Vida de TI: Pensar, cansa?
Ultimamente tem-se discutido bastante no meio jornalístico e tecnológico sobre a forma como as pessoas estão sendo submetidas a um avassalador volume de informações. Nunca antes na história da humanidade (ops, eu disse humanidade) se viu tanta informação, sobre tanta coisa, disponibilizada na Web praticamente em tempo real. Mas não é a qualidade ou a falta dela o maior problema, mas a forma como consumimos. Se levarmos em conta que somos bombardeados por publicidade, notícias, conversas e uma gama enorme de informações que somadas à pressão acaba conduzindo a um estado de cansaço mental e, o estresse contínuo, vai acabar resultando em fadiga mental.
Profissionais de tecnologia e outros que lidam com produção de informação que trabalham pressionando o cérebro ao extremo queixam-se diariamente de cansaço. Pode não parecer, mas o cérebro cansa. Mesmo com 86 bilhões de neurônios (Até então a ciência achava que tínhamos 100 bilhões, mas era um número aproximado, sem comprovação científica. A descoberta foi feita pelos neurocientistas brasileiros – 2009 – Suzana Herculano-Houzel e Robert Lent, da Universidade Federal do Rio de Janeiro-UFRJ) a nossa mente exaure e esgota. Semelhante a um computador o cérebro também trava.
Para C.P. (iniciais do nome para preservação da privacidade), Publicitária, os sintomas já se instalaram. Ela diz que “fora a confusão mental propriamente dita, tenho tido mais dores de cabeça, musculares e muita vontade de dormir. Muita mesmo. Parece que estou totalmente sem energia e sem vontade de fazer nada de concreto, a não ser entrar na internet para jogar papo fora, assistir desenhos infantis, ler revistas com assuntos que me prendem a atenção, mas que não exigem que tenha de pensar.” R.D. (iniciais do nome para preservação da privacidade), Professora, também se queixa dos mesmos sintomas. Ela afirma “ter vontade de ficar dormindo ou deitada o dia todo. Já estive no médico e não é depressão. Ele confirmou que é cansaço mental. Me disse para tirar férias. Mas ainda falta um ano para a tal.”
A neurocientista Suzana Herculano-Houzel, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), autora do livro “Fique de bem com o seu cérebro” (ed. Sextante) e do site “O cérebro nosso de cada dia” ( www.cerebronosso.bio.br ) afirma que o ato de pensar cansa. Para ela a “fadiga cerebral, em geral, tem relação com o acúmulo de adenosina”, moléculas que funcionam como mediadores químicos da comunicação neuronal, em resposta aos neurotransmissores que usam para trocar informações entre si. A fadiga mental não é apenas privilégio nosso. Ela faz parte muito frequentemente da vida das enfermeiras, e é provocada pela mudança de turnos. A afirmação é resultado de um estudo recente realizado com 12 enfermeiras que atuavam em diferentes turnos.
O professor de neurofisiologia da Universidade de São Paulo, Gilberto Xavierdestaca que o maior desafio do homem moderno é “conseguir lidar com a avalanche de bits, números, frases, gráficos, sons, tabelas, imagens e tudo mais que está presente na vida a todo momento.” Sem organização a situação se tornará ainda mais caótica terminando por evoluir para a fadiga cerebral aliada a ansiedade de informação. O termo “Ansiedade de Informação” foi criado pelo norte-americano Richard Saul Wurman, autor do livro homônimo, editado pela Cultura Editores Associados. Ana Maria Maaz Alvarez, fonoaudióloga especializada em memória e déficit de atenção,destaca que “as pessoas ficam angustiadas porque querem saber e fazer tudo ao mesmo tempo, o que é fisiologicamente impossível”.
Mas que sintomas sentem as pessoas mentalmente fadigadas? Vamos a alguns mais comuns. São eles a canseira inexplicável, sono infinito, confusão mental, perda de memória e pequenos esquecimentos são tidos como o início de uma fadiga mental.Eu aprendi a dosar isso e a monitorar sintomas de cansaço mental para evitar a fadiga. Quando eu começo a achar que saí e não fechei a porta, que não encontro a chave da moto e nem sei onde a coloquei (às vezes e quase sempre está no pescoço ou em algum bolso da jaqueta, isso quando não esqueço na moto); quando coloco a água para ferver e esqueço-me dela no fogo… o aviso é claro-hora de dar uma parada. Alguns erram caminhos, esquecem datas importantes (aniversários de filhos, esposa, pais); outros deixam o celular por ai, etc. A fadiga é comumente associada a uma possível depressão, mas na maioria das vezes não se configura como tal. Relaxe.
A irritabilidade é outro sintoma. Existem pessoas que não funcionam bem logo que acordam e precisam de um tempo ainda para pegar e aqui existem vários fatores. Pessoas que tem o chamado sono fraco ou apneia noturna não conseguem atingir o reparador sono profundo que é o que descansa o cérebro e por isso acordam mal-humoradas. Um dos comportamentos que apontam para um possível início de cansaço mental é o inseparável telefone (celular ou não). Quando ele toca é comum ver a face das pessoas mudarem para de mal a pior e, basta uma frase mal colocada da parte que está do outro lado do telefone, para que o bicho pegue! Geralmente essas pessoas não são mal-humoradas, elas estão mal-humoradas por conta do cansaço mental ou da fadiga mental.
A ciência explica: Ao iniciar outra atividade (sem ter concluído a anterior), o cérebro terá que se reconectar formando um novo circuito. Renato Sabattini, neurocientista da Unicamp afirma que “esse vai-e-vem, que é muito desgastante e pode causar lapsos de memória”. O neurologista Paulo Bertolucci, da Unifesp complementa: “Daí, alia-se à interrupção dos circuitos cerebrais o fator irritação, o que potencializa o desgaste”. A ciência descobriu que os neurônios são suscetíveis à fadiga, mas ainda não descobriram como eles ficam cansados e o que especificamente causa essa fadiga neuronial. A neurocientista Herculano-Housel afirma que “um indício disso é a sonolência”. Um fator que agrava o problema é a liberação de cortecosterona – hormônio que mata alguns neurônios – associado a um quadro de estresse. Antes os mais afetados por isso era quem trabalhava na Bolsa de Valores e os operadores de voo-que por conta disso, aposentam-se mais cedo. Recentemente descobriu-se que profissionais de TI, principalmente programadores, passaram a integrar a lista dos que estão mais propensos a sofrerem de fadiga mental. Jamilton Camilo, 45 anos, gerente de telecomunicações destaca que fica “bastante ansioso para tentar ir atrás de tudo, para ficar atualizado. Mas não é fácil lidar com o volume e a velocidade das informações”. Eliza Levy, 45 anos, pedagoga, declara que fica “o dia inteiro ligada” no que acontece e assume que é “completamente viciada nos sites que trazem as últimas notícias”. Ela olha o plantão de notícias mais de 30 vezes por dia. Segundo Eliza, “isso domina a gente, essa necessidade de saber tudo todo o tempo”.
Uma boa notícia é que não há nenhuma relação da fadiga e do cansaço mental com doenças cerebrais degenerativas.O neurologista Eduardo Carlos Silva, do Instituto do Cérebro e da Coluna de Rio Preto fornece algumas dicas interessantes para evitar cansar o cérebro:
– Programe um descanso regular a cada 60 minutos entre uma atividade intelectual e outra.
– Faça alongamento, relaxamento, ou uma atividade diversa da que está sendo realizada.
– Tenha uma programação agendada, com as atividades diárias, definindo metas e prioridades e realize sempre a atividade mais importante para que não venha a se tornar urgente.
– Cultue uma vida saudável, com atividade física regular, alimentação balanceada e nutritiva, sem fumo ou drogas.
– Beba pouco álcool (aqui é a parte chata), durma bem e procure ter períodos de descanso e relaxamento no decorrer do dia.
– Pare com a atividade que desencadeou o cansaço. Faça algo diferente que estimule o hemisfério direito. Uma boa dica é ouvir música relaxante, tocar um instrumento ou artesanato. Ajuda também ter contato com natureza, animais, fazer atividade física, ioga, tai chi chuan, meditação.
– E se você tem moto, uma voltinha em uma estrada tranquila e bonita ajuda muito (dica minha, ehehe).
Em um ponto todos os neurologistas, psiquiatras e pesquisadores que lidam com o tema condordam: Para manter seu cérebro em forma a receita é usá-lo! Um computador com o uso excessivo só piora, mas cérebros bem trabalhados são os mais saudáveis e capazes. Então leia muito , pois segundo os especialistas “ler exige o uso de todo o seu banco de dados, maior raciocínio emais projeção para o futuro”.Por fim, aprenda coisas novas, cultive relacionamentos, faça aquilo que lhe dá prazer, durma muito bem e bem muito e, exercite-se fisicamente. E acima de tudo: tenha uma atitude positiva, pois o pessimismo e o mau-humor são aceleradores da fadiga mental.
E a propósito – desligue o celular, o computador e se puder deixe o smartphone (telefone esperto, como diz o Mestre Piropo) em casa-de preferência use outro que só serve mesmo como telefone e que apenas as pessoas mais íntimas possuem o número! Equilíbrio, sem peso na consciência, é a chave, pois pensar cansa. E muito! E por falar nisso, acho que tá na hora de tomar um café. Fui!