As Clássicas do Otoch: R90S, A primeira superbike do mercado
Até 1968 as motos da BMW, que já haviam sido as melhores do mundo no começo do século, estavam há um bom tempo sendo consideradas motos ultrapassadas pela falta de atualização em design e principalmente em mecânica, que era exatamente as características principais procuradas pelos consumidores daquela época. No pós-guerra as motos foram muito apreciadas por se tratar de um meio de transporte barato e prático, mas na década de 60 com a economia mundial já bem mais estável e em crescimento e com consumidores já tendo dinheiro para comprar carros (que eram transportes mais seguros, mais limpos no sentido literal, já que as motos daquela época vazavam óleo para todos os lados, sempre manchando as calças de seus condutores) que transportavam toda a família, o público motociclista já não usava a moto por necessidade, mas sim por prazer. E naturalmente, os consumidores se tornaram mais exigentes, procurando motos com desempenho e visual cada vez mais inovadores e modernos.
Enquanto as outras fabricantes se atualizavam constantemente, a BMW com seus motores de 294cc, 494cc e 594cc já não chegavam nem perto em termos de tecnologia e potência das concorrentes, não passando dos 41cv, enquanto as Honda, Kawasaki e até a inglesa Triumph estavam entre 60 e 70 cavalos de potência na mesma época.
Em 1969 a BMW muda de postura e lança a primeira moto de seu line-up que começaria a luta por um mercado de clientes mais recreativos colocando em linha R75/5, com 750cc e mudanças drásticas em relação a todos os modelos anteriores da marca como a substituição dos tradicionais garfos “Earles” usados até então por garfos telescópicos, sistemas de óleo de alta pressão e um novo sistema elétrico de 12V e 200w, o que possibilitou a adoção de partida elétrica. Outro fator não menos importante: a adoção de novas cores disponíveis, e não mais apenas o tradicional preto (que continuava disponível para seus clientes mais puristas, claro). Começa aí uma nítida mudança de postura da montadora.
Mesmo com todas essas mudanças, as vendas ainda não foram as esperadas pela fabricante, ainda deixando os lucros abaixo do esperado. A nova moto tinha uma pegada mais agressiva do que todas suas antecessoras, mas ainda não era o suficiente para colocara BMW como uma marca realmente esportiva. A fabricação de motos BMW só não eram encerradas por causa dos lucros com a produção de carros. Mesmo sem atingir os números esperados, as motocicletas sempre foram a paixão da marca Alemã e longe de tirá-las de linha, a BMW resolveu investir mais ainda e criar um moto realmente competitiva. Ela responde rápido e em 1974 faz mudanças mais drásticas ainda no novo modelo, criando então a radical R90S.
Tomando como base a R75/5, o projeto sofreu diversas alterações pra se tornar a futura nova R90S. O chassi foi reforçado; o diâmetro do pistão foi ampliado de 82mm para exatos 90mm com curso permanecendo em 70,6mm (chegando a exatas 898,28cc); o freio dianteiro a tambor foi substituído por um par de discos muito mais eficientes; foram implementados dois carburadores Dell’Orto; o painel ganhou um voltímetro e um relógio, dentre diversas outras melhorias. Agora com uma moto de 67cv de potência, a nova BMW faz de 0 a 100km/h em 4,8 segundos, se tornando a primeira moto realmente de alto desempenho da marca. E pra “fechar” com chave de ouro a moto é equipada com uma semi-carenagem de farol que envolve todo o painel de instrumentos, se tornando a primeira motocicleta a vim com este acessório de fábrica. Protegendo o piloto contra o vento e atingindo velocidade final de 200 Km/h, agora sim, em 1974 a marca bávara tem uma verdadeira superbike.
E não é só isso: ela se torna a moto de corrida mais moderna e completa de sua época. Mesmo com um preço mais alto do que as concorrentes japonesas, a R90S se torna um verdadeiro sucesso de vendas, chegando a serem fabricados 17.378 modelos que na época (1974) custavam cerca de US$ 3.500. As primeiras versões estavam disponíveis l nas cores preta com prata e laranja com branco (“Silver Smoke” e “Daytona Orange” são os nomes originais das cores) sendo esta última a que definitivamente ganhou meu coração!
O sucesso não se deu apenas por números de vendas e/ou desempenho, mas também por várias conquistas vitoriosas nas pistas do mundo inteiro. Apenas um ano após seu lançamento, em 1975, o piloto Humbert Rigal venceu o Tour de France a bordo de uma R90S. No ano seguinte, em 1976, AMA (American Motorcyclist Association) inaugurou um novo campeonato na categoria fabricantes nos EUA e o piloto inglês Reg Pridmore, patrocinado pela importadora norte-americana da BMW “Butler & Smith” também sagrou-se campeão no fim da temporada pilotando uma R90S. Seu companheiro de equipe, o americano Steve McLaughlin (também pilotando uma R90S) terminou o campeonato em segundo lugar. A BMW não foi só a primeira campeã da história do Superbike, mas também a primeira vice-campeã do campeonato que na época ocorria apenas nos Estados Unidos. Ele só se torna um campeonato mundial em 1988. (Uma curiosidade: na primeira corrida da temporada, o locutor chegou a anunciar Pridmore como vencedor, mas uma câmera de alta velocidade na linha de chegada confirmou a vitória de Steve McLaughlin. Eles disputaram toda a corrida “roda-a-roda” até o fim. Na verdade não só a primeira corrida, mas todo o campeonato, provando que as novas motos BMW não estavam pra brincadeira).
No mesmo ano o piloto alemão Helmut Dahne também subiu no degrau mais alto do pódio ao comando de uma R90S no TT da Ilha de Man, uma das corridas de rua mais perigosas e mais importantes de todos os tempos (até hoje!).
O modelo saiu de linha em 1976, mas não pela falta de sucesso, mas sim para dar um passo a mais em desempenho sofrendo algumas alterações que resultaram em sua sucessora: a R100S. Se hoje a BMW é conhecida hoje por suas motos rápidas, seguras e eletronicamente mais modernas do que qualquer outra do mercado, tudo começou com a R90S, que deu o gostinho da vitória à marca bávara e da adrenalina da velocidade aos seus fãs.