O falho processo de educação para o trânsito
Por Anna Maria Garcia Prediger
Hoje temos que, para nos habilitar em veículos automotores e ciclomotorizados, passar por um processo burocrático de habilitação. Neste processo, é obrigatório ao candidato passar por três etapas: 1ª – Exame Psicológico e Exame Médico; 2ª – Aulas de legislação separadas em 5 módulos, que completam 45h aulas (50 minutos cada hora aula), e exame de legislação; 3ª – Aulas de direção e 25h aulas práticas de carro, e 20 h aulas práticas de moto, finalizando com o exame prático de direção veicular. A questão é, será que esse processo burocrático e dispendioso, e por muitos, visto como demorado, é realmente eficaz?
Vamos analisar o exame psicológico. O candidato já sabe as respostas que tem que dar a um profissional, que irá ou não te aprovar, por exemplo, se o mesmo perguntar se ingere bebidas alcoólicas ou drogas, e se você usaria e assumiria a direção, ou como você responderia em uma situação inesperada de alguém te buzinar para você ou te provocar no trânsito, então, podemos dizer que este exame, ajuda sim, mas não é isso que vai fazer com que pessoas despreparadas psicologicamente, estejam preparadas para o dia a dia no trânsito.
Na segunda etapa, o instrutor das aulas teóricas deve ensinar ao futuro condutor, os cuidados no trânsito, a direção preventiva (e defensiva), as normas de circulação e a sinalização. Será que essa etapa do processo é eficaz? Primeiro podemos observar por relatos de diversas pessoas, que fizeram aulas teóricas com instrutores que passavam filmes que nada têm a ver com o processo em si, ou então que até mesmo, faziam piqueniques em sala, ao invés de focar no que é importante, no mínimo, que seria para a prova, sem contar nos lugares que o aluno faz a digital e vai embora, ou dorme durante as aulas ou não larga o celular.
Eu, como instrutora, não admito que isso ocorra, e já questiono o aluno sobre algo referente ao que acabei de dizer, eles SEMPRE erram, e então digo para que guarde o celular e aprenda um pouco. Eu tenho que ensinar o aluno a ser um bom condutor, e a passar na prova, e uma coisa, infelizmente, não está atrelada a outra. Como exemplo, posso citar as questões que caem na prova teórica aqui no DETRAN/PR, como por exemplo: O que significa a placa A-42a: a resposta deveria ser que “a via de mão dupla, passará a ser separada por um canteiro central”, porém a resposta é “início de pista dupla”, que é o nome da placa. Agora a questão é, quando que o condutor tem que saber o NOME e não o que realmente ele deve fazer quando avistar uma placa como essa. O candidato tem que saber que não pode passar da velocidade da via, pois caso contrário, poderá ser multado, e não que a física irá trabalhar se ele não respeitar, e que se ele estiver 10 km acima da velocidade via, a chance de acidentes aumenta em torno de 30%, pelas leis da física. Ele tem que saber que neste caso, será multado com multa média, e não que em caso de atropelamento, a chance de morte aumenta em mais que o dobro, no caso de 30 para 40 km por hora, aumenta em 5x a chance de morte.
Na prática, não fica muito longe disso. O exame cobra que o aluno fique no máximo na terceira marcha, e o mesmo tem que andar com o carro no canto da via, bem perto do bordo da pista, sendo que no dia a dia, o mais correto é andar no centro da faixa. O DETRAN, porém, não cobra que o candidato não mude de faixa quando tiver uma faixa contínua, muitos instrutores práticos NEM SABEM disso, pelos vícios que o processo os investe.
Ainda temos muito o que melhorar em nosso processo de habilitação, e certamente não será o simulador que irá realmente nos ajudar com isso. Precisamos que quem faz as cobranças nos exames, repense e reformule o que é cobrado, para termos condutores realmente conscientes, e principalmente, preparados tecnicamente, para o trânsito.