Selo PROCEL – Você assiste TV em modo stand by?
Assim que abordamos o problema do delay que acabou virando um assunto debatido e replicado em vários sites e blogs Brasil a fora o problema com as televisões ainda não acabou. Apresentada ao mundo em abril de 1939 a TV ainda tem mais problemas. Um leitor (Nadu_Rezende) me enviou por e-mail a informação de que a classificação do Selo PROCEL para aparelhos com maior eficiência de energia é fornecido para televisores que tem seu consumo medido em ‘stand by’. Aí eu chamei Seu Lunga (lembram-se dele?) e depois de traduzir o que era ‘stand by’ (aquela luzinha vermelha que fica acesa quando você desliga a TV no controle remoto e não tira da tomada) ele me fez a seguinte pergunta – “Mas, macho velho, quem consegue assistir TV apagada!” Seu Lunga (eu disse Seu Lunga e não Seu Dunga), na sua sabedoria de homem do interior, está certo! Quem assiste TV em stand by? Mas é realmente assim que o consumo das TVs é medido e é assim que recebe o selo PROCEL.
Enviei e-mail a Eletrobrás solicitando maiores informações, mas até o fechamento desta coluna não tive nenhuma resposta. Na minha dúvida questionei o formato de medição, pois existem dois tipos de consumo – o consumo em ‘stand by’ e o ‘consumo em operação’ (que é quando você está assistindo a TV). Hoje vamos mergulhar nesse assunto. Semana que vem vamos tratar de como medir corretamente o tamanho da tela da sua TV e por último – ‘como economizar até 40% de energia em casa’ mexendo apenas na sala e na cozinha (ficou curioso?).
Mas vamos ao nosso assunto desta semana. Antes eu preciso inseri-los na história do selo. O Selo PROCEL, instituído através de Decreto Presidencial de 08 de dezembro de 1993, foi desenvolvido e é concedido pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica – PROCEL. O Selo PROCEL tem por objetivo “orientar o consumidor no ato da compra, indicando os produtos que apresentam os melhores níveis de eficiência energética dentro de cada categoria.” Certo… Mas não é bem assim quando o assunto é TV.
O Selo PROCEL é concedido anualmente aos equipamentos que apresentam os melhores índices de eficiência energética, normalmente caracterizados pela faixa ‘A’ da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia – ENCE, dentro das suas categorias e que tem por objetivo informar o consumo de energia e / ou eficiência energética de um equipamento. Seu uso está subordinado à autorização pelo INMETRO. Para você ficar Por dentro de tudo sobre Selo PROCEL é importante que fique sabendo quem compõe a Comissão de Análise Técnica: A Comissão é composta pela PROCEL, na condição de Coordenador; Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – INMETRO; Representante(s) dos Laboratórios de Ensaios; Representante(s) dos Consumidores, sendo atualmente o Instituto de Defesa do Consumidor – IDEC; Associações de fabricantes nacionais com produtos contemplados com o Selo PROCEL, sendo atualmente a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica – ABINEE; Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletro-Eletrônicos – ELETROS; Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento – ABRAVA e a Associação Brasileira da Indústria de Iluminação – ABILUX.
Bom, agora que você sabe que existe tanta gente envolvida para fornecer o Selo Procel, vamos ao que você ainda não sabe. O Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) questionou os fabricantes de televisores de tubo convencionais e de tela plana, plasma e LCD em relação ao consumo de energia. Segundo o IDEC em stand by todos os modelos já estão dentro dos níveis internacionais de consumo, ou seja – abaixo de 1W. Em uso, o consumo de energia varia mais. De acordo com o IDEC, dentre os televisores menores, de 20”, o que gasta menos seria um modelo convencional da CCE. Ainda de acordo com o Instituto, a Semp Toshiba enviou informações sobre o modelo convencional mais econômico, de 29”. Apesar desse modelo ser o que consome maior quantidade de energia quando está no modo de espera, é o mais econômico quando ligado. Entre os modelos com tela em formato LCD, os mais econômicos no modo stand by seriam os da Philips (até 0,16 W). Em funcionamento, o melhor é o da Sony de 40″, que gasta 105 W. A TV que mais consumiria energia no modo de espera seria a de 42″ da Semp Toshiba, mesmo esse aparelho tendo um consumo bem próximo do ideal, que é de menos de 1 W. Vale destacar que a Semp Toshiba foi a única fabricante que enviou dados de uma TV de plasma.
Para entender um pouco mais sobre essa medição é importante saber que o selo tem quatro categorias: A, B, C e D. Na categoria ‘A’ ficam apenas os aparelhos com consumo menor ou igual a 1 W em stand by. Acontece que ninguém assiste TV em stand by e há uma grande diferença entre a relação de consumo delas em stand by e em modo de uso (ligadas, exibindo imagens e reproduzindo som). Os gastos dos novos televisores sempre serão menores em stand by, mas o que o consumidor não sabe é que aparelhos que são econômicos em modo stand by podem ser responsáveis por uma conta de energia mais alta. Ainda segundo o IDEC em um estudo realizado ainda em 2001, Antonio Mendes da Silva Filho, professor da Universidade Católica de Pernambuco, constatou que os televisores vendidos à época tinham um gasto de energia no modo de espera que variava de 1 W a 22 W.
Para se ter uma ideia, o modo de stand by, ou modo de espera, são os responsáveis por nada menos que cerca de 15% do gasto de energia de uma residência (dados do IDEC), e estão em todos os eletrônicos que se possa imaginar e vão desde televisões, DVDs, microondas chegando às máquinas de lavar roupa.
Entenda como calcular esse consumo:
Tabela de referência de consumo médio (em Watts)
de equipamentos elétricos e eletrônicos
Alarme | 30 |
Aparelho de som pequeno | 20 |
Bomba d’água | 300 |
Cadeira odontológica | 730 |
Central de vigilância | 150 |
Computador | 200 |
DVD player | 12 |
Exaustor para fogão | 170 |
Fax | 100 |
Forno de microondas | 1200 |
Freezer | 400 |
Geladeira | 200 |
Geladeira duplex | 300 |
Impressora jato de tinta | 20 |
Impressora laser | 360 |
Impressora matricial | 200 |
Lâmpada fluorescente 20w | 20 |
Lâmpada fluorescente 40w | 40 |
Lâmpada incandescente 100w | 100 |
Lâmpada incandescente 60w | 60 |
Lavadora de roupas | 1200 |
Liquidificador | 300 |
Microsystem | 150 |
Monitor 15” | 65 |
Monitor 15” LCD | 25 |
Monitor 17” | 80 |
Monitor 17” LCD | 35 |
Notebook / Laptop | 45 |
Portão automático | 400 |
Projetor | 200 |
Rádio-relógio | 2 |
Scanner | 20 |
Secadora de roupas | 3500 |
Telefone sem fio | 5 |
TV 14” | 70 |
TV 20” | 90 |
Ventilador | 120 |
O resultado dessa medição de consumo por stand by é que, segundo o Inmetro, cerca de 73,02% dos televisores avaliados em stand by receberam o selo categoria ‘A’. De acordo com uma diretriz orientativa constante no Regulamento do Selo PROCEL de Economia de Energia; Revisão – I, datada de 26/09/2005; produzido pela ELETROBRÁS/PROCEL, sob a responsabilidade do DPS – Departamento de Planejamento e Estudos de Conservação de Energia, o SELO PROCEL “deve ser concedido, após um período de implantação ou revisão de índices, ao grupo máximo de 25% de produtos mais eficientes em cada categoria.” Acontece que este índice é de 73,02%. Deve ter algum engano.
Em resumo, pelo que vimos, a relação de consumo em stand by não deveria ser o parâmetro único para conceder o Selo PROCEL por três motivos:
1 – Ninguém assiste TV em stand by.
2 – O consumo das TVs em relação ao consumo em stand-by pode variar absurdamente. O correto seria realizar uma medição desta relação de consumo tanto em stand by como em uso.
3 – Essa medida se torna imprecisa se a pessoa desliga a TV da tomada e nunca a deixa em stand by. Se esta mesma pessoa apenas liga a TV quando vai assistir, ainda assim poderá haver uma grande diferença na conta de luz do mês, caso a TV em questão, tenha um consumo elevado quando em uso. Essa conta piora ainda mais se as duas coisas acontecem – a TV sempre fica no modo stand by e ainda temos incluído o consumo quando em uso.
Enfim, este modelo deveria ser mais bem aperfeiçoado para que tenhamos uma melhor avaliação do desempenho das TVs no que se refere a consumo e uma nova medida deveria ser considerada inclusive para concessão do Selo PROCEL.
Pelo Mundo – como são avaliados os desempenhos?
Apesar desses questionamentos o Brasil foi pioneiro em informar ao consumidor o gasto de energia em stand-by – tanto para aparelhos de baixo consumo (1W ou menos) quanto para os que mais consomem energia. Nos Estados Unidos e Austrália, existe o selo Energy Star, que é concedido aos aparelhos com potência menor ou igual a 1W em modo de espera. Porém, lá, os produtos que gastam mais do que isso não trazem nenhuma informação. Na União Européia, também há projetos nesse sentido, mas só a partir de 2015 deverão implementar como medida obrigatória de 1 W de consumo em stand by. Por enquanto, os aparelhos não recebem selos informando o gasto de energia em stand by.
Estados Unidos, Canadá e Austrália buscam uma maior eficiência energética além do uso de fontes de energia renováveis, mas também no consumo eficiente dos aparelhos. Acontece que no Brasil, a Lei nº 10.295, de 2001, que dispõe sobre a Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia, é completamente omissa quanto à questão do consumo no modo stand by. Ou seja: está feita a confusão.
A maioria de nós sabe que a vida útil da maioria dos aparelhos acaba sendo reduzida quando ligados e desligados com frequência, mas não será por isso que você vai manter seu aparelho ligado o dia todo sem ninguém assistindo. Enquanto isso, para economizar na conta de luz fica a sugestão abaixo:
- Escolha aparelhos com botão liga-desliga e não apenas aqueles que deixam sempre os aparelhos em stand by.
- Desconecte os aparelhos da tomada quando não for usá-los por um período considerável de tempo. Tipo: o dia todo.
- Use extensões, réguas ou filtros de linha com interruptor. Eles facilitam o trabalho, de desligar, com um comando só, todos os equipamentos nele plugados.
- Procure saber quanto seus aparelhos consomem de energia, no modo stand by.
A propósito: eu consegui, com a ajuda do radinho de pilha, gritar gol antes de todo mundo no prédio, tamanho é o delay. Como assisti em casa – o porteiro veio me perguntar como eu “gritava gol antes de todo mundo?” E aí eu expliquei… Então ele comprou um radinho, mesmo tendo TV na portaria. O resto vocês sabem.