kg da Sete Galos. O tanque da moto era de 18 litros e o preço a tornou ainda mais popular: nada mais que 5,5 mil dólares americanos.
A guerra entre essas duas lendas no Brasil começava a tomar corpo. A Sete Galo pela potência e a confiabilidade de um motor 4 cilindros em linha. Do outro lado tínhamos a Viúva Negra com sua relação custo-benefício e peso-potência de tirar o fôlego e muitas vidas, pois a RD 350 LC matou muita gente em curvas. Em 1987 a Yamaha lançou a RD 350 com carenagem full e freios Showa, mas a fama de matadora não acabou por ai. A RD era muito rápida e passou a ser a praga a incomodar a Sete Galos quando a Honda fez a bobagem de lançar a CB 750 TR versão pelada e limpa de tecnologia, considerada por muitos como uma regressão em termos de tecnologia. Nesta versão, a RD que já era famosa e preferida passou também a incomodar a Honda nas pistas. Se a Viúva Negra continuava a fazer de pilotos suas vítimas, agora ela também estava detonando os concorrentes.
A RD é uma das motos mais apaixonantes. Ainda vale um bom dinheiro se em bom estado de conservação. A Sete Galo era um paixão. Assim começou a rivalidade que virou torcida no Brasil entre Honda e Yamaha. Estamos falando de um tempo que o Brasil vendia 166 mil motos por ano, que a Honda tinha apenas 62% do mercado e o Japão ainda fabricava motos para exportar para o mundo todo – cerca de 5.300.000 unidades no final de 1987.