Z 1300 – A seis cilindros da Kawasaki nas Clássicas do Otoch
Numa época em que os fabricantes japoneses estavam dominados pelos “excessos” e cresciam sem parar em relação a ganho de mercado, novas tecnologias e, não menos importante, em tamanhos de motores, a Kawasaki decide entrar de cabeça nesta “brincadeira” e apresenta a Z 1300, uma moto incrivelmente linda e que, de quebra, era a mais potente moto fabricada em série lançada em sua época!
Na década de 70 a Honda já tinha uma boa fatia do mercado com motos potentes e confiáveis de quatro cilindros e em 1978 ela lança no mercado a CBX 1000, sua aposta com seis cilindros e 102 cv de potência. Neste mesmo tempo, a Kawasaki também já vinha trabalhando em sua “seis”, e em setembro do mesmo ano apresenta a Z1300, mas somente como protótipo, no tradicional Salão de Colônia. Dois meses depois a fabricante de Kobe (Japão) anuncia que sua gigante começará a ser vendida! A Z 1300 era apresentada à imprensa e ao público em Malta (Europa) e na Califórnia (EUA), onde logo se tornou uma febre entre os motociclistas estradeiros! Todos ficaram apaixonados pela pintura azul escura em detalhes dourados (cor única do modelo de lançamento em 1979), adornada pelos seus escapes 6 x 2 (três coletores se encontram em uma ponteira de escape na esquerda e outros três em outra ponteira na lateral direita) e por seu grande motor com linhas retas.
A eterna paixão do Fahad
Um dos que foram seduzidos na época foi o meu tio Fahad, que teve uma nos anos 80 quando morava nos EUA, e até hoje é apaixonado por esta máquina! “Eu não entendo o por quê de as motos de hoje não terem um acionador de seta com desligamento automático controlado pelo ângulo de inclinação e nem o Cruise control se naquela época a minha Z1300 já tinha. Eu sei que é burocracia demais pra importar, mas um dia ainda quero trazer uma pro Brasil igualzinha a que tive”, sempre diz ele quando fala orgulhoso da sua ex-moto!
Com quase 239 cilindradas a mais que a Honda CBX 1000, sua maior concorrente seis cilindros da época, essa pioneira das “musclebikes” gerava 120cv de potência, alimentada por três carburadores duplos Mikuni. Para aguentar o “tranco” das suas 1.286 cilindradas reais na roda traseira, a Z 1300 teve que ser equipada com transmissão por eixo cardã, já que com a tecnologia da época não haviam muitas correntes nem correias dentadas que suportassem tanta força!
Assustadores seis cilindros transversais
Como a Kawasaki decidiu que além de uma grande cilindrada a moto teria seis cilindros, seu motor ficaria excessivamente grande, o que limitaria o ângulo nas curvas e aumentaria ainda mais o peso, que já é de 297 kg (seco). Pra resolver este problema, resolveram adotar o arrefecimento líquido com um radiador fixado nas traves dianteiras do quadro. Assim, as aletas de arrefecimento a ar foram retiradas, deixando o motor com linhas “lisas”, tornando-a diferente de todas as suas concorrentes em visual, desempenho e tecnologia. Mesmo com seus seis cilindros super equilibrados, que rodam praticamente sem vibrações, a ciclística da moto e os freios não estavam à altura do motor, que podia chegar fácil aos 215 km/h de fábrica, sem qualquer alteração! Só quem pilota motos em estrada é capaz de imaginar o que uma pessoa se esforçaria pra se segurar em uma moto sem carenagem, com um grupo de seis cilindros transversais fazendo uma verdadeira “parede” barrando o vento que a atinge de frente… Chega a ser assustador!
Toca-fitas k7 na versão Voyager
No decorrer dos anos ela foi sofrendo alterações pra melhorar este desempenho, como as suspensões que em 1981 receberam sistema de regulagem a gás na traseira e dianteira e, em 1983, a Z 1300 foi equipada com injeção eletrônica de combustível, o que fez com que a moto ficasse mais econômica (um de seus grande problemas era ser “beberrona” demais) e ainda lhe rendeu de quebra mais 10cv de potência! No mesmo ano entrou em linha a versão Voyager, com carenagem frontal, parabrisa alto, alforjes laterais, top case com encosto em espuma para garupa, painel digital com computador de bordo para cálculos de viagem e consumo de combustível, rádio com um moderno tocador de fita cassete (que é um dispositivo de áudio baseado em gravação por fita magnética, algo totalmente extinto e desconhecido por boa parte da “geração mp3”!), enfim, tudo o que é necessário pra cruzar um continente confortavelmente em cima de uma moto e em grande estilo.
Mesmo com uma grande legião de seguidores fiéis e com todos seus atributos tecnológicos somado à beleza de suas linhas, seu preço acabava sendo bem salgado, e isso querendo ou não acabou prejudicando a “seis”. Com cerca de 20 mil unidade do modelo Z 1300 produzidas e mais 4,5 mil Voyagers, no seu aniversário de dez anos, em 1989, a “Six Legendary” (como ficou conhecida por seus fãs) deixava de ser produzida. Ela pode ter saído de produção em uma vida relativamente curta, mas até hoje tem uma verdadeira comunidade espalhada pelo mundo todo de admiradores e donos que não vendem suas “Z seis” por dinheiro nenhum neste mundo!
“Pra quê um motor tão grande?”
Muitos leitores poderiam achar exagero demais uma moto com motor tão grande e com tantos cilindros. “Pra quê um motor tão grande?”; “Isso é perigoso!”; “Você vai acabar morrendo”; Esses são comentários muito comuns que nós, apaixonados por isso tudo, ouvimos constantemente. E eles são feitos quase que exclusivamente por pessoas que não pilotam motos. Dizer que a moto tem uma grande potência não quer dizer que você vai usar esta força extra toda vida que for pilotá-la. Tem a ver com o som, com o design, com a tecnologia, com o conforto de uma moto sólida em uma viagem com sua esposa, com a necessidade de um “motorzinho” a mais pra ultrapassar aquele caminhão que está à sua frente fazendo de você um frágil sanduíche com o outro que vem atrás. Muita gente pensa que todo mundo que gosta de motor grande é um louco desvairado querendo ser um Valentino Rossi nas estradas! Que tem gente irresponsável em cima de uma moto grande, nós sabemos que tem, mas são uma pequena minoria. Tem também irresponsáveis colocando a vida em risco em seus carros potentes nas rodovias o tempo todo (tenho até uma certa aversão a Hilux e seus donos quando estou na estrada viajando de moto ou de carro por causa das constantes quebras de leis e falta de respeito por parte destes! Mas só pra ressaltar, não de todos, óbvio)! Quando me perguntam (e não são poucas vezes): “e você usa toda a potência dessa sua moto na rua?”, eu respondo: “Não, por quê? Você usa a potência toda do seu carro?”. Creio que pouquíssimas pessoas já fizeram isso alguma vez na vida, tanto com motos quanto com carros. Mas como a moto grande é bem mais exótica, misteriosa e sedutora, ela nunca passa desapercebida. E chama a atenção também até de pessoas que não costumam reparar em motocicletas no seu dia-a-dia. Estes geralmente são tomados por uma espécie de sentimentos de “amor e ódio”, “medo e sedução”. Mas no meu caso em particular, só amor e sedução, claro! E muito!